O governador Ratinho Junior (PSD) demonstra ter esperança de resolver boa parte dos problemas do Paraná usando a tecnologia. Seu plano de governo apresentado durante a campanha eleitoral de 2018 fala 55 vezes sobre como a tecnologia pode melhorar os serviços de saúde, educação, infraestrutura e negócios e sobre o governo pretende fomentar o desenvolvimento de iniciativas privadas na área.
Reforçando esse interesse, desde o fim de fevereiro o governador está no Vale do Silício, região da Califórnia, nos Estados Unidos, onde estão concentradas empresas de vanguarda no setor de tecnologia. Segundo nota do governo, a viagem tem o objetivo de identificar tecnologias que possam ser aplicadas no Paraná, especialmente em relação à produção agropecuária. Da Califórnia, Ratinho tem publicado vídeos e textos que deixam claro seu encantamento com as novidades tecnológicas que tem visto – até nas situações mais prosaicas, como um robô que prepara e serve xícaras de café.
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Ao mesmo tempo em que tem os olhos voltados para problemas e soluções do futuro, o governador precisa encarar questões que deveriam ter sido resolvidas no século passado. O mesmo estado que estuda implantar um escritório no Vale do Silício não conseguiu universalizar saneamento e alfabetização e tem rodovias inadequadas para as necessidades do século 21. A visão estruturante de longo prazo que Ratinho afirma ter não pode ignorar essas questões.
Saneamento
Ainda que na comparação com outros estados o Paraná tenha um índice de coleta de esgoto acima da média, há muito o que melhorar. 28% dos imóveis do estado não têm o esgoto coletado. A situação é mais grave nos municípios menores. As grandes cidades, como Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel e Ponta Grossa estão entre as cidades com melhores índices de saneamento do Brasil.
A não universalização desse serviço deixa regiões do estado à mercê de surtos epidemiológicos e de outras consequências negativas da poluição ambiental.
Um Paraná que se pretende representar no templo da vanguarda tecnológica tem partes de seu território cuja descrição se assemelha às feitas pelos escritores naturalistas do Rio de Janeiro do século de 19, onde eram raras as condições mínimas de higiene e saneamento.
Alfabetização
A dicotomia entre o Paraná do futuro e esse do presente que se assemelha ao passado também acontece na educação. Enquanto há projetos de mandar os melhores alunos da rede pública para o exterior e aplicar ferramentas tecnológicas como facilitadoras de aprendizagem para os alunos, o estado ainda não erradicou o analfabetismo.
Mais uma vez, o Paraná está em condições melhores que a média nacional. Ainda assim, segundo dados divulgados na edição de março do Caderno Estatístico do Paraná – organizado pelo Ipardes –, 6,28% dos paranaenses com 15 anos ou mais são analfabetos.
Rodovias
Outra área em que há anacronismos no Paraná é na infraestrutura rodoviária. A PR-323, por exemplo, que liga as cidades de Maringá a Francisco Alves, no Noroeste do estado, parece mais adequada ao tráfego escasso de caminhonetes Rural Willys da metade do século passado que às necessidades de escoamento da produção industrial e agropecuária da região. Pela estrada esburacada, mal sinalizada e sem acostamento e pontos de ultrapassagem passam mercadorias e moradores da região de Umuarama, área de destacada produção moveleira e pecuária; e Cianorte, um dos principais polos têxteis do país.
Apontar esses desafios não é uma crítica à busca de Ratinho Junior por tecnologias que induzam o desenvolvimento do estado, mas é um alerta para que os olhos voltados para o Paraná do futuro não se esqueçam de buscar soluções para o Paraná que ainda está no passado.
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