Entre os anos de 2015 e 2016 boa parte dos esforços financeiros do governo federal estavam concentrados em viabilizar a realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro. No fim do ano de 2015, o Comitê Gestor dos Jogos Olímpicos publicou uma norma que tornava de interesse público as obras do VLT do Rio de Janeiro. Com isso, o Ministério das Cidades deveria priorizar pagamentos dessa obra em detrimento de outras. No bolo de obras preteridas pelo governo estava a Linha Verde, em Curitiba.
O ex-prefeito Gustavo Fruet (PDT) confirma que escutou de assessores do então ministro das Cidades, Gilberto Kassab, que o contingenciamento do recurso previsto para a Linha Verde aconteceu pela prioridade dada ao VLT do Rio. Curiosamente, o mesmo Kassab estivera meses antes em Curitiba para assinar – em um evento público, claro – a liberação dos recursos que acabaram não vindo para a obra no momento estipulado.
Nesta semana, pouco mais de três anos após essa decisão do governo federal, o VLT do Rio de Janeiro foi chamado de “porcaria” pelo prefeito Marcelo Crivella e está prestes a parar porque a prefeitura e as empresas operadoras do sistema não conseguem chegar a um acordo sobre o modelo de prestação desse serviço. Atualmente, segundo informações do jornal O Globo, a dívida do município com o consórcio operador é de R$ 110 milhões.
É claro que os recursos para as obras e o dinheiro para manter a operação são questões diferentes, mas é sintomático, que uma obra “prioritária”, de “interesse público”, corra o risco de virar ruína após menos de três anos de funcionamento.
O problema parece estar mesmo na definição açodada e imediatista de prioridades. O interesse público sobre o VLT parece ter acabado no dia 21 de agosto de 2016, quando acabaram os Jogos Olímpicos.
Enquanto isso a Linha Verde segue seu ritmo de obra pouco prioritária aos olhos da União e vai tendo empurrado cada vez mais pra frente seu prazo de conclusão. A nova data agora é 2020. Não que esse atraso específico em 2016 seja responsável por toda a morosidade da obra, mas ele é importante para ilustrar as dificuldades do setor público em agir de modo republicano e pensando a longo prazo ao investir em infraestrutura.
Segundo Gustavo Fruet, para evitar que as obras parassem totalmente, a prefeitura adiantou recursos da contrapartida que daria ao investimento do governo federal. Ainda assim o cronograma não foi seguido.
A assessoria do ex-ministro das Cidades Gilberto Kassab informou que durante sua gestão na pasta foi assinado, em 2015, edital para obras na Linha Verde norte, em Curitiba, parte do então Programa de Aceleração de Crescimento do Governo Federal.
“Na gestão de Kassab no Ministério das Cidades foram feitas insistentes gestões junto à equipe econômica pela liberação dos recursos para esta e outras obras inscritas no PAC em todo o país, e recursos dessa natureza são liberados pelo Tesouro Nacional”, informou a nota.
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