Se o leitor deseja uma carreira como ditador, o melhor é esquecer os modelos que viu no século 20. Dão muito trabalho: a repressão violenta não é higiênica; o controle sobre a sociedade é extenuante; a imposição ideológica é uma tarefa incompreendida; e o isolamento do país é um vexame.
Sim, no século 21, ainda temos a Coreia do Norte como exemplo extremo de anacronismo. Mas você quer mesmo um penteado igual a Kim Jong-un?
Para ser um ditador no século 21, as regras são outras: você precisa fingir que é um democrata. E ser um democrata, mesmo falso, implica certas operações cosméticas.
Sergei Guriev e Daniel Treisman, no recém-lançado Spin Dictators: The Changing Face of Tyranny in the 21st Century (Princeton, 352 págs.), resumem esses métodos após décadas de observação e estudo.
Os novos ditadores não esmagam as rebeliões como antigamente para se manterem no poder. Preferem esmagar a necessidade de rebelião por métodos indiretos, aparentemente legais, e sem espantarem os cavalos.
Comecemos pela violência: de Hitler a Stálin, sem esquecer o camarada Mao Tse-tung, ninguém nega o profissionalismo deles nas matanças.
Mais: as matanças não eram apenas regulares, mas regularmente publicitadas para mostrar a mão de ferro do regime. Como dizia o general Franco, na Espanha, lidar com os opositores implicava "garrote y prensa" (estrangulamento e notícia no jornal).
O "ditador do spin" do século 21 não suja as mãos como os "ditadores do medo". Opositores? É possível prendê-los por crimes não políticos (fiscais, sexuais etc.). Ou, pelo menos, levá-los à falência com processos judiciais longos, labirínticos, insanos.
O mesmo vale para a propaganda e para a censura: o nazismo e o comunismo eram vociferantes e toscos no controle das mentes.
Um exemplo: quando Beria, o braço direito de Stálin, foi assassinado em 1953, os novos senhores do Kremlin obrigaram todos os proprietários da Grande Enciclopédia Soviética a removerem as páginas dedicadas a "Beria, Lavrenti" e a colarem nesse espaço um novo artigo sobre "Bering, estreito de".
O ditador do século 21 não precisa de cortar e colar. Os jornalistas e a mídia podem ser silenciados com os mesmos processos judiciais que calam a oposição.
Embora o ideal seja permitir, aqui e ali, alguns pequenos veículos de mídia críticos do regime, até para mostrar ao mundo que a autocracia não é autocrática. O "ditador do spin" preocupa-se com a percepção internacional.
Finalmente, as eleições. Esqueça vitórias eleitorais com 99% dos votos. Ninguém engole mais esse filme.
Desça para um patamar civilizado. Em 2006, quando o ditador de Belarus soube que o resultado "oficial" era de 93%, ele próprio, em gesto de grande humildade, exigiu 80%. "É um número mais europeu", justificou.
Não que o ditador do século 21 precise forjar as eleições. Ele tende a ser popular, genuinamente popular, sobretudo se a economia vai bem.
Mas, como argumentam Sergei Guriev e Daniel Treisman, o objetivo da fraude não é garantir a vitória; é mostrar a distância entre o incumbente e a oposição.
Vencer com 65% dos votos, por exemplo, chega para o serviço e ainda envia um importante sinal à população mais informada (e antirregime): se o ditador apresenta 65%, isso significa que ele venceu mesmo o pleito, mas com 55%. Uma inflação de dez pontos já faz parte da praxe.
É assim o notável livro de Sergei Guriev e Daniel Treisman: uma viagem às entranhas das novas formas de autocracia que é possível observar na Venezuela, na Hungria, na Rússia ou em Cingapura.
Como os próprios defendem, ainda existem "ditaduras do medo" no nosso século: na África, na China, em Cuba, no sinistro Afeganistão.
Mas entender as novas "ditaduras do spin" implica olhar para o marketing dos novos ditadores: eles não querem ser temidos, mas populares; não querem projetar uma imagem de terror, mas de competência.
E, pormenor fundamental, eles não esmagam as rebeliões como antigamente para se manterem no poder. Preferem esmagar a necessidade de rebelião por métodos indiretos, aparentemente legais, e sem espantarem os cavalos.
Será o futuro da autocracia?
Os autores são otimistas: as "ditaduras do spin" foram a resposta que os ditadores encontraram para travar as consequências inevitáveis do "coquetel da modernização", ou seja, a democracia.
Em sociedades pós-industriais, globalizadas e crescentemente liberais, os "ditadores do spin" tentam parar a marcha da história com um simulacro do produto genuíno. Infelizmente, a marcha da história não tem um único sentido. E não é de excluir que os "ditadores do spin" prefiram remover as máscaras e regressar aos velhos tempos. Fingir também cansa.
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