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João Pereira Coutinho

João Pereira Coutinho

Escritor, doutor em ciência política pela Universidade Católica Portuguesa

Ilusões perdidas

Para Balzac, a desilusão é a primeira condição para qualquer criador

"Perder as ilusões é a condição primeira para qualquer alma criativa, se entendermos por ilusão essa dependência extrema da opinião de terceiros." (Foto: Pixabay)

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De vez em quando, sei lá por que, jovens autores pedem-me conselhos para as respectivas carreiras. Nunca sei o que lhes dizer. Sou um mau exemplo – nunca pensei numa "carreira", para começar –, e, além disso, deve haver literatura mais sábia para ser consultada. Ou, pelo menos, autores mais sábios, vivos ou mortos.

Seja como for, quando sou pressionado, aconselho sempre Balzac. E, entre as obras de Balzac, Ilusões Perdidas.

Há quem ache um romance deprimente, sobretudo para um jovem escritor em busca dessa "carreira".

Sempre discordei. Antes de escrever uma única linha e de procurar o aplauso do mundo, da crítica e dos leitores (raramente coincidem), o candidato a escritor deve começar por aqui.

Se a preguiça for muita (o livro é monumental), há um filme que serve de aperitivo e que estreia nesta semana nas salas do Brasil: a magistral adaptação que Xavier Giannoli fez da obra-prima do escritor francês.

Ilusões Perdidas é um festim para os olhos na reconstituição da sociedade parisiense na época da Restauração dos Bourbon; mas é também um consolo para os ouvidos porque Giannoli respeitou solenemente o texto original. E que texto!

A história conta-se em breves linhas: Lucien Chardon (Benjamin Voisin) é um jovem poeta de Angoulême que trabalha como tipógrafo enquanto o mundo, a crítica e os leitores não descobrem o seu talento.

Mas uma paixão fulminante por madame de Bargeton (a maravilhosa Cécile de France), sua patrona na província, levará o rapaz a fugir com ela para Paris. Lucien, na sua inocência, acredita que será recebido de braços abertos pela sociedade cortesã. Afinal, madame de Bargeton tem sangue azul, e ele, claro, é um poeta.

Triste engano. Um provinciano é um provinciano – existem códigos não escritos que ele não domina e que ditarão o seu afastamento de madame Bargeton e da elite aristocrática do tempo.

Perdido e ressentido, Lucien desce à Terra e o seu talento, tão lírico e promissor, será exercido no bas-fond do jornalismo de massas, corrupto e moralmente diabólico.

Num dos melhores diálogos de Ilusões Perdidas, o editor de Lucien explica-lhe que a verdade é um detalhe quando é sempre possível interpretá-la segundo a lente mais conveniente. "Dois críticos estão num barco quando veem Jesus a caminhar sobre as águas", explica-lhe o profissional. "Um deles diz para o outro: vejam só, esse cara nem sabe nadar."

Riem ambos, e o editor conclui: "Se o livro é inteligente, diz-se que é indulgente. Se tem um estilo clássico, é conservador. Se for engraçado, é superficial. Se for inteligente, é pretensioso. Se for inspirado, é indecente".

Lucien está esclarecido. E também arrisca: "E se o enredo for bem construído, é previsível".

Conselhos? Não dou. Mas, se me atrevesse a tanto, diria que perder as ilusões e simplesmente escrever, ou pintar, ou compor seria um bom princípio.

Bravo! É uma admirável escola de maledicência, que pode ser facilmente revertida pelo preço justo.

Nesse caso, o livro é admirável, espirituoso, brilhante etc. No grande mercado da vaidade humana, tudo se vende, tudo se compra. Até os aplausos no teatro – ou, inversamente, a fruta podre que é jogada sobre as atrizes.

Só que Lucien é honesto e ambicioso, uma combinação fatal. Da mesma forma que se deixou guiar pelo lucro da má-fé, ele tentará redimir-se com a promessa do prestígio social.

Mas será possível?

No fundo, será possível encontrar um porto seguro quando se perdeu o mapa inicial – que era, convém lembrar, o amor pela beleza e pela literatura?

Há quem pense que perder as ilusões é uma privação terrível. Mas não creio que essa seja a mensagem essencial de Balzac. Para ele, perder as ilusões é a condição primeira para qualquer alma criativa, se entendermos por ilusão essa dependência extrema da opinião de terceiros.

Essas ilusões consomem tudo – as melhores intenções, as melhores energias, a essencial liberdade interior. E para que? Como Balzac ensina, e Giannoli filma, os aplausos do mundo dependem muitas vezes de transações imundas em que os favores se pagam, mais tarde ou mais cedo.

Conselhos?

Não dou. Mas, se me atrevesse a tanto, diria que perder as ilusões e simplesmente escrever, ou pintar, ou compor seria um bom princípio. Nenhum esforço será inútil quando, pelo menos, é no próprio ato de criar que está a recompensa.

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