Ao não elegerem Roberto Requião (MDB) e Beto Richa (PSDB) para o Senado Federal, os eleitores paranaenses encerraram um ciclo de pelo menos oito anos em que os polos da política local estavam muito bem definidos. Ainda que outros políticos fossem relevantes para o estado – como Alvaro Dias (Podemos) e Gleisi Hoffmann (PT) –, era nos embates entre richistas e requianistas que a política paranaense tinha seus principais momentos. E, se o eleitorado não tivesse mudado de ideia ao longo das eleições de 2018, muito provavelmente esse antagonismo daria o tom da bancada paranaense no Senado até 2026.
Quando escolheram Flávio Arns (Rede) e Oriovisto Guimarães (Podemos) para ocupar os dois assentos em disputa no Senado, os eleitores, além de terem fechado um ciclo, abriram espaço para uma reorganização das forças políticas locais. Passado quase um ano da nova representação paranaense na Câmara Alta, já há indícios suficientes da direção das mudanças causadas pelo realinhamento das forças políticas em 2018.
A marca mais forte da nova composição é o alinhamento entre os senadores paranaenses. As constantes e esperadas discordâncias entre Alvaro, Gleisi e Requião deram espaço a afinidades ideológicas e trocas de mesuras entre os membros da bancada da Paraná. Esse entendimento interfere na ação dos três senadores do estado tanto diante dos assuntos políticos nacionais como em relação à postura sobre temas locais.
No plano nacional, uma das principais novidades políticas de 2019 foi a criação do “Muda Senado”, um grupo que reúne cerca de 20 parlamentares que defendem mudanças nas práticas do Senado, uma instituição tradicionalmente conservadora. Os três senadores do Paraná integram o grupo, onde Alvaro e Oriovisto exercem uma importante liderança. Reverberando dentro do “Muda Senado”, as afinidades ideológicas da bancada paranaense encontram espaço para serem postas em prática. No grupo, os três senadores empunharam conjuntamente bandeiras como a defesa de uma CPI para investigar desvios no Poder Judiciário – a CPI da Lava Toga –, o fim do foro privilegiado, a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, a redução dos custos do Poder Legislativo e a redução do valor destinado aos fundos públicos de financiamento da atividade partidária e eleitoral.
Em uma tentativa de síntese, Alvaro, Oriovisto e Arns parecem ser representantes da nova política – termo tão disputado como desgastado nas últimas eleições. A nova política da qual eles se aproximam não é a do esgarçamento institucional bolsonarista, mas a do lavajatismo da “refundação da República”, termo criado e defendido por Alvaro Dias nas eleições presidenciais de 2018.
Os efeitos para o Paraná
O alinhamento entre a bancada também interfere no modo como os senadores representam o estado do Paraná – com pontos positivos e negativos.
Para o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), a presença de Alvaro, Arns e Oriovisto no Senado é o melhor dos mundos. Com boas relações com os três parlamentares, Ratinho não precisa temer complicações ao solicitar o aval da União para empréstimos ao estado ou um reforço ao caixa paranaense por meio de emendas parlamentares.
Vale lembrar aqui um episódio de 2014, quando o Senado aprovou um empréstimo de R$ 144 milhões ao governo do Paraná, à época comandado por Beto Richa (PSDB). O único voto contrário à liberação do empréstimo foi de Requião, que se saiu com a seguinte justificativa: “É claro que investimentos sociais seriam interessantes, mas tínhamos que forçar o estado a cortar as despesas perdulárias porque esses investimentos sociais seriam facilmente resolvidos com o corte de despesas absurdas de cargo em comissão e de publicidade”.
O ponto negativo do alinhamento é justamente o fato de as visões de mundo muito afinadas não darem conta de abarcar defesas de outras teses sobre a condução dos assuntos de interesse público. Em outras palavras, a qual senador poderia ter recorrido o paranaense contrário à reforma da Previdência? Ou qual será o representante do estado que poderá ouvir com atenção os argumentos dos trabalhadores que apontam os prejuízos que a venda da Refinaria Presidente Getúlio Vargas e da Unidade de Industrialização do Xisto irão gerar em Araucária e São Mateus do Sul?