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Uma coisa muito básica em qualquer democracia (séria) do mundo é a coexistência de atores políticos distintos, que podem livremente expor seus posicionamentos, defender suas ideias e também criticar os governos e poderosos de ocasião. Quando um poder ou instituição faz com que essas vozes discordantes ou opositoras se calem – seja pela perseguição direta ou por restrições progressivas à liberdade de expressão – estamos diante da morte da democracia. Simples assim.
É por isso que quando um presidente de um país supostamente ainda democrático busca demonizar seus opositores, tentando rotulá-los como “golpistas”, “fascistas”, “canalhas”, “animais” e lamenta que “bolsonaristas ainda não foram derrotados” ou que um futuro presidente do Supremo Tribunal Federal se vangloria de lutar contra o “bolsonarismo” – segundo ele, o “extremismo golpista e violento” – estamos diante de um péssimo sinal.
De ditaduras nascidas de ações supostamente tomadas para defender a democracia, o mundo está cheio.
Lembremos a mais óbvia das obviedades: ninguém pode (ou deveria) ser perseguido por sua posição política. Ser “bolsonarista” não é motivo para alguém ser combatido: é simplesmente uma escolha individual que precisa ser respeitada. Os 58.206.354 brasileiros que votaram em Bolsonaro – e por isso podem ser chamados de “bolsonaristas” – não são bandidos, nem inimigos a serem combatidos: são cidadãos que expressaram por meio do voto sua preferência eleitoral.
A única maneira aceitável numa democracia de se “combater” o bolsonarismo (ou qualquer posicionamento político) seria por meio do embate de ideias: num ambiente de liberdade de pensamento, buscar mostrar aos partidários de Bolsonaro que as ideias de Lula e seu partido são melhores e mais propícias a levar o país ao desenvolvimento e assim convencê-los a mudar de posição... Claro, há um caminho muito mais fácil: negar voz à oposição, retirar o direito de que eles se posicionem e exponham suas ideias, fazer com que sejam vistos como bandidos, desordeiros ou inimigos, não de Lula ou do governo petista, mas da democracia ou mesmo do país. É esse exatamente o caminho adotado pelas autocracias.
Muitos acreditam que as democracias terminam somente de forma abrupta, mas isso não é verdade. Cada vez mais temos ditaduras nascidas a partir da deterioração sistemática das instituições e o cerceamento gradual das liberdades, especialmente a de expressão e de pensamento da oposição ou de críticos do mandatário de plantão. É essa, talvez, a estratégia mais nefasta: os atentados às instituições e liberdades são tão graduais e quase sempre tão bem disfarçados de “boas intenções” que passam despercebidos.
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De boas intenções, já dizia o ditado popular, o inferno está cheio. De ditaduras nascidas de ações supostamente tomadas para defender a democracia, o mundo também está cheio, infelizmente. Muitos países hoje sob regimes autoritários já foram democracias. Alguns até insistem em mentir que continuam sendo democráticos mantendo eleições fraudulentas, onde apenas o governo tem chance de ser eleito – opositores simplesmente não existem, são proibidos de concorrer ou têm suas campanhas minadas pelo poder do Estado. Miremos o exemplo da nossa vizinha Venezuela, uma ditadura com “mais eleições que o Brasil”, como disse Lula certa vez, e que é um regime autocrático em todos os sentidos, por mais que o mesmo Lula insista em defender que há democracia por lá.
Estou exagerando? Talvez sim, mas temo que não. A verdade é que estamos em meio a ataques diretos e contínuos à liberdade de se expressar e se posicionar contra o governo atual e seus apoiadores – como se só houvesse um único posicionamento político permitido e aceito no Brasil de hoje, o de puxa-saco do lulopetismo. É um caminho perigoso e que não pode ser ignorado. Fingir não perceber o que está acontecendo no Brasil é tudo o que os censores de plantão e aspirantes a autocratas mais desejam.
Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima