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Até o século 18, a produção pela exploração dos recursos naturais tinha o trabalho humano como o fator mais importante na definição da quantidade produzida por hora trabalhada. Os bens de capital apresentavam contribuição relativamente menor e eram compostos por ferramentas manejadas pela energia humana (foice, machado, martelo), pela força de animais (carroças, arados), pela força da água (rodas, bombas, pilões) e pela força dos ventos (moinhos).
Thomas Newcomen, inventor, ferreiro e mecânico inglês, usou a energia do vapor para bombear água de uma mina para sua casa em 1712. A partir daí ocorreram mudanças significativas no processo produtivo que marcaram o início da Revolução Industrial, cuja consolidação levou mais 100 anos, quando o trem de ferro começou sua era de ouro. Nessa época, nascia na Inglaterra o conceito de máquina industrial, que é um bem de capital movido por energia não humana.
Estudos altamente sofisticados sobre o impacto da educação na produtividade concluíram que dois terços da produtividade do trabalho resultam da educação
O elevado aumento da produção por hora trabalhada, especialmente após o início dos anos 1800, ensejou a possibilidade de ampliar o consumo, tendo o capital físico como fator decisivo para o aumento da produtividade do trabalho. Foi nessa época que os estudiosos começaram a construir modelos para medir a contribuição do capital para o aumento da produtividade por hora de trabalho humano.
Naquele tempo, a contribuição da educação para a produtividade era desconhecida, e essa situação começou a ser alterada somente quando o economista Alfred Marshall (1842-1924) apresentou suas pesquisas e estudos pioneiros sobre o impacto da educação para o produto por hora trabalhada.
Marshall, profundamente impressionado com a revolução permitida pelo surgimento da eletricidade e do motor a combustão interna, por volta de 1860-1870, conseguiu medir o quanto a educação e a qualificação profissional do trabalhador elevavam o rendimento dos fatores terra, trabalho e capital. Ele foi pioneiro em muitos aspectos e, a partir dele, os estudos nesse campo avançaram.
Há duas dificuldades para medir a taxa de contribuição da educação sobre o resultado da produtividade: uma é o fato de o conhecimento pessoal ser de natureza invisível; outra é o caráter de intransferibilidade da educação, no sentido de que o conhecimento de um indivíduo não pode ser comercializado e transferido a outrem imediatamente, como é feito com qualquer bem ou serviço no mercado de trocas.
Embora o conhecimento possa ser transmitido de uma pessoa a outra, isso não se faz como o processo de compra e venda das mercadorias no mercado, em que o negócio é realizado e a tradição (entrega) é feita no ato. É somente nesse sentido que a educação não é mercadoria, ou seja, ela é invisível e não passível de tradição imediata; são exigidos anos para que a entrega seja concluída.
É a educação básica de qualidade que dá os instrumentos intelectuais para o ser humano absorver com rapidez e eficiência os novos conhecimentos e as tecnologias de aplicação que o mundo inventa em velocidade acelerada todos os anos
As máquinas de cálculo, os computadores e os softwares econométricos evoluíram ao ponto de viabilizarem estudos altamente sofisticados sobre o impacto da educação na produtividade, os quais concluíram que dois terços da produtividade do trabalho resultam da educação. Os economistas Gary Becker (1930-2014), norte-americano, e Carlos Langoni (1944-2021), brasileiro, estudaram a relação entre o capital humano e a produtividade e concluíram que a educação se tornou mais importante que o capital físico e as matérias-primas.
Além do processo de realizar o desenvolvimento físico, intelectual e moral do ser humano, pela transmissão de valores e conhecimentos, a educação tem a função (tecnológica) de levar à aplicação prática do conhecimento para a solução de problemas do dia a dia e, assim, melhorar o padrão de vida da população.
Vale ressalvar a necessidade de o país investir fortemente na educação básica de qualidade, pois é esta que dá os instrumentos intelectuais para o ser humano absorver com rapidez e eficiência os novos conhecimentos e as tecnologias de aplicação que o mundo inventa em velocidade acelerada todos os anos. Isso posto, a educação permanente para atualização profissional e crescimento moral e intelectual completa o eixo da política educacional que se deseja para uma sociedade próspera.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos