Está em curso, em Brasília, o divórcio entre o bolsonarismo e o lavajatismo. Há quem tente contemporizar e insistir na união, mas há evidências de sobra que nos fazem perceber a cisão, entre elas uma cena comum a todo fim de casamento: os amigos do casal já estão escolhendo ao lado de quem ficarão. A bancada paranaense no Senado, que desde as eleições transitou bem entre os dois grupos, tem dado claros sinais de que na disputa que se anuncia ficará ao lado de Sergio Moro e do grupo oriundo da Lava Jato que agora ocupa postos-chave em Brasília.
O primeiro desentendimento entre Moro e o presidente Jair Bolsonaro (PSL) que veio a público foi quando se discutia, em maio, qual seria o destino do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Moro dedicou tempo e capital político a convencer parlamentares de que o órgão funcionaria melhor se saísse do controle do Ministério da Economia e passasse para o guarda-chuva do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A mudança foi proposta pelo governo em uma Medida Provisória, mas rejeitada pela Câmara. No Senado, em vez de tentar reverter a derrota, o governo desistiu da articulação política. Nessa ocasião, os três senadores do Paraná, Alvaro Dias (Podemos) Flavio Arns (Rede) e Oriovisto Guimarães (Podemos), votaram contra a orientação de última hora do Palácio do Planalto para que o Coaf ficasse na Fazenda e mantiveram fidelidade às articulações de Moro.
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Recentemente, a tensão entre os dois grupos aumentou com a demissão de um aliado de Moro do comando do Coaf; a interferência de Bolsonaro na Polícia Federal; e as críticas de bolsonaristas a Deltan Dallagnol.
Com isso, a bancada paranaense tem dado muito mais demonstrações de apoio ao grupo de Moro que de Bolsonaro. As manifestações mais efusivas são as do senador Alvaro Dias.
Ao analisar a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil em Washington, por exemplo, o parlamentar foi contundente como só costuma ser com petistas.
"Esta indicação é um equívoco histórico, uma trombada nas tradições da diplomacia brasileira. Para a embaixada americana, sempre são escolhidos os mais capacitados, pois trata-se de uma função complexa nas relações entre as nações. A história mostra isso”, disse Alvaro. O senador disse ainda que a aprovação da indicação do filho do presidente “diminuiria” o Senado Federal.
Contemporizador nato, Arns foi mais comedido, mas ainda assim defendeu a indicação de um diplomata de carreira.
“O Instituto Rio Branco é uma escola de excelência respeitada internacionalmente como academia diplomática e deve ser prestigiado quanto à escolha dos nossos embaixadores”, disse.
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Alvaro também tem se dedicado com afinco à defesa da Lava Jato, especialmente após o início da Vaza Jato, série de reportagens do Intercept feita com base em conversas privadas envolvendo procuradores da Lava Jato e o então juiz Sergio Moro. Para o senador, a operação está sendo alvo de uma conspiração para minar sua credibilidade. Em diversas ocasiões ele reiterou seu apoio a Moro.
Oriovisto e Arns não ficam atrás na defesa do ministro da Justiça e também foram a público defender a atuação de Moro na Lava Jato. O senador da Rede chegou a defender que “as mensagens divulgadas pelo site são produto de um ataque criminoso que deve ser rigorosamente investigado e punido”.
A articulação de Alvaro na defesa da Lava Jato não tem se restringido aos colegas do Paraná. Como líder do Podemos, hoje segundo maior partido do Senado, ele tem liderado iniciativas nesse sentido envolvendo os nove senadores da bancada.
Uma das ações foi a criação de um grupo chamado “Muda, Senado”, que já conta com 21 senadores e defende pautas caras ao lavajatismo, como o combate ao projeto de lei de Abuso de Autoridade, a instalação da CPI Lava-Toga, para investigar desmandos em tribunais superiores, e o impeachment do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, com quem Bolsonaro tem construído uma relação cada vez mais próxima.
Na indicação do novo Procurador Geral da República, outro episódio que tem colocado bolsonaristas e lavajatistas em oposição, Alvaro, que tem sido visto por muitos pares como um porta-voz das insatisfações de Sergio Moro, defendeu a nomeação de Deltan Dallagnol ao cargo justamente no momento em que a atuação do chefe da Força Tarefa da Lava Jato no Ministério Público tem sofrido críticas de políticos e ministros do Supremo Tribunal Federal.
Com a Lava Jato sob críticas que transcendem os tradicionais apontamentos petistas e com o ministro Sergio Moro sem as amarras que a magistratura impunha à ação política, o lavajatismo se institucionaliza como grupo político e tem nos senadores do Paraná alguns de seus principais expoentes.
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