As fraudes empresariais praticadas por grandes corporações têm ocorrido com indesejável frequência. Além das fraudes, há também práticas prejudiciais às pessoas e ao meio ambiente, nem todas classificadas como fraudes, as quais vêm causando danos à imagem e à credibilidade das empresas e do sistema capitalista.
Recentemente, estourou o escândalo das Lojas Americanas, um rombo de bilhões que foi chamado de “inconsistências contábeis”, e cuja dimensão somente será conhecida após as auditorias e as perícias. Empresas pequenas também praticam ações fraudulentas e causam prejuízos à natureza e à sociedade, mas são as fraudes de grandes corporações que saem na imprensa com mais repercussão e barulho.
Nos últimos 300 anos, o mundo construiu duas instituições econômicas que não têm concorrentes à altura: o capitalismo (que, apesar dos defeitos, é o sistema vencedor e predominante no mundo) e a empresa (instituição que reúne os fatores de produção – recursos naturais, trabalho, capital e iniciativa empresarial – para produzir bens e serviços).
A pergunta pertinente é: como construir a nova empresa do século 21 e como reformar o capitalismo?
A dinâmica do capitalismo e a função da empresa são reconhecidas, mas há rejeição a seus defeitos e suas práticas danosas às pessoas, à natureza e ao futuro da humanidade. O capitalismo teve um oponente que pretendia substituí-lo: o comunismo. Este, porém, mostrou-se um adversário inferior em termos de eficiência, era moralmente pior, e fracassou.
A empresa, por sua vez, revelou-se útil e necessária em todos os regimes: capitalismo, comunismo, social-democracia, dê-se o nome que quiser. O que mudou de um regime para outro foi a propriedade da empresa, como no comunismo tipo soviético, que propunha a propriedade estatal e cooperativa, embora na prática tenha convivido com a empresa privada, sem a qual o sistema produtivo não funcionaria.
O capitalismo e a empresa são instituições nascidas na Revolução Industrial, a partir do século 17, desenvolveram-se nos séculos 18 e 19 e se consolidaram no século 20, sob certas bases (pilares) fundantes. O problema é que as bases da Era Industrial não mais existem, e as empresas em sua maioria continuam atuando como se aquelas bases fossem as mesmas.
Os pilares da Revolução Industrial referidos são quatro: o mundo era grande, vazio, estável e desconectado. A população mundial em meados de 1700 era de apenas 700 milhões de habitantes e só atingiu 1 bilhão em 1830. Era vazio porque pouca gente habitava o globo terrestre. Era estável no sentido de que as mudanças andavam lentamente para os padrões de hoje. Era desconectado porque os países mantinham baixa interligação.
Sobre a baixa interligação dos países, até o início do século 19, os meios de transporte eram precários. As pessoas se locomoviam com os próprios pés, cavalos, carroças e navios a vela. O navio a vapor e o trem de ferro somente surgiram no início do século 19, ali por volta de 1800-1820. Além disso, não havia meios de telecomunicação. O telégrafo é de 1845, o rádio surgiu em 1906 e o telefone começou a nascer em 1875.
Afora os discursos bonitos e falsos, em que medida as empresas estão caminhando para serem realmente sustentáveis?
A grande mudança é: atualmente, o mundo é pequeno, superpopuloso, instável e conectado. É pequeno comparado com os 8 bilhões de habitantes em 2022; superpopuloso pela mesma razão; instável porque tudo muda muito rapidamente; e conectado porque os países se interligam e uma simples crise na Tailândia tem consequências mundiais, como ocorreu em 1999.
A mudança dos pilares citados fez a empresa da era industrial tornar-se obsoleta, a começar pelo fato de que, após o aumento das quantidades produzidas para atender à crescente população, descobriu-se que parte dos recursos naturais não é renovável e as empresas em grande medida tornaram-se poluidoras, predadoras dos recursos naturais e insensíveis aos dramas humanos individuais.
A pergunta pertinente é: como construir a nova empresa do século 21 e como reformar o capitalismo? Pesquisas em vários países mostram que o capitalismo e a empresa andam com reputação manchada e são vistos com desconfiança por boa parte da população. Fala-se muito em empresa sustentável, aquela que não polui, não depreda e tem boas práticas ambientais e humanas. Mas, afora os discursos bonitos e falsos, em que medida as empresas estão caminhando para serem realmente sustentáveis?
Recentemente, li um livro impactante sobre essas questões: Novo Manifesto Capitalista – Como construir a empresa do século 21, de Umair Haque, publicado pela editora Bookman (2012). A tese central do autor é de que as pedras angulares do capitalismo hoje são as mesmas do início da Revolução Industrial, mas elas estão enferrujadas, enfraquecidas e esgotadas. A expressão “pedra angular” refere-se à pedra fundamental utilizada nas antigas construções como a primeira a ser assentada na esquina do edifício, formando um ângulo reto entre duas paredes.
Em outro sentido, a pedra angular é o pilar, a base sobre a qual se constrói algo. Segundo o autor, o modelo da empresa atual e o modo capitalista da era industrial estão esgotados e precisam ser atualizados, com vistas a preservar suas virtudes e minorar seus defeitos. É um livro que recomendo.
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