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Participei, na semana passada, de um painel cujo tema era a educação no mundo digital, conectada com o conceito de cidadania.
Entre discussões sobre inteligência artificial, futuro das profissões e desafios das instituições de ensino na era da hiperestimulação, o assunto que mais rendeu debate foi humanidade - empatia e virtudes.
Estamos vivenciando o avanço da tecnologia em todos os setores, porém algumas áreas apresentam mudanças mais estruturantes, seja sob o ponto de vista da adoção da tecnologia, seja na mudança de comportamento necessária para isso.
A educação precisa dar conta de novas demandas como a alfabetização de dados e letramento digital. Ao mesmo tempo, ao aluno cada vez mais é cobrado comportamentos como colaboração, criatividade, pensamento crítico, comunicação. O Fórum Econômico Mundial elenca essas como algumas das habilidades mais importantes para a empregabilidade do futuro.
Mas novas pedagogias para aprendizagem na educação 6.0 incluem, ainda, a cidadania, o caráter e o empreendedorismo ético. Na visão de aprendizagem ativa, interativa e contínua, pensa-se em empreendedorismo em duas escalas:
- Empreendedorismo ético em pequena escala (como tratamos os outros) e
- Empreendedorismo ético em grande escala (como cuidamos do futuro sustentável pensando na humanidade e no planeta)
Independente de linhas e nomenclaturas, sabemos que as instituições de ensino, de qualquer faixa, estão preocupadas em se adequar ao novo tempo e, principalmente, à mudança de comportamento do aluno. Se falarmos em ambientes, e lembrarmos de um centro cirúrgico dos anos 70, comparando-o com o centro cirúrgico de hoje, percebemos uma diferença gritante dos equipamentos, dos instrumentos e até dos procedimentos de 50 anos atrás.
Se pensarmos nas salas de aula, as mudanças não são tão perceptíveis ao longo dos anos. Os quadros-negros ganharam telas como aliadas; o giz, os recursos audiovisuais. As aulas online abriram oportunidades para a educação à distância, a internet expandiu as possibilidades de conteúdo antes restritos a livros físicos. Novas telas, conteúdos gamificados, realidade aumentada, impressoras 3D. Mas a mudança mais significativa que a nova educação busca é deixar de ser centrada no professor para se tornar centrada no estudante. E isso exige mais do que tecnologia.
O processo de aprendizagem importa, saindo de um contexto passivo (no qual o aluno recebe um conteúdo preparado pelo professor) para um contexto ativo (em que a aprendizagem é baseada em resolução de problemas). As experiências imersivas, estimulando a criatividade e retendo um estudante que está exposto a uma quantidade enorme de conteúdo. Esse é o desafio da educação, mas também um desafio para cada um de nós.
O Brasil possui 7,1 milhões de pessoas que não estudam nem trabalham - são o que podemos chamar da população “NEM/NEM”. Desses, 68% são mulheres e 67% são pretos e pardos. Quais as chaves para reter os jovens na conclusão do ensino médio? Quais os incentivos para a profissionalização? Como não permitir que os avanços tecnológicos se tornem um abismo social? Como preparar nossas crianças para as profissões que ainda não existem? Como incluir os mais velhos para uma transição de carreira?
Políticas públicas, estímulos empresariais e um novo olhar para a educação, unindo a tecnologia e a humanidade - em um círculo virtuoso de conhecimento, reconhecimento e engajamento entre pares. Mais um assunto importante para desenvolvermos nossas visões, ações e confusões para um mundo em movimento.