Para conciliar propósito com negócios de grande potencial, a empresa precisa definir uma estratégia que alinhe seus objetivos financeiros com sua missão e visão.| Foto: Pixabay
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Levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU) revela um dado estarrecedor: um terço dos alimentos produzidos em todo o planeta acaba desperdiçado. O volume seria suficiente para alimentar mais de 2 bilhões de pessoas, e gera um custo anual de US$ 936 bilhões para a economia global. Ainda de acordo com a organização, o Brasil desperdiça aproximadamente 27 milhões de toneladas de alimentos por ano.

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Em 2015, a mesma ONU decidiu que era preciso estabelecer uma agenda global de crescimento sustentável, com diretrizes definidas para que o mundo atuasse na erradicação da pobreza, na proteção do meio ambiente e na promoção da prosperidade econômica para todos, de forma equitativa e sustentável. Assim nasceram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ou ODS, cujas metas valem até 2030. E que substituem os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), de 2000, que expiraram em 2015.

“Eu não acredito no que você diz porque vejo o que você faz”, escreveu certa vez o romancista norte-americano James Baldwin (1924-1987). Os mercados e os diversos setores produtivos já entenderam uma coisa: consumidores e investidores estão cada vez mais conscientes da importância da sustentabilidade e da responsabilidade social de marcas e empresas. Em outras palavras, não basta apenas oferecer produtos, serviços e soluções, e então lucrar com isso. Os consumidores querem saber o que as empresas pensam e fazem sobre temas relevantes para a sociedade, questões que interferem nos dias de hoje e no amanhã, na construção de um mundo mais justo e plural. Em síntese, o que consumidores buscam são marcas e empresas com propósitos.

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Essa conexão é plenamente possível, embora não tão simples. Para conciliar propósito com negócios de grande potencial, a empresa precisa definir uma estratégia que alinhe seus objetivos financeiros com sua missão e visão. O que significa que a organização precisa estar disposta a investir tempo e recursos em atividades de impacto social ou ambiental positivo, enquanto trabalha para crescer financeiramente.

Que digam as empresas que já inseriram a sigla ESG (Environmental, Social and Governance – Meio Ambiente, Social e Governança Corporativa) em suas agendas, e não concebem mais a ideia de abrir mão de suas práticas. Como um conjunto de critérios que avaliam o desempenho delas quanto à conduta ambiental, social e de governança, a aplicação do ESG demostra, aos mercados e ao consumidor, que uma empresa quer mais do que lucros. Ela deseja participar ativamente da sociedade que lhe permite crescer a partir de suas ofertas. Quer se engajar em causas nas quais acredita – preservação do meio ambiente, educação para todos, diversidade, erradicação da pobreza, redução do desperdício de alimentos e segurança alimentar, entre outros temas.

Em busca do desperdício zero

Um bom exemplo disso é o FoodHero, plataforma da Pinó lançada em agosto do ano passado com objetivo de combater o desperdício de comida e auxiliar o setor de alimentação a monetizar sobre os excedentes que inicialmente seriam descartados. Como? O aplicativo conecta bares e restaurantes, padarias e confeitarias com o consumidor, e oferta por um preço especial alimentos e excedentes que seriam descartados.

Pelo aplicativo, o usuário conhece os estabelecimentos cadastrados e escolhe entre as opções de pacote (doce, salgado ou misto) para consumo. Ao comprar um pacote, o usuário recebe informações de horário de retirada e um código de confirmação para buscar o produto.

Os estabelecimentos recebem o pagamento imediatamente após a compra realizada via FoodHero e a retirada do produto. A plataforma fica com uma porcentagem sob o valor da compra, e os estabelecimentos que atingirem um maior volume de vendas podem ter essa porcentagem reduzida. Para o consumidor, os descontos chegam a até 70%.

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A plataforma atende hoje em Curitiba. O objetivo é tornar a solução disponível para todo o país em breve. Você pode acessar mais informações sobre o FoodHero neste link.

Renda extra no varejo

Outras iniciativas caminham nessa direção de aliar negócios a propósitos com resultados expressivos. A startup Anthor, de Curitiba, criou um aplicativo que liga o varejo a pessoas que estão disponíveis para trabalhar em picos de demanda.

A solução permite que as empresas do setor encontrem profissionais para serviços de reposição. E oferece a essas pessoas a possibilidade de retornar ao mercado de trabalho ou fazer uma renda extra. Para serem encontradas pelos varejistas, precisam baixar o app, comprar uma camiseta de identificação, realizar um treinamento online e pagar uma mensalidade de R$ 1,99. Segundo a própria startup, a renda de um repositor Anthor pode chegar a até R$ 3 mil mensais. E podem trabalhar no horário em que estiverem disponíveis na região de preferência, economizando tempo e dinheiro ao evitar grandes deslocamentos.

Em seu cadastro de clientes, a startup conta como gigantes como Coca-Cola, Philip Morris e Ambev. E já atua em cidades do estado de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Alimentação saudável sem impacto ambiental

Já a Fazenda Futuro se propõe a mudar a maneira como as pessoas comem, considerando o impacto de determinados alimentos tanto em seu organismo quanto no meio ambiente. A empresa produz alimentos de origem vegetal para oferecer opções mais saudáveis e sustentáveis ao consumidor. O “Futuro Burger”, principal produto, é um hambúrguer vegetal, feito com mistura de proteína tripla de soja, ervilha e grão-de-bico, que simula o sabor e a textura da carne bovina. Todos os produtos da marca também são livres de conservantes, corantes ou aromatizantes artificiais. E não há ingredientes transgênicos em sua composição.

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Com esse cardápio, a Fazenda Futuro encontra um público crescente que já decidiu reduzir ou cortar o consumo de carne vermelha das refeições, tanto porque busca uma dieta mais saudável quanto porque está engajado na defesa do bem-estar animal. E em paralelo, conversa também com quem já considera a possibilidade de mudar seus hábitos alimentares pensando tanto na saúde quanto no meio ambiente. Este é o propósito da companhia: promover a transição para uma alimentação mais baseada em vegetais, reduzindo o impacto ambiental da produção de alimentos enquanto promove melhora à saúde das pessoas.  Segundo informa no site, a produção do Futuro Burger utiliza 96% menos de água e 78% menos de energia se comparada ao hambúrguer feito de carne.

Não se trata apenas de uma estratégia de marketing; uma empresa que alia propósito aos negócios sabe que é possível lucrar e expandir enquanto participa ativamente da sociedade, envolvida em suas principais demandas. Deste modo, traz consigo clientes mais engajados, que apostam em mudanças positivas por meio de ações transformadoras de governos, de corporações e da sociedade civil.