O ano era 1863. O mês era julho. Abraham Lincoln governava os Estados Unidos da América. A Guerra da Secessão, também conhecida como Guerra Civil Americana, já durava dois anos de sangue, horror e morte.
O conflito se dava entre os estados do norte (industrializados), que queriam o fim da escravidão e a manutenção da unidade territorial, e os Estados Confederados do sul (agrícolas), que queriam se separar, criar outro país e manter a escravidão.
Ao todo, o conflito durou de abril de 1861 a abril de 1865, deixou um saldo de 600 mil mortos (equivalente a 3% da população) e uma nação dilacerada e dividida. Esse é o cenário do tema deste artigo.
A sangrenta Batalha de Gettysburg havia sido travada nos três primeiros dias de julho. Na noite do dia 4, o general Robert E. Lee, comandante do exército sulista, começou a se retirar na direção sul, enquanto tempestades de chuva inundavam todo o país.
Theodore Roosevelt disse certa vez que, diante de problemas complexos, perguntava-se: “O que faria Lincoln se estivesse em meu lugar?”
Quando Lee chegou ao Rio Potomac, com seu exército fraco e vencido, ele se deparou com um rio transbordante, impossível de ser transposto, e o exército vitorioso da União federal estava na retaguarda. Lee caíra numa armadilha. Não podia escapar.
Lincoln percebeu a situação. Era uma oportunidade única para capturar o exército do general Lee e colocar um ponto final na guerra imediatamente. Assim, empolgado e com grande esperança, Lincoln ordenou ao general George Meade que atacasse Lee sem demora, e sem ouvir o Conselho de Guerra para tal decisão.
Lincoln enviou suas ordens pelo telégrafo e um mensageiro especial foi enviado a Meade, pedindo ação imediata. E o que fez o general Meade? Justamente o oposto. Ele convocou o Conselho de Guerra, em flagrante violação às ordens de Lincoln.
Meade hesitou, retardou, telegrafou toda espécie de justificativas e se recusou a obedecer à ordem de atacar Lee. Finalmente, as águas baixaram e Lee escapou pelo Potomac, com seus soldados.
Lincoln ficou furioso. “O que significa isso?”, gritou para seu filho Robert. “Grande Deus! O que significa isso? Tivemos os inimigos em nossas mãos, precisávamos apenas apertar o cerco para que eles se rendessem, mas nada do que eu determinei pôs o exército em movimento!”, disse Lincoln, e concluiu: “Em tais condições, qualquer general teria derrotado Lee. Se eu tivesse ido lá, eu mesmo o surraria”.
Indignado e tomado de decepção, Lincoln sentou-se e escreveu a Meade a carta que segue, que era evidência de sua crítica mais dura e severa.
“Meu caro General:
Não posso acreditar que o senhor tenha compreendido a extensão do infortúnio no tocante à fuga de Lee. Ele esteve em suas mãos e, se o senhor tivesse apertado o cerco, considerando os últimos sucessos de nosso exército, a guerra agora teria chegado ao fim. Mas, depois do que sucedeu, a guerra irá se prolongar indefinidamente.
Se o senhor não pôde atacar Lee na segunda-feira passada, com certeza de vitória, como poderá fazê-lo ao sul do rio, quando somente poderá contar com apenas dois terços da tropa que estava em suas mãos? Nada justifica tal esperança e eu não acredito que o senhor possa agir com eficiência. Sua oportunidade áurea já passou, e eu me confesso verdadeiramente decepcionado com isso.”
Ninguém vive num vácuo. Na vida e na carreira, todos dependemos dos outros para alcançar o sucesso e o reconhecimento
O que você, leitor, supõe que Meade fez ao ler tal carta? Na verdade, Meade nunca viu essa carta. Lincoln nunca a enviou a seu destinatário. Ela foi encontrada entre os papéis de Lincoln, depois de sua morte.
O escritor Donald Phillips sugeriu que, depois de escrever a carta, Lincoln olhou para fora das janelas e disse para si mesmo: “Espere um minuto. Talvez eu não deva ser tão precipitado. Para mim, é muito fácil, como comandante sentado aqui na Casa Branca, dar ordens a Meade para atacar. Mas se eu estivesse lá em Gettysburg, e tivesse visto tanto sangue como Meade viu durante a última semana, e meus ouvidos estivessem ainda cheios de gritos e gemidos dos feridos e dos moribundos, talvez eu não sentisse tanta ânsia para atacar”.
E Lincoln deve ter refletido: “Se eu tivesse o temperamento tímido de Meade, talvez fizesse exatamente o que ele fez. De qualquer modo, a água já está embaixo da ponte e, se eu mandar esta carta, ela aliviará meus sentimentos, mas também fará que Meade procure justificar-se e me condenar. A carta provocará ressentimentos incompatíveis com a qualidade de Meade como comandante, e poderá levá-lo a renunciar a seu posto no exército”.
Conforme se sabe, Lincoln atirou a carta para o lado e a deixou em sua caixa de papéis, posteriormente encontrada, porque ele aprendera nessa dura experiência que as críticas e as repreensões violentas redundam sempre em muita humilhação e pouco resultado.
Theodore Roosevelt disse certa vez que, como presidente, quando se defrontava com problemas complexos, costumava virar-se para trás, olhar para um grande retrato de Lincoln que fica atrás da cadeira presidencial na Casa Branca e perguntar a si mesmo: “O que faria Lincoln se estivesse em meu lugar? Como resolveria ele este problema?”
Se você é dado ao hábito de criticar, deve ser prevenido que quase sempre a crítica se volta contra você, feito um bumerangue. Quando lidamos com pessoas, não estamos lidando com criaturas lógicas, mas com criaturas emotivas, com suas crenças, valores, orgulho e sensibilidade.
Ninguém vive num vácuo. Na vida e na carreira, todos dependemos dos outros para alcançar o sucesso e o reconhecimento. Como membro dessa gigantesca sociedade humana, sua evolução e sua carreira dependem, em larga medida, da maneira como consegue se relacionar com as pessoas que passam por sua vida diariamente.
Se você é dado ao hábito de criticar, deve ser prevenido que quase sempre a crítica se volta contra você, feito um bumerangue
Se é assim, se realmente o tempo todo precisamos de nosso semelhante, por que então alguém se dedica ao hábito de magoar os outros com críticas e julgamentos ofensivos?
Na prática, a crítica tem uma característica própria e um jeito inconfundível que a transformam em ofensa, julgamento, censura, e deixa um rastro de mágoa em quem a recebe, além de cicatrizes que não se apagam. Um provérbio popular diz: “quem bate esquece; quem apanha, nunca”.
Mesmo os filhos não lidam bem com a crítica, aquela que diminui e magoa. Antony Hobbins disse: “Todos nós temos sonhos. Todos queremos acreditar, do fundo de nossas almas, que temos o dom de tocar as pessoas de um modo especial e que podemos fazer alguma diferença no mundo”. Pense nisso.
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