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Pimenta e Lula - regulação da mídia
O ministro da Secom, Paulo Pimenta, e o presidente Lula (PT)| Foto: Joedson Alves/Agência Brasil

É natural que diante de um acontecimento apareçam várias versões diferentes sobre o ocorrido. Uma versão pende para um lado, outra, na direção oposta – e assim por diante. Num mundo ideal, teríamos acesso a várias dessas versões, as analisaríamos, faríamos comparações, e depois de muito refletir, teríamos a nossa visão sobre o acontecimento – nossa opinião sobre o assunto. E poderíamos expressá-la livremente. Como não vivemos num mundo ideal, há quem se ache no direito de limitar as versões a que temos acesso. Ou ainda determinar exatamente o que pode ou não ser dito, e definir o que é verdade ou não.

Usando a caneta da censura, alguns poucos – que devem se considerar seres iluminados – tentam calar as vozes muito complexas ou diferentes, usando os mais inusitados argumentos. Já falaram, por exemplo, numa tal de “desordem informacional” – que, em tese, seriam aquelas informações verdadeiras, mas “muito complexas” para nós, pobres cidadãos brasileiros receberem e avaliarem e que por isso levariam a conclusões supostamente “falsas”.

Esse foi o argumento usado para retirar do ar (censurar) em outubro de 2022 um vídeo que relembrava os vários casos de corrupção relacionados aos dois primeiros governos de Lula. Ora, nada no vídeo era incorreto, mas, segundo os seres iluminados, poderia levar a conclusões “equivocadas” a respeito de Lula, na época candidato. Por que, vocês devem lembrar, Lula foi condenado por corrupção, mas posteriormente, por decisão do STF, os processos (e condenações) contra ele foram anulados.

Seria um erro, no entender dos seres iluminados, ver Lula ligado à corrupção (cof, cof, cof) e aí o zelo dos censores com o que mencione “Lula” e “corrupção” na mesma frase. Tudo para nos proteger do erro de pensar (Deus nos livre!) que Lula em algum momento esteve envolvido com corrupção das grandes.

Outro perigo que tem tirado o sono dos poderosos de plantão são as tais fake news – uma ameaça tão complexa que até agora ninguém foi capaz de definir realmente o que elas seriam. Você deve ter visto, por exemplo, que segundo o governo federal, são as fake news o verdadeiro problema a ser enfrentado no Rio Grande do Sul, onde milhares de pessoas foram afetadas pelas chuvas – eu, na minha ingenuidade, achei que o mais urgente seria atender às vítimas.

Um ministro de Lula, chegou a usar a palavra com F para se referir a quem estaria espalhando as tais fake news de que o governo federal estaria fazendo bem menos do que deveria fazer, e que foi a própria população quem socorreu os gaúchos com muito mais empenho e dedicação do que qualquer governo.

O ministro disse que era preciso "botar pra f* com os caras” – o que significa empenhar a Polícia Federal, a Advocacia-Geral da União, o Ministério da Justiça e outros departamentos para punir quem ousar contradizer o que o governo federal ou outros seres supremos dizem ser a verdade. Até um protocolo de intenções entre diversas plataformas e o governo foi assinado, o que vai permitir que as próprias redes sociais excluam sumariamente aquilo que considerarem fake news sobre o RS – usando os critérios do governo, claro.

Aliás, você pode não saber, mas há uma imensa máquina estatal – ou seja, paga por você – trabalhando a todo vapor para separar a verdade segundo o Estado, das fake news – que na maioria das vezes são só verdades inconvenientes aos poderosos. É seu dinheiro, por exemplo, que paga as várias agências de checagem contratadas pelo governo federal para identificar as tais fake news.

Um fundo criado no ano passado, presidido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) vai investir 42 milhões para analisar "expedientes de desinformação" e da "manipulação do debate realizado na esfera pública" nas redes sociais. São 42 milhões de reais para pagar gente que vai ficar pescando supostas fake news – usando para isso os critérios definidos pelo governo e seres supremos. Veja bem, é claro que existe gente que espalha mentiras usando as redes sociais – ofende, incita crimes, calunia inocentes. Mas não é essa a preocupação do governo e você sabe disso. O que preocupa o governo são as críticas, os questionamentos, o debate. É isso o que eles querem combater.

É como se estivéssemos caminhando a passos largos em direção a uma distopia onde nossa reflexão, nossa pesquisa, leituras e análises da realidade serão totalmente dispensáveis, porque quem determinará o que é verdade, o que pode ser dito ou pensado, serão os poderosos e governos de plantão. E o mais assustador é que a maioria das pessoas parece não ter se dado conta disso.

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