No segundo turno das eleições presidenciais de 2018, 68% dos eleitores do Paraná votaram em Jair Bolsonaro (PSL). A preferência dos paranaenses pelo capitão da reserva também foi vista nos políticos do estado. Na reta final da campanha eleitoral, quando a vitória do candidato do PSL já era dada como certa sua base deixou de ser apenas o pequeno PSL. Diversos candidatos embarcaram no bolsonarismo, mesmo alguns que até então apresentavam perfil mais moderado, como o agora governador Ratinho Junior (PSD), o candidato ao senado Alex Canziani (PTB) e o deputado Ricardo Barros (PP).
Após cinco meses de governo, parlamentares do Paraná que fizeram esse movimento e demonstravam otimismo com governo Bolsonaro – ou que pelo menos davam ao recém-eleito o benefício da dúvida – parecem mais distantes do governo, impelidos por iniciativas e posições do presidente.
O caso mais recente é o da deputada Christiane Yared (PL, antigo PR). Integrante da base de apoio do governo, ela subiu à tribuna durante sessão conjunta do Congresso Nacional realizada na quarta-feira (5) e fez duras críticas ao projeto do governo que altera o Código de Trânsito Brasileiro. Yared, que classificou a proposta como “terrível” e “trágica” disse que a consequência da flexibilização de pontos das regras do trânsito será o aumento no número de mortes e que ela, mesmo sendo aliada, vai buscar alterar a proposta.
Em tom emocionado, apelou aos colegas parlamentares: "O que está acontecendo conosco, senhores? Vamos regredir? Não é possível que a gente aceite tudo isso como algo normal.”
Outro exemplo é o do deputado Diego Garcia (Podemos). Poucos dias antes do segundo turno das eleições, o parlamentar fez um pronunciamento enumerando razões para que os eleitores não votassem no PT e, consequentemente, escolhessem Bolsonaro. Os principais motivos apontados eram os posicionamentos sobre aborto, gênero e família. Ideologicamente, Garcia está muito alinhado com a agenda bolsonarista. Politicamente, o Podemos, seu partido, não integra oficialmente a base, mas apoia medidas do governo. Mesmo assim, em uma reunião da Comissão de Constituição e Justiça que discutia a reforma da Previdência, o deputado criticou a falta de diálogo e de capacidade de articulação política do governo. Em tom irônico, ele afirmou que a oposição poderia deixar a sessão e ir para casa, porque o próprio governo se encarregava de dificultar a tramitação da reforma.
Ainda antes de Bolsonaro tomar posse, Ricardo Barros já o cortejava. O primeiro movimento foi quando a ex-governadora Cida Borghetti (PP) – esposa do parlamentar – concedeu ao então presidente eleito a Ordem do Pinheiro, maior comenda do Paraná. Bolsonaro não foi à entrega e deu pistas de qual seria o tom de sua relação política com Barros. O deputado ainda insistiu na proximidade ao oferecer ajuda para a articulação política, mas não conseguiu espaço no governo. Distante do Palácio do Planalto, Barros passou a reagir aos ataques preferidos pelo Planalto contra o Legislativo. Em entrevista recente à Rádio Jovem Pan Curitiba, afirmou que no governo há muita polêmica e confusão para pouco resultado.
Ainda na Câmara, há um último exemplo. Toninho Wandscheer (Pros), coordenador da bancada paranaense foi a uma reunião com Bolsonaro acompanhado de outras lideranças parlamentares. A ideia do encontro era afinar a relação entre os poderes. Poucos minutos depois do encontro, entretanto, mais uma confusão: os deputados disseram que viram o presidente determinando a revogação do corte de verbas das universidades, mas o governo negou a informação. Diante do impasse, Wandscheer foi ao Twitter: "Quem está mentindo não somos nós, Jair Bolsonaro. Assuma o que disse na Reunião de Líderes."
No Senado, Bolsonaro também já gozou de mais prestígio dos paranaenses. Antes do segundo turno, tanto Flavio Arns (Rede) como Oriovisto Guimarães (Podemos) indicaram em entrevista à Gazeta do Povo que votariam no candidato do PSL. No início do mandato, os dois senadores mantiveram postura independente, mas amistosa com o governo. Com o passar dos meses, o tom do discurso foi ficando mais crítico.
Oriovisto, que segue elogiando a postura do ministro da Economia, Paulo Guedes, não tem a mesma disposição com outras alas o governo. “Nós temos crises inúteis, que não precisavam acontecer, baseadas em ideologias sem pé nem cabeça; mas nós temos problemas reais. Brigamos por coisa tola enquanto nossa dívida aumenta em R$ 1,6 bi por dia”, afirmou o senador.
Já Arns não aceitou a mudança de posição do governo na questão do COAF e votou contra recomendação de última hora do Planalto para que o órgão de controle financeiro ficasse sob gestão de Paulo Guedes. O senador também se levantou contra o contingenciamento de recursos da educação superior.
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