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Todo aluno do curso de Ciências Econômicas é colocado diante de uma pergunta já nos primeiros anos: “por que o Brasil é um país pobre, mesmo com abundância de recursos naturais?”. Como é hábito na atividade acadêmica, muitos professores têm opinião sobre tudo e despejam suas teorias em resposta à indagação.
É comum os professores interpretarem a economia brasileira e o subdesenvolvimento do país mais contaminados por sua ideologia e opção partidária do que pelo estudo diligente e profundo. Lembro que a maioria de meus professores era de esquerda e os livros utilizados invariavelmente tinham viés esquerdista.
Sobre a opinião do atraso brasileiro, de um lado estavam os nacionalistas, os xenófobos, a União Nacional dos Estudantes e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que culpavam o “eixo internacional” composto pelo FMI, dívida externa, multinacionais e imperialismo norte-americano.
Os intelectuais nacionalistas acreditavam piamente que aqueles quatro demônios externos respondiam pelo atraso e a pobreza do Brasil, sem mostrarem provas cabais de suas afirmações. Eram pouco afeitos ao exercício da dúvida, quando o próprio Marx, ídolo da esquerda, ao ser indagado sobre o que mais ele valorizava, respondeu: “Meu maior patrimônio é a dúvida”.
Aprendi cedo que, em ciências sociais, não devemos aceitar a primeira versão de uma teoria ou conclusão. As ciências da natureza apresentam um grau de certeza maior que as ciências sociais, pelo simples fato de que os experimentos feitos sob as regras do método científico levam aos mesmos resultados quando repetidos.
A Sociologia, por exemplo, é considerada ciência quando segue o método da investigação na tentativa de dar explicações científicas para os fatos da vida social. Embora tenha alto grau de acerto, as provas não têm os mesmos atributos de verdade material obtidos nas ciências da natureza.
A Economia, embora seja uma ciência detentora de muitos aspectos materiais, fisicamente mensuráveis e constatáveis, contém largo espectro de variáveis sociais materialmente invisíveis ou de medição frágil. Aliás, é por isso que sobre a economia (aqui como sistema produtivo), muitas mentiras e narrativas erradas podem ser construídas conforme o interesse do autor.
Voltando ao atraso brasileiro, em outro grupo estavam os comunistas, acompanhados pelos membros da esquerda de ocasião e artistas iletrados em assuntos econômicos. Esse grupo também tinha o hábito de culpar os inimigos externos, mas seu inimigo preferencial era o capitalismo, os empresários e o lucro. Eu achava tudo muito estranho, pois havia teorias e explicações demais para o mesmo problema.
A postura de duvidar foi boa como estímulo para estudar mais e examinar outras ideias. E, como disse Charles Colton, em 1825. “A dúvida é o vestíbulo pelo qual todos precisam passar para adentrarem o templo da verdade”.
Foi na época de estudante que descobri um texto de Roberto Campos, a quem eu pouco conhecia, embora ele já tivesse percorrido a carreira de embaixador, ministro e economista famoso. Para mim, foi uma revelação, pela qualidade das análises sobre as causas do atraso e da pobreza brasileira.
Roberto Campos destacava seis grandes males nacionais: 1) nível educacional baixo; 2) sistema político fisiológico e corrupto; 3) leis anticapitalistas e antiempresariais; 4) Estado paquiderme e ineficiente tripulado por grupos políticos arcaicos; 5) descaso com a pesquisa, a ciência e a tecnologia; 6) xenofobismo infantil e improdutivo, que rejeitava a inserção internacional do Brasil.
Roberto Campos morreu em 2001, mas suas análises continuam atuais, pois o Brasil, conquanto tenha se modernizado em alguns setores, não progrediu o suficiente para vencer seus flagelos sociais. Certa vez, Tancredo Neves pediu que Roberto Campos fizesse um plano em duas semanas, recebendo como resposta que esse prazo era muito curto, ao que Tancredo redarguiu: “No Brasil, os problemas não mudam, logo não mudam as soluções, e você é useiro e vezeiro em fazer planos, logo deve ter algum já pronto”.
O tempo passa, o tempo voa, e os problemas estruturais brasileiros continuam os mesmos. Enquanto isso, a sociedade vai alternando momentos de esperança com momentos de decepção.
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Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima