Imagine o Brasil como um país governado por um ditador corrupto, onde o Judiciário só serve para chancelar o que o governo deseja, o Legislativo é praticamente inócuo e os integrantes da oposição são perseguidos como inimigos do Estado. A economia também vai mal — muito mal — a miséria se alastra, há falta de alimentos, os salários são ínfimos, e a liberdade é cada vez mais minada. A situação é tão caótica que muitos cidadãos decidem abandonar o próprio país e buscar refúgio no estrangeiro. Estou falando da Venezuela, aquela mesma que muitos apontam como um exemplo do que o Brasil pode se tornar no futuro.
Para o terror de todos, essa ameaça não é só uma ideia mirabolante, coisa de gente doida, mas algo que pode, sim, se tornar realidade. Lembremos que a passagem da democracia à ditadura não precisa acontecer de forma abrupta; na verdade, é até mais perigosa quando se instala gradativamente e sem alarde. Podemos, sim, por que não, estar em pleno processo de “venezuelização”, para horror dos defensores das liberdades e a alegria dos estatizantes de boina na cabeça e bandeira vermelha na mão.
A maioria dos venezuelanos que votou em Hugo Chávez em 1998 não queria que seu país se transformasse em uma ditadura — e nem tinha ideia de que era isso que aconteceria.
A Venezuela nem sempre foi o que é hoje. Ela já foi considerada uma das maiores economias do mundo, sua população já viveu dias de prosperidade, e sua democracia causava inveja em outros países. Em 1976, uma reportagem do jornal espanhol El País tratava a Venezuela como um verdadeiro oásis democrático e próspero em meio às ditaduras latino-americanas.
“Na Venezuela existe liberdade genuína. Além disso, é o único país latino-americano em condições de exigir o cumprimento dos acordos de direitos humanos nos países do continente”, começa a reportagem espanhola. Difícil acreditar, não? Na época, lembremos, havia regimes ditatoriais por toda a América Latina, e a Venezuela recebia refugiados de vários lugares. Hoje, são os venezuelanos que fogem do próprio país em busca de ares mais democráticos.
O paraíso venezuelano começou o caminho para a derrocada a partir da década de 1980, quando a economia do país entrou em crise, mas foi a partir do final da década seguinte que as coisas degringolaram de vez — para a ditadura. Uma lição importante, mas quase sempre esquecida: tempos sombrios e desesperançosos são ambiente propício para adesão a “salvadores da pátria” populistas e seus discursos disparatados.
Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), em 1998 (um ano antes da chegada de Hugo Chávez ao poder por meio de eleição popular) a Venezuela sustentava o segundo maior PIB per capita do subcontinente, atrás apenas da Argentina. Hoje, o país tem a menor renda, e metade da população vive na pobreza. A desigualdade também é aberrante: a diferença de renda entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres no país é de quase 35 vezes. Quanto à democracia e respeito às liberdades, nem é preciso comentar. Se na década de 1970 o país era considerado uma democracia sólida, com a chegada e o avanço do bolivarianismo, tornou-se o que é hoje: uma ditadura — ou “democracia relativa”, como gosta de falar Lula.
Certamente, a maioria dos venezuelanos que votou em Hugo Chávez em 1998 não queria que seu país se transformasse em uma ditadura — e nem tinha ideia de que era isso que aconteceria. Ao contrário, é bem possível que a população simplesmente tenha acreditado no discurso populista de Chávez, em suas promessas de diminuição da pobreza, aumento de renda e melhoria das condições de vida. Foi essa esperança, concretizada em apoio popular e político, que ajudou a manter o regime bolivariano nos primeiros anos e fechou os olhos da população para as medidas cada vez mais antidemocráticas que foram se sucedendo ao longo dos anos. Após Chávez, Nicolás Maduro seguiu os passos de seu antecessor até conseguir fazer da Venezuela o que é hoje: uma ditadura em que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário se entrelaçam perniciosamente para se perpetuarem no poder e reprimir qualquer tentativa de mudança.
O Brasil não é a Venezuela — graças a Deus! — mas o país não está imune à ditadura, em especial a essa que, como aconteceu nas terras caribenhas, se instala de mansinho, bem disfarçada, sem sustos, avançando lentamente e com o aval — ou descaso — de boa parte da população. Perceber isso a tempo é vital.
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