| Foto: Ilustração: Felipe Lima
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Em 2012, Rafael Greca (DEM) voltou a disputar uma eleição depois de um tempo afastado da vida política. Filiado ao MDB ele se candidatou à prefeitura de Curitiba com o apoio de Roberto Requião, então senador. Com um partido que perdera espaço na capital e uma campanha sem muita estrutura, Greca obteve 10% dos votos. Ficou atrás de Gustavo Fruet (PDT), Ratinho Junior, então no PSC, e Luciano Ducci (PSB). O resultado, honestamente, não foi dos piores.

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Olhando em retrospecto, o que parece ter dado alguma força à campanha de Greca foi sua afiada retórica – que teve ares de novidade para os eleitores mais novos e saudosismo para os mais velhos – e um punhado de asfalto que o então candidato retirou de uma pavimentação tão mal feita que ele partiu com a mão como quem parte um pedaço de pão. Esse vídeo improvisado virou a mais bem-sucedida peça de campanha em 2012.

Oito anos depois, após ter sido eleito em 2016, Rafael Greca disputa a reeleição à prefeitura de Curitiba exatamente com as mesmas armas: o discurso e o asfalto.

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A história política da capital ajuda a entender porque esses dois pontos são tão importantes na campanha de Greca. Curitiba tem uma longa tradição de prefeitos de perfil mais gerencial. São gestores dedicados a obras, intervenções urbanas e monumentos: de Ivo Arzua a Luciano Ducci o perfil era similar, com mudanças nos mandatos de Requião e Maurício Fruet.

Em 2012, Gustavo Fruet entrou na disputa retomando o discurso do pai, uma postura democrático-participativa e atenta às obrigações sociais da gestão municipal. Como em toda campanha, apresenta-se uma proposta criticando a do adversário. Daí surge um conjunto de ideias que parece ter norteado a gestão de Fruet: governar não é só asfaltar; a cidade não pode continuar sendo maquiada tendo tantos problemas graves; e Curitiba precisa se dedicar sobretudo à educação.

Acontece que enquanto Fruet concentrava esforços em aumentar para 30% o orçamento da educação municipal, Curitiba foi assolada pela crise econômica brasileira de 2014. O cobertor, então, ficou curto e o prefeito decidiu puxá-lo para o lado social – deixando descobertas áreas em que a cidade estava acostumada com um volume maior de recursos.

Em 2016, nas eleições, Fruet apresentava com orgulho a nota da cidade no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica enquanto Greca apontava mato nas praças e buracos nas ruas. No debate sempre apressado das eleições, Greca triunfou. Quando assumiu a gestão, o atual prefeito da cidade sabia que não poderia falhar justamente nos pontos em que criticou seu adversário. As despesas do município mostram essa compreensão.

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Os gastos com infraestrutura urbana dentro da função Urbanismo que nos anos anteriores a 2014 representavam, em média, 4% das despesas totais do município caíram para 1% após o caixa da prefeitura sucumbir aos efeitos da crise. Foi assim até o primeiro ano da gestão Greca, em 2017. A partir de 2018 o prefeito começou a colher os resultados de seu pacote de austeridade fiscal – que puxou o cobertor de volta para onde estava antes da gestão Fruet. Com isso, os gastos com infraestrutura urbana voltaram a crescer e fecharam 2019 em pouco acima dos 2% das despesas totais, patamar ainda abaixo da média pré-crise.

A despesa pode ser vista nas ruas. Em 2019, a prefeitura fez 149 km de obras de pavimentação. Na gestão Fruet, o máximo anual foi de 92 km. Em 2020, o ritmo está ainda mais acelerado. Só até o dia 6 de fevereiro foram 48 km de pavimentação.

Além dos gastar em asfalto, Greca começou a investir pesado na publicidade sobre esses gastos. A pavimentação é, afinal, apenas uma de suas armas eleitorais, a outra é o discurso. Os valores vieram a público no ano passado após um pedido de informações feito pelo vereador Professor Euler (PSD). Entre janeiro de 2017 e agosto de 2019 foram destinados R$ 7,5 milhões às campanhas publicitárias sobre pavimentação asfáltica. Uma despesa diária de cerca de R$ 8 mil.

Quando é criticado por gastar muito dinheiro em pavimentação, Greca alega que esse é um clamor dos curitibanos. De fato, na compilação dos dados das audiências públicas para construção do orçamento o asfalto é uma demanda recorrente. Mas não é a única e nem a principal em todas as regionais da cidade. O que as eleições de 2020 vão mostrar é se as áreas que Greca deixou descobertas para dar conta de tanto asfalto – como por exemplo o funcionalismo público – terão apelo durante a campanha como a pavimentação costuma ter.