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Filho único já não é obrigação legal na China, mas se tornou hábito cultural.
Filho único já não é obrigação legal na China, mas se tornou hábito cultural.| Foto: True_Guowei/Pixabay

A população mundial era de 200 milhões quando Jesus Cristo andou por aqui. Foram necessários 1.830 anos para o mundo atingir a marca de 1 bilhão de habitantes, época em que explodia a Revolução Industrial na esteira da invenção da máquina a vapor e, com ela, a estrada de ferro, o trem de ferro e o navio a vapor.

Entre 1860 e 1900, veio a exuberante segunda onda tecnológica, marcada pela invenção do motor a combustão interna, a indústria do petróleo, a água tratada encanada e a eletricidade. Com isso, o mundo experimentou um robusto aumento da produtividade por hora de trabalho.

Com efeito, a eletricidade foi e é até hoje a causa maior e mais importante de aumento da produtividade, nunca superada. O crescimento econômico no fim do século 19 e início do século 20 resultou em vasta lista de invenções e inovações, como o telefone, o rádio, o cinema, o antibiótico, o microscópio eletrônico, o avião e muitas outras.

Em 1930, apenas 100 anos depois, a população atingiu 2 bilhões. Em 1960, apenas 30 anos depois, o mundo bateu os 3 bilhões de habitantes. Viramos o milênio, no ano 2000, com 6,3 bilhões e, neste ano de 2024, a população mundial está em 8,2 bilhões.

Para a população não aumentar nem diminuir, é preciso que o número médio de filhos por mulher seja de 2,1. O Brasil tem hoje 1,6 filho por mulher e, em 2040, essa média deve cair para 1,3 filho

Até 2050, o mundo deve se aproximar de 9,4 bilhões de habitantes. Porém, as previsões indicam que no fim deste século a população mundial terá retrocedido para algo em torno de 4,7 bilhões – lembremos que faltam apenas 76 anos para o ano 2100.

Cálculos especializados informam que, para a população não aumentar nem diminuir, é preciso que o número médio de filhos por mulher seja de 2,1. O Brasil tem hoje 1,6 filho por mulher e, em 2040, essa média deve cair para 1,3 filho, tendência que pode levar nossa população a sair dos atuais 204 milhões para 154 milhões em 2100 – portanto, uma diminuição de 50 milhões de habitantes.

Essa tendência é mundial. A China, com seus 1,4 bilhão de habitantes, teve sua população reduzida em 1 milhão de pessoas em 2022 e perdeu mais 2 milhões em 2023, em razão da política de filho único implantada em 1981 para conter a explosão populacional.

O problema demográfico na China é complexo. Mesmo com o governo liberando e incentivando os casais a terem filhos, os chineses estão tendo poucos filhos. O filho único tornou-se uma questão cultural e, a persistir a tendência, a população da China pode cair à metade em 2100. Outro caso extremo é a Coreia do Sul, onde a média de filhos por mulher é 0,78. Por essa média, em 200 anos não haverá mais população coreana.

A Organização das Nações Unidas (ONU) andou divulgando que 23 países da Europa podem chegar a 2100 com a população reduzida pela metade. De qualquer forma, uma coisa é certa: as mulheres do mundo estão tendo menos filhos. De saída, acredita-se que algumas causas da redução do número de filhos por mulher são as seguintes: 1. desde os anos 1960, as mulheres vêm adentrando o mercado de trabalho em massa, seja para realização pessoal, independência individual ou por necessidade financeira; 2. as mulheres que têm emprego regular remunerado passaram a ter menos filhos que as gerações anteriores, até pelo desafio de conciliar o trabalho e a vida familiar; 3. os custos com moradia, educação e saúde se tornaram altos e se tornaram motivo para a decisão de ter menos filhos; 4. grande parte das famílias que vivem nas cidades mora em casas ou apartamentos pequenos, onde não cabem muitos filhos; 5. por volta de 2050, 70% da população mundial estará vivendo nas cidades e, historicamente, a média de filhos por mulher nas cidades tem sido menor que na zona rural; 6. a insegurança no emprego tem assustado o mundo inteiro, sobretudo pelo potencial da atual revolução tecnológica em eliminar empregos; 7. elevada parcela dos casamentos acaba em divórcio, muitas vezes logo após o primeiro ou segundo filho e, mesmo recasando, muitas mulheres não têm mais filhos; 8. a maternidade não é mais um dogma nem uma obrigação religiosa e cultural.

O problema está posto, suas causas são complexas e a discussão continua, pois ninguém tem todas as respostas para suas causas nem para as consequências.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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