São as personalidades estridentes e as posições extremadas as que atraem mais holofotes na arena política. Isso acontecia quando a imprensa detinha o quase monopólio da iluminação desse palco e acontece agora quando são milhões os holofotes e também os iluminadores. Uma das consequências disso é que as pessoas públicas que fogem a essas características têm mais propensão à sombra. Na minha lista pessoal estão nessa categoria, entre outros, Tancredo Neves, Itamar Franco e Konrad Adenauer, a quem coube a tarefa de reconstruir a Alemanha Ocidental após a Segunda Guerra Mundial.
Nas eleições deste ano o discurso radical imperou. O candidato que diz ter posições inegociáveis e que não aceita acordos é aplaudido. O conciliador é visto como claudicante, fraco e incapaz de exercer a representação democrática. A política é apresentada como a mãe dos males públicos e nessa linha de pensamento o mandato – no Legislativo e no Executivo – parece um universo encerrado em si mesmo.
Acontece que não é. Negociar é imprescindível e contemporizar é inevitável. E muita gente que se elegeu dizendo o contrário sabe disso.
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Olhemos para a Assembleia Legislativa do Paraná para que eu consiga defender meu ponto, que eu já adianto aqui: a partir do ano que vem precisaremos como nunca dos políticos de centro.
No Legislativo Estadual, cresceram o PT e, especialmente, o PSL, impulsionado no estado pela onda bolsonarista e pelo perigoso discurso de que os problemas do estado serão resolvidos na bala. Como os dois partidos estão nas pontas opostas do espectro ideológico representado na Assembleia, chamemo-los de extrema-esquerda, no caso do PT, e extrema-direita, no caso do PSL. É de se esperar que essas duas bancadas conduzam os debates para polos antagônicos e insistam no tensionamento que dominou a retórica eleitoral, especialmente os novos deputados que imaginam prescindir da política.
Mas não se legisla ou governa com a mesma retórica que se disputa um mandato.
Apesar das constantes e mútuas trocas de acusação, os deputados estaduais precisarão conversar, negociar, chegar a acordos e buscar consensos. Essa é a base da política parlamentar e ignorar isso pode colocar o legislativo em um ciclo de acentuada ineficiência e ineficácia. Claro que há espaço para a discordância e o debate, mas o esgarçamento do tecido das negociações é contraproducente. E é nesse ponto que está a importância do centro.
Olhando para a lista de deputados eleitos no Paraná, há poucos nomes que poderão atuar como construtores de pontes. Cito dois, com o risco inerente à futurologia de queimar a língua.
Do ponto de vista ideológico e de postura parlamentar, um deputado que parece capaz de articular os dois opostos é Luiz Claudio Romanelli (PSB), que nos últimos anos ocupou a função de líder do governo Beto Richa (PSDB). Mesmo desse posto, ele conseguiu manter abertas as portas com a bancada de oposição e dialogar em momentos que os novatos de agora certamente se posicionariam pelo rompimento.
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Outro deputado que pode ter função semelhante é Guto Silva (PSD), não tanto pelos posicionamentos ideológicos, mas mais por ser aliado de primeira hora de Ratinho Junior. Caso ele não seja levado ao comando de alguma secretaria no Executivo, é um parlamentar propenso ao diálogo que gozaria de crédito suficiente com o governo para construir negociações em situações que necessitem de maioria qualificada.
O próprio processo legislativo se encarrega de impor freios à impetuosidade e a pretensa autossuficiência dos novos parlamentares. Sua complexidade e ritmo fazem qualquer radical pedir socorro aos pares. Os calouros entram com gana de logo tomar ações para pôr em prática sua forma de ver o mundo. Mas aí precisa de parecer do jurídico, de aprovação da CCJ, de debate em audiência pública e assim os caminhos legislativos vão se mostrando tortuosos. Novamente, a experiência dos colegas e o diálogo para, por exemplo, apresentação conjunta de projetos de lei, acabam se revelando o caminho possível para que as iniciativas prosperem.
Quem também se ocupa dessa negociação é o governo. Afinal, num parlamento composto apenas de opostos, fica muito mais difícil construir a coalizão governista. O governador sabe que não pode ser tão radical quanto querem as bancadas à esquerda e, principalmente, à direita, que agora domina a Alep.
Ratinho percebeu que essa contundente guinada à direita também afetou a posição do centro. Por isso abraça agora o apoio de Bolsonaro, que levou em banho maria durante o processo eleitoral, mas ainda assim não repete nem empunha suas bandeiras mais radicais.
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