O premiê britânico, Boris Johnson, em visita no último fim de semana ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Kiev: Reino Unido anunciou o envio de mísseis antinavio e blindados| Foto: EFE/EPA/Presidência da Ucrânia
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No início da guerra, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a União Europeia decidiram enviar à Ucrânia o que consideravam “armas de defesa” - especialmente lança-foguetes anticarro e lança-mísseis Javelin, Stinguer e Starstreak, além de coletes à prova de balas e capacetes.

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O medo era que o presidente russo Vladimir Putin atacasse um país membro da OTAN (aliança militar ocidental) que tivesse enviado armas para a Ucrânia. Mas esse posicionamento foi mudando na medida em que surgiram denúncias de crimes de guerra cometidos contra civis pela Rússia.

O envio das chamadas armas de defesa por potências simpáticas a uma nação mais fraca durante uma guerra contra um país mais forte ocorreu diversas vezes no século XX sem provocar escaladas maiores dos conflitos. Os Estados Unidos supriram os afegãos de armas em sua guerra contra a União Soviética (1979-1989) e os soviéticos, por sua vez, fizeram o mesmo com adversários dos seus rivais nas guerras do Vietnã (1955-1975) e da Coreia (1950-1953).

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Mas enviar armas de ataque sempre foi um tabu. Isso ficou evidente no começo de março deste ano, quando os EUA sugeriram à Polônia que doasse seus aviões de caça MIG-29 para a Ucrânia. Os poloneses disseram que disponibilizariam as aeronaves, mas que os EUA deveriam entregá-las. Washington voltou atrás, alegando medo do conflito se espalhar pela Europa.

Mas esse receio do episódio dos MIGs parece estar se desfazendo, na medida em que surgem denúncias de crimes de guerra - como as centenas de civis mortos com características de execução, encontradas quando as tropas russas se retiraram de Bucha, nos arredores de Kiev.

A República Tcheca tomou a dianteira e enviou blindados T-72, em uma evidente escalada na intensidade da ajuda militar. Após um ataque a uma estação de trens com milhares de refugiados em Kramatorsk, o premiê britânico Boris Johnson anunciou o envio de mísseis antinavio e blindados.

Os Estados Unidos, por sua vez, estudam formas de mobilizar sua base industrial de defesa para fornecer armas a longo prazo para a Ucrânia. Só os EUA já enviaram US$ 1,7 bilhão em ajuda militar à Ucrânia. A União Europeia enviou 1 bilhão de euros e a Grã-Bretanha recentemente anunciou mais 100 milhões de libras em ajuda.

Contudo, apesar do receio de mandar armas das potências ocidentais ter arrefecido, a possibilidade de que a OTAN seja tragada pelo conflito aumenta na medida em que crescem os envios de armas. Outra hipótese que vem ganhando força é que as nações ocidentais estejam começando a enviar armas de forma secreta à Ucrânia - ou seja, sem o anúncio público, para não aumentar as tensões com a Rússia.

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Veja abaixo quais são as armas conhecidas que estão entrando na Ucrânia:

Carros de combate

A República Tcheca enviou à Ucrânia ao menos 12 tanques de batalha de fabricação soviética T-72, que foram modernizados. Esses blindados possuem um canhão de 125 mm, ao menos uma metralhadora de calibre 7.62 mm e são operados por uma tripulação de três militares.

São os carros de combate mais utilizados tanto por ucranianos como por russos no campo de batalha. As vantagens do T-72 são que se trata de um blindado de fácil manutenção e que as forças ucranianas já estão acostumadas a operar.

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Porém, há carros de combate de maior capacidade e blindagem na guerra da Ucrânia. Além dos tanques, a República Tcheca enviou à Ucrânia também um número não divulgado de blindados de transporte de tropas.

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A empresa alemã Rheinmetall afirmou que vai enviar 50 tanques de batalha Leopard I, se for autorizada pelo governo alemão. As primeiras entregas começariam em seis semanas, segundo o jornal Handelsblatt. Assim como o T-72, esse blindado começou a ser produzido na década de 1960. Chegou a ser o principal tanque de batalha de muitos exércitos europeus, mas foi ultrapassado e hoje desempenha papel secundário nas forças armadas que ainda os possuem. Ele tem um canhão de 105 mm, duas metralhadoras 7.62 mm e é operado por uma tripulação de quatro militares.

