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José Pio Martins

José Pio Martins

Gestão empresarial

Práticas radicais e a redução de empregos

"A fila do pão", escultura de George Segal no Memorial Franklin D. Roosevelt, em Washington, DC. (Foto: PublicDomainPictures/Pixabay)

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O mundo vem discutindo questões diversas numa tentativa de entender o que aconteceu com a humanidade, apesar da rapidez com que evoluem a ciência, o conhecimento e a tecnologia. Supostamente, essa evolução acelerada, nunca antes vista na história humana, deveria propiciar elevação do bem-estar geral mundial e aumento da felicidade. Houve evolução e aumentaram as possibilidades de bem-estar, mas há problemas complexos desafiando a imaginação humana.

Neste texto faço referência a uma prática do mundo corporativo que, embora seja necessária sob certos aspectos, vem recebendo críticas e restrições. Trata-se do seguinte: quando uma empresa adota programas de reestruturação, ela fecha fábricas, extingue departamentos, reduz despesas, vende ativos, suprime funções e demite pessoas, de forma que famílias inteiras perdem seus empregos, ficam sem renda e entram em depressão.

Esse tipo de prática na gestão das empresas ocorre num ambiente em que o desemprego é grande flagelo social que leva milhões de demitidos à desestruturação pessoal, familiar e social. Embora as organizações façam isso, em muitos casos, para poderem sobreviver, em outros casos mesmo empresas lucrativas adotam reestruturação a fim de lucrar mais e pagar mais dividendos a seus acionistas.

O mundo está se perguntando se há chance de aumentar o bem-estar e a felicidade se o único parâmetro para a ação da empresa for o lucro e nada mais

A princípio, nada parece errado com a prática de a empresa racionalizar a estrutura, cortar custos e desempregar pessoas para lucrar mais. Porém, vem sendo questionada a exigência de que as empresas pautem seu sucesso apenas por lucros financeiros, sem levar em consideração o meio ambiente, o meio social e seus empregados. Ou seja, o mundo está se perguntando se há chance de aumentar o bem-estar e a felicidade se o único parâmetro para a ação da empresa for o lucro e nada mais.

Nesse cenário, há uma prática marcada pela dor do empregado e a alegria do investidor, cujo ciclo é: a empresa corta custos, demite pessoas, lucra mais, paga mais dividendos aos acionistas e aumenta seu valor de mercado. O investidor gosta, o empregado padece. Se a empresa tem prejuízo, é defensável que ela adote esse tipo de política, pois empresa deficitária é um mal social.

Os fundos de previdência privada, sejam eles fechados (pertencentes aos trabalhadores de uma única empresa) ou abertos, dos quais os trabalhadores participam como cotistas, aplicam dinheiro em empresas de capital aberto e pressionam os gestores para a busca de mais e mais lucros, a fim de elevar a remuneração das aplicações feitas pelos cotistas, que são os trabalhadores.

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De um lado, os trabalhadores são os empregados que sofrem cortes e demissões. De outro lado, esses mesmos trabalhadores são os cotistas dos fundos de previdência que aplicam seu dinheiro nas empresas e pressionam os executivos para cortar, demitir e lucrar mais. Isto é, nesse aspecto, os trabalhadores são os algozes de si mesmos. Claro que isso não vale para milhões de empresas pequenas ou médias que não têm nenhum fundo de investimento ou de previdência como acionista.

No Brasil, por exemplo, os fundos de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, da Petrobras, da Copel, do Bradesco e outros são acionistas de grandes empresas como o Itaú, a Eletrobras, o Bradesco, o Banco do Brasil e muitas outras companhias. Esses fundos de previdência de empregados de grandes empresas estatais ou privadas vivem pressionando as organizações das quais eles têm ações para que aumentem seus lucros.

De um lado, os trabalhadores são os empregados que sofrem cortes e demissões. De outro lado, esses mesmos trabalhadores são os cotistas dos fundos de previdência que aplicam seu dinheiro nas empresas e pressionam os executivos para cortar, demitir e lucrar mai

Em resumo, os trabalhadores são vítimas em um mundo que muda a toda hora, as empresas vivem sob a instabilidade, negócios nascem e morrem todos os dias, de forma que a permanência no mesmo emprego é curta e demitir pessoas é um ato corriqueiro da gestão empresarial. Mas esse mundo – que os trabalhadores, na condição de empregados, criticam e repudiam – é forjado em parte pela pressão dos próprios trabalhadores por meio de seus fundos de pensão e previdência.

O mundo evoluiu, a expectativa média de vida subiu muito, mas benefícios novos impõem problemas e desafios novos. Por exemplo, apenas 300 anos atrás, a vida era cruel. O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) disse: “a vida é desagradável, brutal e breve”. Naquela época, 25% dos recém-nascidos morriam de frio, fome e doenças antes de completar seu primeiro aniversário; mulheres morriam durante o parto; o mundo era domina­do pela escuridão após o sol desaparecer no horizonte.

Os problemas atuais são leves comparados às tragédias enfrentadas por nossos antepassados de poucos séculos atrás. Mas a humanidade saiu de 1 bilhão de habitantes em 1830 e fechou 2022 com 8 bilhões, de forma que a dimensão dos problemas é gigantesca. Precisamos falar disso e buscar as soluções.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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