Em geral, já se sabe que a quarta revolução tecnológica, ora em andamento, é uma transformação econômica e social devoradora de empregos. Nas revoluções tecnológicas anteriores a 1980, as máquinas e os robôs competiam com o ser humano em habilidades físicas, e somente nestas. Isto é, os trabalhos feitos pelos braços humanos podiam ser feitos por máquinas e sistemas, mas os trabalhos intelectuais não.
Dos anos 1950 a 1980, o mundo foi assombrado pela eliminação de empregos, mesmo a evolução científica e as inovações tecnológicas tendo gerado novos produtos, novos serviços e novas atividades, de forma que a destruição de empregos foi seguida da criação de empregos, ainda que não o suficiente para repor o total de vagas fechadas.
Mas o desemprego seguiu assombrando o mundo, sobretudo nos últimos 50 anos, com a colaboração de dois fatores agravantes. Um, a explosão populacional, que fez o mundo sair de 2 bilhões em 1930 para 3 bilhões em 1960 e 4 bilhões em 1975; viramos o milênio com 6,3 bilhões e atualmente somos 7,8 bilhões de habitantes.
Novos empregos, atividades e profissões surgirão como decorrência da mesma revolução tecnológica. Sempre foi assim. A questão é tentar saber qual o balanço entre destruição e criação de empregos
Esse crescimento populacional em si já tinha potencial para gerar excesso de oferta de mão de obra em relação à demanda. Mas aí surge em cena o segundo fator: a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho, sobretudo a partir do fim dos anos 1960, e a resultante elevação do número de trabalhadores disponíveis. A fila dos desempregados aumentou.
O processo prosseguiu até que, a partir dos anos 2010, o mundo iniciou uma nova revolução tecnológica, que deve ir até 2040, cuja característica essencial é a chegada do robô cognitivo, máquinas e sistemas capazes de competir com o ser humano em habilidade cognitiva, que é de natureza intelectual, não braçal.
A destruição de empregos se tornou gigantesca; seu efeito colateral socialmente danoso é a quantidade de desempregados, o agravamento da desigualdade de renda, o aumento da pobreza e a dependência de programas sociais governamentais. É bem verdade que novos empregos, atividades e profissões surgirão como decorrência da mesma revolução tecnológica. Sempre foi assim. A questão é tentar saber qual o balanço entre destruição e criação de empregos.
Uma coisa, porém, é definitiva: o nível educacional e o grau de qualificação profissional precisam aumentar e se tornar um processo para a vida toda. Não é mais um diploma que faz a diferença, mas o quanto o profissional continua estudando, se atualizando e se qualificando para trabalhar em um mundo que muda tanto.
No meio desse cipoal de mudanças e incertezas, levanto uma questão: a supressão da pobreza e a consequente elevação da renda dos pobres podem significar a principal válvula para impulsionar a criação de empregos. O Brasil tem 213,6 milhões de habitantes (dado do IBGE, na segunda semana de setembro de 2021), 54 milhões de pobres e, entre estes, 14 milhões são miseráveis. Existem outros 50 milhões cuja renda familiar é pouco acima da linha da pobreza – logo, ainda pobres.
O maior programa de combate ao desemprego é a supressão da pobreza, que leva a mais consumo, logo, mais trabalhadores são requeridos. Os serviços pessoais são basicamente produzidos por profissionais humanos
Imagine essa legião de 104 milhões de pessoas saindo da pobreza e passando a demandar bens de consumo, serviços de cabeleireiro, massagista, psicólogo, professor, dentista, médico, eletricista, mecânicos, academias de ginástica, esportes, escolas de línguas e por aí vai. Um novo público consumidor nessa magnitude formaria um mercado colossal, capaz de gerar milhões de empregos, principalmente no segmento mais necessário: os profissionais liberais e os prestadores de serviços pessoais.
Creio que o maior programa de combate ao desemprego é a supressão da pobreza, que leva a mais consumo, logo, mais trabalhadores são requeridos. Os serviços pessoais são basicamente produzidos por profissionais humanos. Robôs e máquinas são complementares, não predominantes. Os economistas chamam isso de “processo produtivo intensivo de mão de obra”.
Os miseráveis, os pobres e os 50 milhões seguintes menos pobres, porém pobres, caso tenham sua condição econômica elevada por força do crescimento do país, constituirão um enorme mercado consumidor capaz de gerar os empregos que amenizarão o desemprego provocado pela revolução tecnológica. Estudos internacionais falam que o Brasil atingirá o pico de sua população por volta de 2040, chegará a 235 milhões de habitantes e, nos 60 anos seguintes, perderá 50 milhões, terminando este século com 185 milhões, que é um fator na equação do desemprego. Mas, será?
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