Imagem ilustrativa.| Foto: Unsplash
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Gatos são os melhores avaliadores de caráter que conheço. Homens que gostam de gatos não têm grande "sex appeal" entre as mulheres. Não sou eu quem diz. É a ciência. No dia de são Valentim, li no Wall Street Journal que duas pesquisadoras americanas resolveram medir a repulsa.

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É considerável. Primeiro, mostraram a foto de um homem sem gato a centenas de mulheres. Depois, mostraram a foto do mesmo homem, com um felino entre as mãos, a centenas de outras. O primeiro levou a copa. A conclusão do estudo é que homens com gatos são menos masculinos (e parecem mais neuróticos). Donde, menos atraentes para o sexo oposto.

Respeito a ciência. Mas vejo o estudo com olhos céticos – e não, não é pelo fato de ter uma gata (ou duas, contando com você, meu amor). É porque um estudo desses tem limites. Não vi o homem em questão. Mas se fosse um Brad Pitt, desconfio que até um pangolim teria o seu encanto.

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Por outro lado, será preciso dizer o quão erradas estão as mulheres? Se tivesse uma filha, a primeira coisa que lhe diria era para procurar homens com gatos (e estar atenta, muito atenta, a homens com cachorros; nem todos são confiáveis).

Para entender isso, é preciso entender primeiro o que é um gato. Digamos apenas isso: se você procura um animal submisso, que obedece aos seus caprichos e revela uma dependência quase patológica por você, não tenha um gato.

Os gatos são independentes, pedantes, aristocráticos. São capazes de escutar o próprio nome e fingir que não é nada com eles. E o afeto, quando existe, tem de ser conquistado arduamente: os gatos são os melhores avaliadores de caráter que conheço.

Como dizia Winston Churchill – os cachorros nos olham de baixo; os gatos nos olham de cima; só os porcos nos olham nos olhos.
Um homem que prefere ter um gato revela uma tal confiança em si mesmo que nem se importa de partilhar o espaço com um ser vivo que se julga melhor que ele. Ou, pelo menos, ao nível dele.
Haverá melhor definição de macho alfa?

Talvez: olhando para um falso macho alfa. Encontrei um exemplar da espécie em filme disponível na Amazon Prime. O título é "The Nest", foi dirigido por Sean Durkin e tem um par de atores (Jude Law e Carrie Coon) que, num mundo perfeito, seria coroado por todos os prêmios e honrarias. Não sei como foi que perdi essa preciosidade em 2020.

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Eis a história: Rory O'Hara, corretor britânico em Wall Street, decide regressar ao Reino Unido em busca da fortuna e do status que não conseguiu nos Estados Unidos. Para isso, arrasta a mulher (americana) e os filhos com ele, instalando a família numa mansão rural, a poucos quilômetros de Londres.

Mas não só. Rory escolhe os melhores colégios para os filhos; oferece à mulher um cavalo; contrata os melhores operários para construírem os estábulos; e deslumbra os colegas com proezas e conquistas que, vamos descobrindo, só existem na cabeça dele.

Não somos os únicos: Allison, a mulher, vai passando pelo mesmo processo, percebendo no seu macho alfa um gosto pela mentira e pela afetação que só revela a gigantesca fraude com que se casou.
E não deixa de ser revelador que as únicas lágrimas que ela concede no filme sejam para o cavalo, esse eterno símbolo da honradez e da nobreza, e não para o marido.

A obra de Sean Durkin é primorosa no retrato do falso macho alfa –ou, melhor dizendo, do abismo que existe entre a retórica viril e a triste fragilidade de Rory. Um homem eternamente dependente da validação dos outros e, por isso mesmo, fraco e ridículo. E falido, já agora, porque não há bolsa que aguente o carrossel de aparências em que Rory vive aprisionado.

Não conto o final, absolutamente brilhante na sua aparente banalidade –já não via um final tão bom desde a minissérie "Mrs. America", da HBO. Exceto para dizer que senti vergonha alheia ao ver o destino de Rory.

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Pois é: uma relação amorosa sobrevive a tudo, até à infidelidade. Mas quando uma mulher perde qualquer respeito por um homem, não há ressurreição que salve o cadáver.

Olhando nesse momento para o rosto de Allison, uma mistura de frieza e náusea que é também afirmação de autonomia, comentei apenas: "Como tudo teria sido diferente se essa mulher tivesse escolhido um homem amante de gatos".