A eleição de Ratinho Junior (PSD) ao cargo de governador do Paraná e de Jair Bolsonaro (PSL) para a Presidência da República foi o ponto final em um período de quase oito anos de desalinhamento entre os palácios do Planalto e o Iguaçu. Com o PT na presidência e o PSDB no governo local, não foram poucas as vezes em que Beto Richa se queixou do fato de o Paraná ser preterido por motivos partidários. Com seis meses quase completos da nova configuração de poder, já é possível ter uma ideia do que tem significado, na prática, o alinhamento dos palácios.
Antes, um pouco de contexto vai bem: sem a esperada retomada da atividade econômica, com um ministério inexperiente, e uma base política errática, o presidente tem tido dificuldades em fazer avançar a reforma da Previdência no Congresso Nacional. Como esse ponto é o tiro de largada para o resto do governo, a impressão é de que enquanto não é possível governar a sério gasta-se tempo alçando bobagens ao patamar de discussões de interesse nacional. Fosse Bolsonaro & Ratinho uma dupla sertaneja, o presidente desafinaria na primeira voz e o governador não teria muito o que secundar.
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Um governo, entretanto, não é uma moda de uma nota só. Há áreas em que o trabalho já parece bem azeitado, apesar do bate-cabeças geral. O caso mais evidente é o do Ministério da Infraestrutura. Sob o comando de Tarcísio Gomes de Freitas, a pasta não se distrai com as espumas da arena política e tem conseguido manter elogiado ritmo de trabalho.
É justamente com o Ministério da Infraestrutura – ponto central do discurso de campanha de Ratinho Junior – que o governo do Paraná tem mantido mais contato em Brasília. Um levantamento feito nas agendas oficiais publicadas pelos ministérios mostra que em nenhuma outra pasta o governador, seus secretários e equipes de trabalho foram recebidos com tanta frequência. Foram ao menos 14 encontros, consideradas as reuniões em que estavam Ratinho Junior e Tarcísio Gomes de Freitas e também aquelas feitas somente pelas equipes técnicas.
O assunto principal é a nova concessão das rodovias que integram o Anel Viário do estado. Os atuais contratos terminam em 2021 e tanto o poder público como o setor produtivo têm visto essa renovação como uma possibilidade de superar os problemas históricos das rodovias paranaenses. Sobre esse tema, o que ficou decidido é que as rodovias federais que estavam delegadas ao Paraná voltarão para a gestão da União e as rodovias estaduais que estão no Anel de Integração serão delegadas ao governo federal. Além disso, novos trechos serão incorporados, o que vai mudar o traçado atual do anel. Sobre esse assunto, já foram realizadas dez reuniões no ministério, de acordo com os registros nas agendas do ministro e de seus secretários.
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Além dos pedágios, há outros dois assuntos na Infraestrutura que são tratados como prioritários pelo governo estadual: a concessão dos aeroportos Afonso Pena e Bacacheri, em Curitiba e região, e dos aeroportos de Londrina e Foz do Iguaçu; e a construção da segunda ponte ligando Foz ao Paraguai. Financiada com dinheiro de Itaipu, a obra está sob gestão do governo do Paraná, que recebeu a delegação da União para que o governo federal não desrespeitasse a regra do teto de gastos.
Entre paranaenses
Outra pasta onde Ratinho parece ter acesso privilegiado é a da Justiça e Segurança Pública, comandada pelo paranaense Sergio Moro. Assim como na Infraestrutura, a pasta é responsável por um dos projetos que o governo trata como prioridade: a implantação do Centro Integrado de Operações de Fronteira, uma força tarefa – para ficar no termo da moda – que reunirá autoridades estaduais e federais para garantir a segurança na fronteira.
Por outro lado, a proximidade com o governo não tem evitado algumas bolas nas costas. A mais recente é um movimento dentro da Casa Civil que busca tirar do Paraná a Superintendência Regional da Receita Federal e deixar o estado sob comando da regional hoje instalada no Rio Grande do Sul. Há uma reunião da bancada paranaense agendada para discutir o tema. Parlamentares esperam que Ratinho também se movimente para manter a estrutura no Paraná.
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