Desentendimentos que vinham crescendo há um tempo no PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, vieram à tona na última semana e revelaram um racha profundo na legenda. As trocas de acusações mostram haver disputa entre dois grupos: um ligado diretamente ao presidente; e outro ao comando da sigla. As altercações têm reflexos na política do Paraná, onde o PSL elegeu três deputados federais e oito estaduais, a maior bancada da Assembleia Legislativa.
Como atuam nacionalmente, os deputados federais Aline Sleutjes, Filipe Barros e Felipe Francischini estão diretamente envolvidos na questão.
Barros e Sleutjes atuam do lado bolsonarista do front. Os dois assinaram uma nota de apoio ao presidente que foi subscrita por outros 18 deputados. No texto, eles sustentam que “é preciso que a atual direção [do PSL] adote novas práticas, com a instauração de mecanismos que garantam absoluta transparência na utilização de recursos públicos e democracia nas decisões.”
Desde a campanha eleitoral e especialmente após o começo da atual legislatura, Sleutjes e Barros têm se empenhado na aproximação direta com o presidente. As investidas deram resultado: a deputada de primeiro mandato hoje é vice-líder do governo na Câmara, e o também estreante Filipe Barros tem conseguido ocupar espaços, principalmente em postos onde Bolsonaro precisa de cães de guarda de suas ideologias, como na Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos e na CPI das Fake News. Numa eventual saída de Bolsonaro do PSL, os dois devem seguir os rumos do presidente.
No auge da crise interna, Barros, por exemplo, postou uma foto ao lado de Bolsonaro no jogo entre Palmeiras e Botafogo, no estádio Pacaembu, em São Paulo. Sleutjes optou por uma foto mais formal com o presidente, acompanhada da legenda “Sou 100% Bolsonaro”.
Ao contrário dos correligionários, Felipe Francischini tem agido de modo mais ligado às pautas do bolsonarismo que à figura do presidente Jair Bolsonaro. Na Câmara, por exemplo, além de ter conduzido a discussão das reformas da Previdência e tributária na Comissão de Constituição e Justiça – colegiado em que é presidente – tem articulado em favor do pacote anticrime de Sergio Moro e da autonomia da Polícia Federal. Procurado para comentar a crise, ele prefere não se pronunciar, mas algumas declarações recentes do deputado deixam claro que ele não está no lado bolsonarista da disputa.
Em entrevista ao Portal Metrópoles, afirmou ter sido “apunhalado pelas costas” ao saber que o governo vai encaminhar mudanças na regra de ouro via Senado. Outro ponto que demonstra insatisfações em relação ao governo é sua decisão de pautar na CCJ o projeto que dá autonomia à Polícia Federal. A ideia, que nos últimos anos era apoiada por Bolsonaro, parece ter sido deixada de lado após ele assumir a presidência.
Na dimensão narrativa, Francischini também se afasta do presidente. Enquanto Sleutjes e Barros deixaram claro nas redes sociais seu apoio a Bolsonaro, Francischini postou uma foto de um jantar ao lado do ministro Sergio Moro.
Bancada estadual
No Paraná, o PSL é comandado pelo deputado estadual Fernando Francischini, pai de Felipe. Sem outros quadros de tanto destaque no partido, Francischini, o pai, parece ter mais tranquilidade para garantir a unidade da legenda mesmo diante do racha nacional. Pelas contas de aliados, mesmo que Bolsonaro saia da legenda, o PSL do Paraná deve manter seis ou sete dos atuais oito deputados.