Pergunta rápida: caro leitor, você, sinceramente, acha que os governos em geral cumprem bem o seu papel? São eficientes no uso do dinheiro público, rápidos em responder às demandas da população, prezam pela moralidade, combatem a corrupção, estimulam o setor produtivo a crescer e gerar mais riqueza para o país, enfim, respeitam o cidadão (e eleitor)?
Não sei qual é a sua resposta, mas o que mais vejo por aí, com raras e louváveis exceções, são governos e governantes sofríveis, que gastam muito e muito mal, só pensam em se autopromover e pouco se importam com a população. E que, mesmo assim, querem ser a todo tempo louvados e ovacionados como heróis, isso quando não inventam de perseguir ou tentar calar quem ousa apontar sua ineficiência.
A união das pessoas em torno de uma iniciativa, como a que se vê em prol do Rio Grande do Sul, assusta os (maus) políticos.
É esse último movimento, aliás, que temos visto ser colocado como prioridade para o governo lulista: calar os críticos virou uma “obsessão”, como diria J.R. Guzzo, para o governo federal. Isso ficou ainda mais evidente com as enchentes no Rio Grande do Sul. Em vez de concentrar esforços no atendimento rápido e efetivo às milhares de vítimas da tragédia, a preocupação principal do governo tem sido falar em supostas “fake news”, e aqui, claro, se trata do que o governo federal entende por “fake news”, ou seja, qualquer crítica ou questionamento sobre a atuação de Lula e seus aliados.
Até postagens enaltecendo a atuação da população entraram na lista das fake news, com o argumento de que estariam desmerecendo a ação governamental. Isso, obviamente, não faz nenhum sentido. Numa situação como a do RS, os governos têm obrigação de agir. Nada do que façam para atender às vítimas ou minimizar danos pode ser considerado um “favor” ou benesse: é pura e simplesmente o cumprimento mínimo de seu dever como governo.
Quem merece aplausos mesmo é a população brasileira, que se uniu em prol do Rio Grande do Sul e não os governos, muito menos aqueles que tentam usar uma tragédia como trampolim eleitoral para eleger seus candidatos ou reconquistar popularidade.
Os maus governos e os piores governantes se alimentam do paternalismo político há décadas no Brasil. Eles tentam manter a todo custo a ideia de que nós, a população, somos crianças que precisam ser tuteladas o tempo todo, nos curvando à vontade do pai todo-poderoso (Estado), dependentes de tudo e em tudo, ignorantes, débeis, insignificantes.
Na lógica distorcida do paternalismo político, só caberia à população ovacionar e aplaudir todas as falas dos mandatários, mesmo as mais absurdas, jamais questionar ou criticar, apenas cumprir com seus deveres (pagar impostos para alimentar o Estado e eventualmente votar). Nos casos extremos, nos países onde a democracia deu lugar ao autoritarismo e às ditaduras, isso é ainda mais evidente. A pessoa não tem qualquer valor, apenas existe a vontade do Estado (e do seu governo).
Isso explica a ojeriza dos políticos com qualquer ação que mostre a mobilização popular independente. A união das pessoas em torno de uma iniciativa, como a que se vê em prol do Rio Grande do Sul, assusta os (maus) políticos. Eles querem uma população dependente e apática, que apenas cruze os braços e acredite que tudo depende da boa vontade dos governantes – e se contente com as migalhas que eles atiram de tempos em tempos. Para maus governantes, é muito melhor que a população não perceba que pode, sim, ser capaz de agir e transformar a realidade ao seu redor, muitas vezes – quase sempre – de forma muito mais efetiva e eficiente que a dos governos.