A Grã-Bretanha prometeu enviar 120 blindados para a Ucrânia. Especula-se que eles sejam veículos de patrulha Masfiff, usados no Afeganistão. Eles podem carregar dois tripulantes e oito combatentes. São armados com metralhadoras 7.62 mm, 12.7 mm ou lançadores de granadas.

Defesas antiaéreas

A Eslováquia enviou à Ucrânia sistemas de mísseis antiaéreos S-300, também da era soviética. Modernizado, trata-se de um dos sistemas de defesa antiaérea mais eficientes da atualidade. A partir de caminhões, ele dispara mísseis que voam seis vezes mais rápido que o som e atingem alvos a 80 quilômetros de distância. São muito importantes para a Ucrânia, pois podem abater mísseis de cruzeiro e aviões de ataque russos.

Moscou afirmou ter destruído quatro desses lançadores de mísseis nesta semana na região de Dnipro. A Eslováquia negou que os S-300 enviados pelo país tenham sido atingidos. A Ucrânia já possuía esse tipo de armamento. Analistas militares afirmam que os ataques aos S-300 em Dnipro fazem parte de uma preparação para uma grande ofensiva terrestre russa que deve acontecer na região de Donbass.

A Ucrânia também recebeu centenas de foguetes Stinger, de fabricação americana. Diferente dos S-300, eles são armas pequenas, que podem ser transportadas e operadas por um ou dois combatentes. O míssil é disparado do ombro de um soldado e pode atingir helicópteros ou aviões voando em baixa altitude (até 3,8 quilômetros) a uma distância máxima de pouco mais de 4 quilômetros.

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A Grã-Bretanha também enviou armas similares, porém, mais modernas que os Stingers. Os Starstreak atingem aeronaves voando a 5 quilômetros de altura e 7 quilômetros de distância.

Mísseis navais

A Grã-Bretanha afirmou que enviará à Ucrânia mísseis antinavio. O objetivo é dar meios para os ucranianos defenderem os portos que ainda estão sob seu controle: Odessa e Mykolaiv. Acredita-se que a arma enviada possa ser o míssil Harpoon, que pode ser disparado de aviões ou baterias costeiras montadas em caminhões. Ele voa próximo da superfície do mar e pode atingir alvos a cerca de 140 quilômetros de distância.

Analistas militares temem que essa arma especificamente tenha potencial para criar uma escalada no conflito. Eles temem um cenário no qual um navio de guerra russo seja atingido por um desses mísseis e vá a pique, deixando mais de uma centena de marinheiros mortos em um único ataque. Isso poderia levar a Rússia a retaliar com armas nucleares táticas ou até realizar ataques em um país membro da OTAN.

Artilharia

Estados Unidos e nações europeias estão tentando evitar que a Ucrânia fique sem munição de artilharia. A República Tcheca já enviou 12 canhões howitzers para ajudar no esforço de guerra.

Os Estados Unidos avaliam agora a possibilidade de mandar sistemas de contrabaterias. Ou seja, equipamentos de radar e de artilharia que servem para localizar e destruir a artilharia russa. A Ucrânia vem pedindo blindados de artilharia autopropulsada, ou seja, um canhão de artilharia montado num blindado que, diferente dos howitzers, não precisa ser rebocado por outro veículo no campo de batalha.

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Drones

A Ucrânia recebeu da Turquia drones Bayraktar TB2, que são aviões de grande porte não tripulados e armados de mísseis. Eles foram muito eficientes para destruir blindados russos no início da campanha, mas estão sendo menos utilizados desde que a Rússia melhorou seus sistemas de defesa antiaérea.

Washington prometeu mandar à Ucrânia drones de menor porte que voam a cerca de 100 km/h carregados de explosivos, que detonam quando eles se chocam com o inimigo.

Armas para infantaria

Países europeus e os EUA têm enviado desde o início da guerra armas de uso individual, especialmente fuzis, e munição para os combatentes ucranianos. Eles também têm enviado foguetes anticarro e lança-mísseis Javelin - que se tornaram a arma mais popular da guerra por poderem ser operados por apenas um combatente e terem a capacidade de destruir com eficácia blindados pesados da Rússia. Os EUA devem passar a enviar também minas Claymore, com o objetivo de conter o avanço da infantaria russa.