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Dia 2 de janeiro, primeiro dia útil do ano que se inicia. As resoluções do Ano Novo estão fresquinhas, cheias de esperança. A sensação de renovação ainda está no ar, os brindes de despedida a 2023 ecoam em nossos ouvidos. Todo final de dezembro gostamos de cumprir à risca esse ritual de passagem de um ano a outro. Faz bem pensar que o que passou (ao menos o que não foi lá muito positivo), passou de verdade, e que teremos um ano verdadeiramente novo.
É uma sensação boa, de esperança, de que o amanhã ainda pode ser escrito; uma indefinição positiva, um futuro em aberto, esperando para ser desenhado conforme nossos desejos. Tudo muito lindo. O problema é que muitos dos grandes problemas de 2023 vão continuar em 2024 e excesso de otimismo, por si só, não vai ajudar em nada a resolvê-los. Da mesma forma, o pessimismo exagerado não é a solução: precisamos de uma boa dose de realismo e ação.
Não podemos perder a esperança – mas também não podemos deixar de ser realistas.
Tirando aqueles que acham que tudo no Brasil correu às mil maravilhas em 2023 – e eles existem –, muita gente (graças a Deus!) conseguiu enxergar o óbvio: as liberdades em nosso país estão cada vez mais capengas; o direito de pensar, se posicionar politicamente ou mesmo de expor ideias é minado diariamente; a palavra democracia virou justificativa para ações nem um pouco democráticas; nosso Judiciário despirocou de vez, colocando-se como um Poder Supremo que tudo pode fazer sem ser questionado; os integrantes do Congresso Nacional – com raras exceções – se mostram omissos e acovardados; o presidente do país, cada vez mais lunático, só se importa em bajular ditadores – talvez aspirando tornar-se como eles – ou inflamar os discursos contra qualquer um que não seja de esquerda.
Seria ótimo que no exato momento em que o relógio passou das 23h59 do dia 31 de dezembro de 2023 para 00h00 de 1º de janeiro de 2024, todas essas questões tivessem ficado no passado. Imaginem só: fazemos o brinde de Ano Novo e colocamos uma lápide na corrosão institucional, na erosão das liberdades, na falta de caráter de nossos líderes. Mesmo que não fosse uma garantia de um ano de 2024 sem problemas, ao menos uma boa parte de nossas preocupações estaria amenizada. A questão é que não vivemos num conto de fadas. E é quase certo que tudo isso vai continuar em 2024 – isso se não piorar.
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Não espere que os membros do nosso Judiciário caiam em si e deixem de lado o papel de atores políticos. É provável, aliás, que a sede de nossos ministros por poder se torne ainda mais insana. Muito menos acredite que um raio de iluminação possa atingir a cabeça do presidente em terceiro mandato e que ele deixe de apoiar seus companheiros ditadores ou pare de perseguir quem não lambe as botas do esquerdismo. E é bom tirar o cavalinho da chuva se acredita que nossos deputados ou senadores deixarão de nos dar motivos para desacreditar na política.
Isso significa, então, que tudo está perdido? Não! De maneira alguma. Só significa que precisamos estar avisados: teremos muito trabalho pela frente em 2024. E pode ser que não tenhamos o apoio tão fácil das nossas lideranças. Será ano eleitoral, então teremos lindos discursos e promessas vazias, mas ações positivas só virão com (muita) organização, mobilização e pressão popular. Não podemos perder a esperança – mas também não podemos deixar de ser realistas. Obrigado a cada um dos meus nobres leitores de 2023 – e que possamos caminhar juntos neste 2024. Precisamos seguir em frente.