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José Pio Martins

José Pio Martins

Tecnologia

O que a inteligência artificial não é

(Foto: Gerd Altmann/Pixabay)

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Um assunto tecnológico que causou furor nos últimos meses foi a inteligência artificial, também conhecida por IA (em português) ou AI (em inglês). Até pouco tempo atrás, pouco se falava desse assunto. De repente, há coisa de dez meses, não passa um dia sem uma profusão de matérias a respeito.

Intriga-me o fato de que, tão logo as notícias sobre a IA explodiram, começaram a surgir especialistas e palestrantes sobre o assunto. Fiquei pensando de onde brotaram todos esses especialistas tão de repente, já que até então ninguém havia se pronunciado, à exceção de um ou outro realmente entendido no tema.

Assim, à moda do filósofo Arthur Schopenhauer, resolvi observar o tema sob a outra ponta do telescópio, ou seja, pensando sobre o que a inteligência artificial não é. Por óbvio, não tenho a menor pretensão de estar com a verdade definitiva a respeito, mas acredito em alguns pontos.

A capacidade de ter ideias inovadoras, criar conhecimento novo e produzir novas histórias e novas experiências a partir de sua experiência e seu passado é exclusivamente humana

Não é “inteligência”. Para começar, há uma característica do ser humano que não há na inteligência artificial: a geração espontânea de ações e conhecimento, ou seja, o impulso dentro do animal humano que explode num pensamento criativo, uma canção, uma ideia única. O homem é o único que pode ter um sonho e, a partir dele, acordar com alguma ideia revolucionária.

Não tem geração espontânea. A capacidade de ter ideias inovadoras, criar conhecimento novo e produzir novas histórias e novas experiências a partir de sua experiência e seu passado é exclusivamente humana. Nenhuma IA é capaz de fazer isso espontaneamente.

Não tem juízo ético. A tomada de decisão e a execução de ações condicionadas por um julgamento anterior sobre “dever fazer ou dever não fazer” – ou seja, o juízo ético – não existem nas máquinas nem nas tecnologias, por uma razão simples: elas não geram nada sob imperativos das leis, da religião ou da moral. Em resumo, a IA não distingue entre o bem e o mal, como também não tem sentimentos.

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Não tem intenção nem iniciativa. Nenhuma inteligência artificial é portadora de intenções próprias nem toma iniciativas por sua conta e risco. A IA precisa ser acionada por algum humano ou comando produzido pelos humanos. Isto é, a IA não se ordena nada; ela depende de ordem emanada por algum animal racional.

Não tem mente nem psicologia. O cientista brasileiro Miguel Nicolelis, radicado nos Estados Unidos e reconhecido internacionalmente, afirma que a inteligência artificial geradora de texto, como o ChatGPT, não é tão fantástica como se divulga. Aliás, ele diz que “nem é inteligente, nem artificial”.

Nicolelis diz que a IA não tem mente nem é dotada de processos mentais conforme definidos pela psicologia, e diz mais: ela não tem inteligência, pois esta é algo restrito aos organismos vivos e resulta da seleção natural pela qual os organismos conseguem sobreviver às imposições de um ambiente em contínua modificação.

Nenhuma inteligência artificial é portadora de intenções próprias nem toma iniciativas por sua conta e risco. A IA precisa ser acionada por algum humano ou comando produzido pelos humanos

A IA também não é artificial porque é criada por humanos. Ela não surge do nada nem cai do céu, como a chuva, e os aspectos inteligentes dessa tecnologia vêm da inteligência dos programadores e das pessoas que geram esses sistemas. Nicolelis conclui dizendo que o ChatGPT vai ter uma queda tão rápida quanto sua subida.

Não tem poder decisório nem responsabilidade. Por fim, a IA pode combinar dados, usar algoritmos e produzir resultados rápidos e maravilhosos. Porém, como disse o filósofo André Comte-Sponville, um computador pode resolver um problema, mas somente um humano pode tomar uma decisão; um computador pode ser eficiente, mas somente um ser humano é responsável (juridicamente, inclusive).

A IA é uma tecnologia admirável e será útil à humanidade, mas ela não é infalível e seus resultados precisam passar pelo crivo de analistas, pois os algoritmos são vulneráveis quando se trata da oposição entre certo e errado, correto e incorreto, verdadeiro e falso.

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Vale citar um fato ocorrido nos Estados Unidos em que a Justiça se manifestou preocupada com o uso da inteligência artificial pelos advogados em ações impetradas nos tribunais, em razão da multidão de erros e inverdades contidas nos documentos e petições.

O alvoroço em torno da IA e a profusão de loas e louvores a respeito dos milagres dessa tecnologia, incluindo as previsões catastróficas, criaram uma empolgação inicial em grau tão elevado que gerou conclusões apressadas sem a observação técnica e científica acurada, calma e fria.

Que a coisa é interessante e atraente, disso não há dúvida. Que a IA pode vir a ser uma ferramenta revolucionária, isso pode. Mas, como diz o provérbio, aquele que ama ou odeia desmedidamente atribui qualidades sobrenaturais ao objeto de sua paixão. A empolgação e as opiniões sobre a inteligência artificial transbordaram o vaso da racionalidade. Como sempre, passada a onda inicial, começa a fase de uso, testes e identificação das limitações para então aperfeiçoá-la e torná-la útil tanto quanto possível.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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