Eric Voegelin nasceu em 1901, na cidade alemã de Colônia, e em seus 84 anos de vida produziu extensa obra de filosofia e ciência política. Sua obra História das Ideias Políticas, em oito volumes, escrita antes de emigrar para os Estados Unidos, é um dos melhores trabalhos de pesquisa e registro das monstruosidades do Estado autoritário, do racismo e do terror praticado pelo poder político.
Os pais de Voegelin se mudaram para Viena em 1910; ele estudou na Universidade de Viena e teve Hans Kelsen e Othmar Spann como orientadores de sua dissertação. Após sua habilitação, em 1928, Voegelin lecionou Teoria Política e Sociologia, tornando-se amigo do famoso autor liberal austríaco Friedrich Hayek.
Voegelin foi profundamente influenciado pelas ideias de Hans Kelsen (1881-1973), um dos mais importantes intelectuais na área do Direito, cujas obras têm prestígio mundial e são leitura obrigatória para políticos, sociólogos, juristas e quem mais se interesse pela organização política da sociedade e as estruturas de Estado e poder.
História das Ideias Políticas é um dos melhores trabalhos de pesquisa e registro das monstruosidades do Estado autoritário, do racismo e do terror praticado pelo poder político
Kelsen foi o principal autor da Constituição Austríaca de 1920, e a admiração de Voegelin pelo mestre o levou a ser seu assistente e aluno regular das palestras e seminários de Kelsen na Faculdade de Direito. A tensão política e a perseguição nazista custaram a demissão de Voegelin; após Hitler invadir Viena, ele e sua esposa quase caíram nas garras da Gestapo, mas o casal conseguiu escapar e fugir para os Estados Unidos.
Voegelin, já desencantado com as formas de poder ditatorial e descrente do Estado gigante e opressor, interessou-se pelas ideias liberais de Friedrich Hayek – que, ao contrário do que muitos divulgam, não foi um simples autor sobre a liberdade econômica, mas também sobre Direito, legislação e liberdade.
Hayek foi intenso defensor da ideia de que a liberdade é o bem maior do ser humano. Para ele, em sua concepção factual e objetiva a liberdade é a ausência de coerção de indivíduos sobre indivíduos. A coerção existe quando os indivíduos são levados, sob algum tipo de pressão, a colocar-se a serviço de interesses alheios e, portanto, em detrimento de seus propósitos e interesses pessoais.
Segundo Hayek, a coerção e má porque anula o indivíduo como ser que pensa, avalia e decide, já que o transforma em mero instrumento dos interesses e fins de outrem. Voegelin, vítima do horror nazista, encantou-se com as ideias de Hayek e passou a divulgá-las quando, como professor nos Estados Unidos, lecionou em várias universidades, até ingressar no Departamento de Governo da Louisiana State University, em 1942.
Em 1958, Voegelin deixou os Estados Unidos e aceitou a proposta de substituir Max Weber na Universidade de Munique, como titular na cadeira de Ciência Política, retornando aos Estados Unidos em 1969 para ingressar na Universidade de Stanford e lecionar sobre “Guerra, Revolução e Paz”. Ali ele ficou até sua morte, em janeiro de 1985.
O grande volume de publicações de Voegelin, a extensão de suas pesquisas e o alto nível de suas ideias e livros atraíram o respeito e a admiração mesmo daqueles que discordavam de algumas de suas teorias. Ao morrer, Voegelin deixou grande quantidade de manuscritos inéditos, incluindo uma história das ideias políticas, que foi publicada em oito volumes.
O tamanho e a robustez da produção de Voegelin deram origem a uma coleção de 34 volumes. A dedicação dele em denunciar os regimes totalitários e sua defesa da liberdade e dos direitos individuais, como base para combater o terror e o massacre de seres humanos, o aproximaram da filósofa Hannah Arendt, e ele foi influenciado por ela ao ler Origens do Totalitarismo, obra importante de Arendt.
O prestígio de Voegelin deve-se à alta qualidade de suas teorias, ao sofisticado tratamento filosófico de problemas complexos e à exuberante produção literária em defesa das liberdades e contra ditaduras e Estados totalitários
Voegelin e Arendt estão entre os importantes intelectuais que dedicaram sua vida a combater todas as formas de ditadura, totalitarismo e violência contra o ser humano. Por ter sido demitido e perseguido pelos nazistas após a Alemanha invadir e anexar a Áustria, Voegelin publicou quatro obras entre 1933 e 1938 em frontal oposição a Adolf Hitler, e ali ele já denunciava o horror do totalitarismo estatal sobre o indivíduo.
A oposição de Voegelin a toda forma de opressão o levou a publicar duras críticas também ao marxismo, a começar pela condenação enfática do Manifesto Comunista, porque ele via nas ideias políticas e econômicas de Marx um corpo de teorias e propostas passíveis de execução somente sob regimes totalitários.
O prestígio de Voegelin deve-se à alta qualidade de suas teorias, ao sofisticado tratamento filosófico de problemas complexos e à exuberante produção literária em defesa das liberdades e contra ditaduras e Estados totalitários. Neste texto curto, meu objetivo é apenas deixar alguns comentários com a intenção de lembrar o nome de Eric Voegelin, autor tão profícuo quanto desconhecido. É um intelectual que merece ser lido e estudado.
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