Zeca Dirceu (PT), filho do ex-todo poderoso petista José Dirceu, está em seu terceiro mandato como deputado federal. São nove anos em Brasília e o ponto alto de sua carreira política aconteceu no dia 3 de abril, quando, durante uma reunião da Comissão de Constituição e Justiça, disse que o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, agia como tchutchuca com os banqueiros e como tigrão com aposentados e trabalhadores. A celeuma causada pela provocação – e pela reação do ministro – levou o presidente da Comissão, Felipe Francischini (PSL), a terminar a sessão.
Chamar o episódio de “ponto alto da carreira” do deputado não é exagero retórico. Ao menos não do ponto de vista da visibilidade pública. De acordo com dados do Google Trends, ferramenta que mede o volume de buscas no Google por determinados assuntos, o nome de Zeca Dirceu nunca foi tão pesquisado como na quinta-feira (4), dia seguinte ao entrevero com Guedes, que aconteceu já perto das 22h. Foram dez vezes mais buscas que no pico anterior, registrado na data do primeiro turno das eleições do ano passado.
As redes sociais do deputado também cresceram com o episódio. No Instagram, um dia antes do entrevero, Zeca Dirceu tinha 8,8 mil seguidores. No dia 17 de abril já eram 22,6 mil. Um crescimento de 157%. No Twitter, o crescimento seguiu a mesma taxa. De 10,9 mil seguidores foi para 28 mil. No Facebook, um crescimento menor, mas, ainda assim, significativo. De 73,9 mil curtidas em sua página, foi a 85 mil.
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Zeca Dirceu nunca foi um político de projeção nacional. Sua fama fora da região de Cruzeiro do Oeste, no Noroeste do Paraná, decorre muito mais de ser filho de quem é do que de sua própria atuação parlamentar. Com o episódio, entretanto, foi catapultado para a posição de um dos principais nomes de oposição à reforma da Previdência. O PT percebeu a oportunidade e deu cartaz a Dirceu. Da prisão, o ex-presidente Lula enviou um bilhete ao deputado elogiando sua atitude. “Eu fiquei tão orgulhoso de você que vou aprender a música da ‘tchutchuca e do tigrão’ kkkk”, escreveu.
O caso de Zeca Dirceu é um sintoma do fato de boa parte dos políticos do Brasil estar agindo com a compreensão de que “a democracia é o regime do insulto”, como escreveu Hélio Schwartsman em sua coluna na Folha de São Paulo.
Na algaravia cada vez mais intensa que virou a política nacional, elucubrações e falas mansas passam despercebidas. As reuniões da CCJ em que se tem discutido a reforma da Previdência têm sido o exemplo mais bem-acabado desse constante estado de confusão. Em meio a gritos, acusações, falas atravessadas e tumultos deliberados é difícil entender algo mais elaborado que uma provocação ao estilo tchutchuca e tigrão.
Jair Bolsonaro (PSL) é a expressão maior dos políticos brasileiros que entenderam esse momento. Seu caminho de deputado do baixo clero à presidência da República não foi construído com ponderações e contemporizações. Foram as frases toscas e debochadas que o tiraram das sombras de uma longeva e inexpressiva carreira parlamentar e o levaram ao Palácio do Planalto.
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Esse modo de fazer política tem suas limitações. Seu sucesso está restrito ao campo da visibilidade pública e da repercussão – elementos fundamentais para que os políticos tenham votos. Contudo, sob um olhar mais pragmático, centrado em resultados, essa estratégia sucumbe. Salvo nos casos em que o objetivo é justamente o imobilismo – o que parece ser a meta de Zeca Dirceu na reforma da Previdência.
Mesmo na atividade política conduzida pela lógica do insulto, há exemplos de que há espaço para outro tipo de ação, com posturas mais ponderadas e menos estridentes, que tendem a ter menos visibilidade, mas mais resultado. O próprio governo Bolsonaro tem disso. O ministro cujo trabalho tem se apresentado como mais sólido é justamente um dos menos dispostos a entrar em polêmicas. Discreto e centrado em resultados, Tarcísio Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura, é um dos poucos que tem dados motivos verdadeiros para o governo federal celebrar seu trabalho.
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