“A simplicidade é o último degrau da sabedoria.” Essa frase ora é atribuída a Confúcio, ora a Leonardo da Vinci. De certo modo, aquilo que passamos a conhecer se torna simples para nós, enquanto continua parecendo complexo para quem o ignora. A respeito, lembro a citação de Padre Antonio Vieira (1608-1697): "A admiração é filha da ignorância, porque ninguém se admira senão das coisas que ignora, principalmente se são grandes”.
Afora saber se o conceito de simplicidade se aplica a tudo o que conhecemos – logo, o que não conhecemos segue complexo para nós –, a simplicidade pode ser entendida como o caminho mais curto e com menos obstáculos para chegar a um ponto ou a determinado resultado.
Entre as inovações importantes, há muitas de simplicidade humilhante, o que nos leva a perguntar como ninguém havia pensado nisso antes. Há uma inovação que não é famosa e da qual pouco se fala, apesar de sua grande utilidade e conforto.
Durante muito tempo, as pessoas sofreram carregando malas pesadas em rodoviárias, estações ferroviárias e aeroportos do mundo. Em algum momento, após anos e anos de sofrimento e vértebras danificadas, alguém inventou o carrinho para transportar malas. Essa solução foi ótima e útil, porém incompleta, pois as malas eram colocadas no carrinho com rodas, aliviando as pessoas de carregar peso; mas o carrinho não podia circular em algumas partes do aeroporto ou da estação. Ainda era preciso carregar malas nas costas ou nos braços em determinados espaços.
Existem milhões de problemas simples à espera de que alguém invente alguma solução simples e revolucionária
A roda foi inventada pelos mesopotâmios há 6 mil anos, mas somente em 1999, 30 anos depois de o homem ir à Lua, alguém teve a revolucionária ideia de colocar rodinhas miúdas sob a própria mala. Foi uma inovação maravilhosa. Além do conforto, bilhões de costas, vértebras e braços foram poupados de dores e lesões.
Como uma inovação tão simples e tão importante demorou tanto? Criou-se no imaginário popular a ideia segundo a qual a humanidade precisa de invenções bombásticas, mas a realidade é que existem milhões de problemas simples à espera de que alguém invente alguma solução simples e revolucionária.
Três invenções simples de uso mundial são o clipe, o grampo de papel e o vaso sanitário. Você já se perguntou como seria a vida se o vaso sanitário não existisse? Como seria a vida nos prédios comerciais e residenciais?
Embora o primeiro modelo de vaso sanitário tenha sido inventado em 1596 pelo poeta inglês John Harington, foi somente com a Revolução Industrial, no século 18, que o vaso sanitário começou a ficar popular, quando o escocês Alexander Cumming o patenteou em 1775. Em 1778, o engenheiro mecânico Joseph Bramah aperfeiçoou o projeto e criou a bacia sanitária com uma descarga de água que elimina os dejetos por um sistema de sucção. Uma invenção até certo ponto simples, sem a qual a humanidade não vive.
A questão é que a simplicidade não rende medalhas. Todo mundo sabe quem inventou o avião, o rádio e o iPhone, mas quase ninguém sabe quem colocou rodinhas nas malas nem quem inventou o vaso sanitário. Porém, ser simples não é ser fácil.
Na vida e na administração empresarial, a solução de problemas é mais eficiente quando conseguimos simplificar e tornar claros os aspectos do problema. Não raro, a complexidade é apenas aparente e resulta de confusão mental. Ademais, muitas pessoas têm a mania de complicar o que já é simples.
O ato de simplificar uma situação ou problema, com o fim de facilitar a compreensão e contribuir para a solução, é tão mais eficaz quanto mais raciocinamos com ordem e método. A simplicidade não se obtém na bagunça, mas na organização dos pressupostos e dos elementos da questão examinada.
Quando o filósofo Aristóteles (344-322 a.C.) organizou seu tratado de Lógica, ele ofereceu ao mundo um valioso processo de ordem, método e relações de causa e efeito, que se tornou um caminho sofisticado para distinguir o verdadeiro do falso e o correto do incorreto. Esse é um assunto para outro texto.
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