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Faz pouco mais de uma semana que o X foi “autorizado” a voltar a funcionar no Brasil. Ficamos um mês na mesma situação das ditaduras onde o X é proibido – como na Venezuela, na Rússia ou na Coreia do Norte. Por aqui, tivemos até um gostinho a mais: quem tentasse burlar o bloqueio nacional por meio do uso de uma ferramenta de VPN ficou sujeito a pagar uma multa de R$ 50 mil, mesmo que fosse só para dar uma espiadinha no que o restante do mundo andava publicando na rede social.
Agora o X voltou – mas não como uma conquista da democracia, do respeito às liberdades ou ao Estado Democrático de Direito. Ao contrário, a volta do X vem com o gosto amargo do avanço do autoritarismo judicial, do achincalhamento da lei e – talvez pior que tudo – da indiferença da sociedade. Não há nada de normal na volta do X, assim como não é nada normal que a maioria das pessoas não seja capaz de entender a gravidade do que ocorreu.
O X voltou – mas não como uma conquista da democracia, do respeito às liberdades ou ao Estado Democrático de Direito. Ao contrário, a volta do X vem com o gosto amargo do avanço do autoritarismo judicial
Um mês atrás, o X foi bloqueado no Brasil por ter se recusado a se curvar diante de exigências absurdas de um ministro do STF. (Aqui, um pessoal que gosta de autoritarismo, como os pseudo-jornalistas que só sabem aplaudir os desmandos do STF vão chiar com aquele blá-blá-blá de sempre, dizendo que o problema foi o X não ter representante legal no país e que Musk queria “ferir a soberania nacional” – mas sabemos que não foi isso). E agora, após o primeiro turno das eleições, foi desbloqueado justamente porque se sujeitou às vontades do ministro supremo – que, aliás, inventou mil e um impedimentos para que o retorno da rede social demorasse ainda mais.
Nesse meio-tempo, o que mais se viu, salvo algumas manifestações de repúdio aqui e ali, foi uma inação preocupante. Imagine-se em um barco, junto de uma ou duas dezenas de pessoas, e, nesse barco, começam a surgir pequenos buracos, pelos quais a água invade lentamente. Pois bem, agora imagine que todos ao seu redor permanecem absolutamente indiferentes à água que continua a entrar no barco. E há alguns que vão além, divertindo-se com cada novo buraco que se abre no casco do barco, aplaudindo alegremente a água que entra – e, que, caso nada seja feito, fatalmente levará o barco e seus passageiros ao fundo do rio ou do mar.
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É essa a sensação que se tem ao assistir ao silêncio e à conivência, especialmente daqueles que teriam a obrigação de zelar pela democracia (a real, fundamentada na Constituição, nas leis, na liberdade de expressão e pensamento, não a democracia de mentirinha), diante do bloqueio e agora desbloqueio do X no Brasil. A história do sapo sendo lentamente fervido, sem perceber o aumento gradativo da temperatura da água, parece ser mesmo verdade.
Exatamente esse silêncio, essa apatia e inação é o que permite que cada vez mais buracos sejam feitos na já tão maltratada democracia brasileira. É fato conhecido que todos os que flertam com o autoritarismo, seja onde for, adotam a censura como estratégia, reprimindo as vozes discordantes e criando crimes inexistentes, só para perseguir aqueles que insistem em reagir e se manifestar contra os avanços contra o Estado de Direito e as liberdades. O silêncio da população, das instituições e das lideranças é o melhor alimento para os desmandos dos tiranos.