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João Frey

João Frey

Coluna

Arma de Trump e Bolsonaro, Twitter ainda engatinha com governadores e prefeitos

(Foto: Felipe Lima)

Há quem diga que a política moderna saiu dos palanques e do corpo a corpo para os 280 caracteres do Twitter. Exageros à parte, é fato que as redes sociais digitais provocaram transformações no modo como representantes e candidatos se comunicam com o eleitorado. Quem almeja um cargo eletivo importante não pode desprezar (na teoria) ao menos a presença no Twitter, no Facebook e, para os mais empenhados, no Instagram.

Cada uma dessas redes sociais tem gramática e público próprios. Mas o fato é que, entre as três redes sociais já citadas, o Twitter tem se destacado por ser o ambiente em que líderes mundiais – como o presidente norte-americano, Donald Trump – fazem anúncios e dão declarações que têm, e muito, impacto sobre o mundo offline. Em um dos mais recentes episódios, Trump utilizou a rede para fazer ameaças ao Irã, após a morte do general Qasem Soleimani, ocorrida em ataque dos EUA.

Em terras brasileiras, o uso mais intenso do Twitter tem chamado a atenção principalmente por conta do presidente Jair Bolsonaro. Em uma estratégia semelhante à de Trump, Bolsonaro frequentemente faz anúncios de governo pela rede social, pegando um atalho e contornando a divulgação de informações via veículos da imprensa tradicional. No fim das contas, parece se tratar de uma estratégia com duas finalidades principais: colar na opinião pública a sua própria versão sobre os fatos e, de outro lado, desacreditar conteúdos que podem ser desfavoráveis, produzidos por jornalistas profissionais.

Aproximando o olhar para o Paraná, porém, o cenário sofre transformações. Se Bolsonaro e o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) têm pontos da agenda ideológica em comum, na cartilha dos 280 caracteres ambos são bastante distintos. Ratinho está longe de publicar com tanta frequência quanto Bolsonaro, e ainda tem o hábito de convocar coletivas de imprensa para fazer anúncios de governo (a famosa agenda positiva, é claro).

Uma rápida olhada nos posts do perfil de Ratinho mostra, além disso, que há pouco espaço para improviso. A maioria das publicações traz compartilhamentos de notícias com algum comentário – longe, claramente, da espontaneidade que tanto Trump quanto Bolsonaro (guardadas as proporções) imprimem a seus tweets.

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No âmbito municipal, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), faz posts de caráter pessoal, mas tem atividade mais esparsa no Twitter. No final de novembro, por exemplo, Greca usou a rede social para dar notícias sobre a sua recuperação após a realização de uma cirurgia no abdômen. “Voltarei mais forte do que nunca, fazendo o que mais amo na minha vida que é ser prefeito de Curitiba”, disse.

Os motivos para que o modus operandi de Bolsonaro no Twitter não tenha colado por aqui podem ser muitos. Na ausência de evidências concretas sobre esses dois casos, cabe a esta jornalista apenas especular a partir do que já se sabe a respeito da interação entre políticos e eleitores no Twitter.

Por um lado, os entusiastas de plataformas digitais louvam a possibilidade de comunicação direta entre os cidadãos e seus representantes – mas é justamente essa interação que pode causar problemas para políticos. O improviso pode gerar desconfortos ou até provocar celeumas institucionais (quem não se lembra do vídeo em que Jair Bolsonaro, representado por um leão, era ameaçado por hienas – entre elas uma que simbolizava o Supremo Tribunal Federal?).

O próprio Greca, que tem como característica o estilo sem papas na língua, já disse à Gazeta do Povo que seu modo de administrar as redes sociais “enlouquece a assessoria”. A confissão foi feita em conversa com o repórter João Frey (titular desta coluna, em férias no interior do Paraná – certamente alheio ao Twitter). Isso em 2017, quando não havia, ainda, o fenômeno Bolsonaro. Hoje, imagino, os assessores de Greca devem agradecer pelo chefe ser um pouco mais comedido do que o presidente.

Outra possibilidade para que o Twitter não esteja no topo da lista de prioridades na comunicação de políticos paranaenses pode ser, simplesmente, a ideia de que a rede social ainda não é importante o suficiente para demandar tanta atenção. Pode ser o caso do governador Ratinho Junior – já que, além de ser filho de um comunicador, Ratinho tem trajetória própria trabalhando no rádio, o que o ajudaria a encarar possíveis indelicadezas de usuários nas redes com mais serenidade.

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Na comparação com outros governadores e prefeitos de capitais, Ratinho e Greca parecem estar no mesmo passo que os colegas. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), tem número de seguidores semelhante ao de Ratinho (32,7 mil e 33,6 mil, respectivamente) – mas compartilha notícias com menos frequência. Greca e Bruno Covas (PSDB), prefeito de São Paulo, também estão relativamente quites, com o curitibano um pouco à frente: Covas tem 33,3 mil seguidores, e Greca, 37,4 mil.

Há, claro, os políticos com maior projeção nacional – e, consequentemente, mais relevância no Twitter. É o caso de João Doria (PSDB), governador de São Paulo, que tem um milhão de seguidores; e Wilson Witzel (PSC), governador do Rio de Janeiro, com 184 mil. Mas, de modo geral, o uso da rede – ao menos na cartilha de Trump e Bolsonaro – parece não ter ganhado capilaridade no país, muito menos no Paraná.

Mas atenção, leitor: nas eleições municipais de 2020, tudo pode mudar.

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