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Jocelaine Santos

Jocelaine Santos

Liberdade de expressão é condição necessária para a democracia

E se não fosse Haddad?

Tem sentido chamar meme de desinformação?

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Todo mundo já viu e, se tiver um mínimo de senso de humor, riu de algum dos memes envolvendo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Tem Haddad de todo jeito, de “Taxa Humana” a “Zé do Taxão”, todos associando o ministro despreferido do PT ao aumento de impostos. Como sempre acontece com qualquer coisa que possa ser interpretada como uma crítica ao governo federal, houve quem chiasse e acusasse os memes de ser uma ação da “direita extremista” para disseminar “desinformação” a respeito de Haddad.

O motivo seria o “sucesso” (isso mesmo) da política econômica lulista. Não inventei nada disso: foi a própria presidente do PT que defendeu essa ideia bizarra, dizendo que os memes são “mais uma prova de que a economia do país vai melhorando e isso deixa a oposição apavorada”. A economia está melhorando só se for para o governo, que cada dia consegue um jeito de espremer mais imposto de quem trabalha, mas deixemos isso de lado. A questão principal é: dá para chamar um meme de “desinformação”? Alguém em sã consciência pode cobrar veracidade ou exatidão a um meme humorístico? E, mais importante, se fosse um meme com um político da oposição à Lula, a reação seria a mesma?

Até pouco tempo, havia muito mais tolerância com críticas ao governo federal – quando o governo não era o de Lula

As críticas a Haddad fazem todo o sentido. Desde o início do governo Lula, o apetite estatal por mais impostos parece insaciável. Além de Haddad, há muitos outros que também mereceriam memes de “Taxa Humana”, incluindo o próprio Lula, que, aliás, aparece em vários memes junto com Haddad, como o do “Taxati e Taxalá” e “Largados e Taxados”. Ou aqueles parlamentares que estão empenhados em usar a tal reforma tributária para aumentar ainda mais a carga de impostos no país.

O problema é que rir não faz parte da agenda de quem tem está no poder, como ressalta reportagem de Gabriel de Arruda Castro na Gazeta do Povo. Já mencionei aqui o quanto poderosos têm ojeriza a qualquer tipo de crítica – mesmo quando as críticas aparecem na forma de humor. Enquanto o descontentamento dos poderosos fica restrito ao esperneio e lamentações vazias, como a feita pela presidente do PT, tudo bem. Faz parte do jogo. Tentar responder a crítica, como desastrosamente tentou fazer o próprio governo, com um meme sem graça nenhuma dizendo que “O Brasil agora terá um sistema tributário simples e justo!” (essa afirmação sim uma grande piada), também faz parte do jogo.

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A questão complica quando os políticos usam seu poder e a máquina pública para tentar cercear ou impedir essas críticas. Não é nem um pouco difícil imaginar a Advocacia-Geral da União (AGU), por exemplo, querendo investigar os memes, identificar seus autores e persegui-los. Numa democracia séria, ninguém perderia tempo com um meme sobre um ministro, já no Brasil de hoje...

Até pouco tempo, havia muito mais tolerância com críticas ao governo federal – quando o governo não era o de Lula. Em maio de 2021, um site, o Bolsoflix, registrado num paraíso fiscal, através de um servidor que se vangloriava de garantir o anonimato dos clientes, reuniu dezenas de vídeos contra o então presidente Jair Bolsonaro e sua família. A proposta, declarada no próprio site, era ser o “maior e melhor acervo onde encontrar o vídeo ideal contra Bolsonaro”.

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Não se tratava, logicamente, de uma iniciativa independente ou “orgânica”, como se diz. O objetivo era muito claro “evitar que as pessoas votassem no 'Bozo’" no ano seguinte, como se lia na página. O material era bem produzido, narrado por celebridades da esquerda, realmente profissional. Alguns eram engraçados, outros apenas ofensivos. Havia também conteúdo pesado, nada parecido com os memes “fofos” com Haddad. Eram dadas até orientações para compartilhar o material com “aquele povo meio em cima do muro, que não se interessa tanto assim por política”.

Desconheço se o governo de Bolsonaro tentou fazer algo contra o site ou seus autores. Ou que jornalistas tenham questionado os conteúdos, como vêm fazendo vários membros da imprensa em relação aos memes de Haddad – alguns jornalistas até defenderam uma “regulação dos memes”, ou seja, censura. Todo o conteúdo do Bolsoflix ficou no ar por mais de um ano, só sendo derrubado por ordem do Tribunal Superior Eleitoral em setembro de 2022, um mês antes das eleições. Será que se aparecesse hoje um site reunindo memes e vídeos contra Lula e seus aliados, duraria tanto tempo?

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