Pery Shikida pesquisa a economia do crime entrevistando criminosos. (Foto: Divulgação/Facebook)| Foto:

No mesmo decreto em que havia nomeado a cientista política Ilona Szabó – medida que foi revogada após críticas de apoiadores do governo –, o ministro da Justiça, Sergio Moro, indicou o professor Pery Shikida para o cargo de suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Shikida é professor do departamento de Economia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. O economista, que começou estudando a cana-de-açúcar, brinca que migrou para estudar outra cana, a cadeia, e nos últimos 20 anos tem se dedicado a analisar a economia do crime.

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O professor estuda o que define como crimes lucrativos, ou econômicos. Nessa tipologia estão os crimes de furto, roubo, extorsão, usurpação, tráfico de drogas e estelionato, entre outros. Para estudar os assuntos, ele faz entrevistas com os próprios presos, dentro de estabelecimentos penais.

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Em um vídeo gravado em 2018, o professor comenta as soluções mais comuns da esquerda e da direita para combater a criminalidade.

Segundo Shikida, os próprios criminosos rechaçam a ideia de que o bandido é fruto das injustiças da sociedade, algo que segundo ele está mais relacionado ao pensamento de esquerda.

“Quando você fala isso o próprio bandido dá uma risada, ele diz: ‘professor, o senhor está louco. Pobreza e distribuição de renda não causam criminalidade, não. Eu fui pro mundo do crime por causa de ganância, ambição, dinheiro fácil, desejo de aventura’”, relata.

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De acordo com ele, esse tipo de abordagem não tem respaldo no mundo empírico e é sustentada por gente que não conhece o mundo do crime.

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O professor também refuta o pensamento mais alinhado à direita de que bandido bom é bandido morto. Para ele, os extremos ideológicos não apresentam respostas interessantes para a questão da criminalidade.

Após 20 anos de estudos, Shikida destaca três conclusões fundamentais de sua pesquisa que, interligadas, ajudam a explicar a escolha de pessoas que entram para a criminalidade. Resumidamente, o Estado não é respeitado, não tem força para punir os atos de criminalidade, e isso, em um contexto em que as travas morais impostas pela escola, família e religião estão fragilizadas, faz com que o crime compense.

“O crime econômico está sendo demasiado cometido porque os benefícios financeiros dos delinquentes estão sendo muito, muito, superiores aos seus custos. O tráfico de drogas foi o delito mais frequente e motivado, principalmente, pela ideia de ganho fácil, cobiça, ambição e ganância. Vale citar também que os presos pesquisados normalmente não acreditam no sistema judiciário como uma ameaça crível – traduzindo: o crime econômico compensa, e como, em nosso Brasil!”, escreveu recentemente.

Ao comentar o pacote anticrime encaminhado por Moro ao Congresso Nacional, Shikida afirma que “merece atenção o papel do desestímulo aos incentivos da prática econômica ilegal que o projeto do ministro Moro apresenta”.

“O recado [do pacote] ao delinquente é: ‘se você não cumprir leis, o Estado será uma ameaça crível!’ Nossas pesquisas e meu recente livro (Memórias de um pesquisador no cárcere) retratam que o que os bandidos mais temem são a condição de serem pegos e a severidade da punição, se isto aumentar com este projeto, não haverá glamour na bandidagem e, sim, temor”, afirmou.

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Além dessa função punitiva, o professor defende que o “Estado e a sociedade precisam melhorar suas ações coibidoras do crime, bem como recuperar o tripé família, religião e escola.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

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