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Jogos de Guerra

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Coluna semanal com reportagens exclusivas sobre assuntos militares, indústria bélica, forças armadas, zonas de conflito e geopolítica, com o jornalista Luis Kawaguti. Assista também à live semanal no canal do YouTube da Gazeta do Povo.

Massacre de Bucha

Ucrânia acusa Rússia de usar civis como iscas humanas

Fitas brancas em corpos de civis encontrados após retirada das tropas russas geram interpretações contraditórias (Foto: Divulgação)

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Militares ucranianos fizeram mais uma acusação de crimes de guerra contra tropas russas no cenário que vem sendo chamado de Massacre de Bucha. Segundo eles, civis teriam sido obrigados a usar um símbolo russo no braço, com o suposto objetivo de serem baleados por tropas ucranianas.

Poucas evidências dessa prática foram fornecidas pelos ucranianos e a Rússia nega a alegação. Mas a forma como os civis estão sendo identificados no campo de batalha é um fator importante para se entender o número de mortes de não combatentes na guerra da Ucrânia - que já ultrapassa as 1,4 mil, segundo o relatório mais recente da ONU.

Depois que as tropas russas se retiraram da cidade de Bucha, nos arredores da capital, Kiev, no dia 30 de março, fotos e vídeos revelaram que dezenas de corpos de civis foram encontradas nas ruas. Eles seriam mais de 300, segundo o governo ucraniano.

Algumas dessas pessoas tinham um item peculiar na vestimenta: um pedaço de pano ou fita adesiva branca enrolada no braço.

O que isso significa?

Militares russos e ucranianos usam veículos de combate, armas e até fardas muito parecidas. Para evitar o “fogo amigo” no campo de batalha, os ucranianos usam fitas amarelas ou azuis no braço. Os russos usam fitas brancas.

Mas por que corpos de civis estão aparecendo com essas fitas brancas? Eles poderiam ser combatentes usando roupas civis, mas isso não explica toda a questão. Alguns dos mortos não estavam em idade militar e usavam as fitas nos braços.

Militares ucranianos vêm afirmando que os russos obrigaram civis a usar a identificação branca e ordenaram que caminhassem em direção a áreas ocupadas por tropas ucranianas. A ideia era que os militares ucranianos os confundissem com russos e atirassem para matar.

Mas qual seria o objetivo disso? Segundo os combatentes no terreno, a ideia seria fazer os ucranianos dispararem suas armas, revelando assim sua posição no campo de batalha - sem expor tropas russas ao perigo. Os russos poderiam então bombardear as posições ucranianas.

Contudo, parece pouco provável que as tropas ucranianas não consigam distinguir um combatente russo de um civil com uma faixa branca no braço. Mas é fácil tentar julgar sem estar no calor da batalha.

Já o presidente Volodymyr Zelensky parece ter uma interpretação diferente sobre as mortes de civis em Bucha. Ele afirmou à ONU que russos estariam matando civis ucranianos “por prazer”.

Muitas das situações relatadas por ele - como pessoas tendo as línguas cortadas, estupros ou simulações de execução como forma de tortura psicológica - remetem ao passado desta região, quando tropas soviéticas invadiram países do leste europeu durante a Segunda Guerra durante o combate aos nazistas.

Mas há uma outra interpretação para as faixas brancas nos braços dos civis.

Desde o início da guerra, o presidente ucraniano vem incentivando homens civis em idade militar a pegar em armas. Muitos deles recebem fuzis e munições e vão para o campo de batalha com roupas comuns. As únicas coisas que os identificam como combatentes são a arma e a faixa amarela da Ucrânia no braço (a azul é para militares profissionais ou combatentes da legião internacional).

Ao mesmo tempo, os combatentes ucranianos têm usado edifícios e casas civis para se abrigarem e até emboscarem tropas russas. Sabe-se, por outro lado, que os russos estão bombardeando alvos civis e militares de forma aparentemente indiscriminada.

Essa zona cinzenta onde opera parte dos combatentes ucranianos dá à Rússia o seguinte argumento: “Não há civis no campo de batalha, apenas combatentes e insurgentes, portanto, todos seriam alvos legítimos” - o que claramente não é verdade, pois há toda uma população querendo apenas sobreviver ao conflito.

Assim, a realidade parece estar entre esses extremos. Relatos da frente de batalha dizem que os russos estariam ordenando que os civis usem as faixas brancas, não para usá-los como isca, mas para diferenciá-los dos combatentes. Mas isso não significa necessariamente que os civis estejam sendo protegidos.

Moradores relataram aos correspondentes da TV Record André Azeredo e André Zorato nesta semana na cidade de Bucha que tanto tropas russas como ucranianas invadiram casas e pilharam alimentos e bens dos cidadãos durante o combate.

Muitos foram tratados com violência e obrigados a permanecer dias escondidos em porões com acesso restrito a alimentos.

Evidências de assassinatos

Mas muitos moradores não conseguiram sobreviver aos combates e provas robustas dos abusos russos começam a surgir.

O chanceler russo Sergey Lavrov havia dito que os corpos de civis encontrados em Bucha foram colocados no local pelos ucranianos após a retirada das tropas russas no último dia 30.

Mas imagens de satélites mostram que objetos muito similares a esses corpos já estavam nas posições em que foram encontrados pelos ucranianos antes da saída das tropas russas da cidade.

Nesta quarta-feira, o jornal americano New York Times revelou outra evidência. Um vídeo registrado por um drone ucraniano mostra claramente blindados de transporte de tropas russas atirando com canhões em um homem que andava de bicicleta.

Em paralelo, surgem as provas testemunhais. Ao menos 25 mulheres afirmaram terem sido estupradas por forças russas em Bucha, segundo Lyudmyla Denisova, comissária de direitos humanos do Parlamento da Ucrânia.

Mas casos com provas tão claras são raros. Autoridades internacionais terão que conduzir investigações detalhadas para apurar crimes de guerra e, eventualmente, tentar impor punições. Mas esse não é um processo rápido.

Enquanto isso não acontece, o cenário de Bucha pode se repetir em cidades de onde as tropas russas se retiram, como Hostomel, Borodyanka, Chernigov, entre outras.

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