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Desde o começo do século 18, iniciado em 1701, o mundo percorreu 323 anos que configuram o tempo de maiores mudanças de toda a história. Estando no 24.o ano do século 21 – o quarto século da série a que me refiro –, o mundo está diante das mais radicais transformações de todos os tempos.
Esses quatro séculos de profundas mudanças apresentam alguns aspectos específicos e peculiares. O século 18 foi o mais revolucionário, a começar pela Revolução Inglesa, que atingiu seu ápice em 1688 e produziu transformações políticas nas décadas e séculos seguintes.
Na esteira da Revolução Inglesa, vieram as transformações liberais que puseram fim à soberania e inimputabilidade dos reis soberanos, e a liberdade foi num crescendo até se tornar o pilar da economia capitalista e do regime político sob o comando do povo, a democracia.
O século 18 presenciou também a Revolução Americana, em 1776, que libertou os Estados Unidos da condição de colônia da Inglaterra; e a Revolução Francesa, em 1789. Apenas esses três eventos históricos são suficientes para justificar o título do século 18 como o “século mais revolucionário”.
A grande transformação do século 19 veio com o que podemos chamar “segunda revolução tecnológica moderna”, com a invenção do motor a combustão interna, a indústria do petróleo, a água tratada, o telefone e, principalmente, a eletricidade
Na sequência, o mundo adentrou o século 19 consolidando a Revolução Industrial que, entre 1815 e 1840, produziu significativa evolução da máquina a vapor, da estrada de ferro, do trem de ferro e, na sequência, da navegação marítima, que se expandiu com o navio a vapor.
Entre 1750 e 1840, a Revolução Industrial estava dada e, com ela, a primeira revolução tecnológica moderna. Mas a grande transformação do século 19 veio com o que podemos chamar “segunda revolução tecnológica moderna”, com a invenção do motor a combustão interna, os veículos automotores, a indústria do petróleo, a água tratada encanada, o telefone e, principalmente, a maior de todas as invenções: a eletricidade.
Com isso, o século 19 foi o mais inventivo, quando o impacto sobre a produtividade econômica (produção por hora de trabalho) teve sua maior taxa, em larga medida devido à contribuição da eletricidade para a revolução da produção e da produtividade, e também devido à invenção do automóvel e do combustível vindo do petróleo.
Entramos no século 20, o mais violento deles. Embora tenha sido uma época de inovações e tecnologias disruptivas – portanto, um século altamente inventivo –, o século 20 foi o mais cruel e sanguinário, e exterminou milhões de vidas humanas em guerras e revoluções políticas, principalmente nas revoluções comunistas.
O estrategista de política externa Zbigniew Brzezinski (1928-2017), que foi conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos na gestão de Jimmy Carter, entre 1977 e 1981, elaborou um relatório chamado As Megamortes, no qual ele listou 243 conflitos militares no século 20, que teriam resultado em 187 milhões de mortes. Esse número foi contestado, porque nele constavam 20 milhões de mortes pelo regime comunista chinês de Mao Tsé-tung, de 1949 a 1976, e relatórios posteriores informaram que os mortos foram 70 milhões. Assim, as megamortes somariam 237 milhões, das quais 100 milhões nas experiências comunistas.
Apesar de violento, o século 20 foi muito inventivo; nesse período foram inventados o rádio (1920), o avião a jato (1939), o computador (1945), o telefone celular (1973), a internet (1989) e outros tantos mais.
Chegamos ao século 21, que caminha para a metade de sua terceira década. A marca atual é a aceleração da quarta revolução tecnológica moderna, com invenções e inovações em diversos setores: biotecnologia, inteligência artificial, farmacologia, máquinas inteligentes, robôs cognitivos, metamateriais, cura de doenças etc.
Embora tenha sido uma época de inovações e tecnologias disruptivas – portanto, um século altamente inventivo –, o século 20 foi o mais cruel e sanguinário
O século 21 caminha para ser o século de maiores transformações, inclusive na área demográfica que, segundo os mais recentes estudos, pode levar a população mundial aos 9,4 bilhões de habitantes até 2050 e ver essa mesma população cair a pouco mais da metade em 2100, ficando em torno de 4,7 bilhões.
Para um mundo que chegou a 1 bilhão de habitantes em 1830 e, apenas 192 anos depois, tinha 8,1 bilhões de pessoas, a previsão de que a população possa cair à metade em 2100 é uma mudança gigantesca, cujas consequências reais são de difícil previsão.
Esse assunto é complexo e merece análises mais profundas, mas o fato é que os quatro últimos séculos – incluindo o século 21, que está em seu começo – dividiram-se em maravilhas científicas criadoras de alegria e bem-estar, de um lado, e de muito sofrimento e sangue, de outro lado. Esses quatro séculos viram o mundo desabrochar em montanhas de riquezas sob a genialidade humana, mas também em enormes guetos de pobreza e morte sob a estupidez dessa mesma humanidade.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos