Quando estourou a crise financeira mundial em 2008-2009, procurei estudar as causas e consequências daquela crise, pelo menos o suficiente para me julgar em condições de opinar e escrever a respeito. Demorei um pouco para me sentir confortável em sair falando. A despeito de eu ter sido diretor e presidente de banco, ter ocupado funções em finanças no setor privado e no setor público, e muitos anos atuando como professor de Teoria Econômica e Finanças, a crise veio carregada de complexidades que me obrigaram a gastar bom tempo estudando o assunto.
Naqueles anos, a taxa de desemprego aumentou em grande parte do mundo e, como sempre acontece, houve uma avalanche de artigos e palestras sobre o mundo do trabalho e o futuro do emprego. Na esteira desse movimento, surgiram as costumeiras publicações, artigos e e livros, dando receitas para obter sucesso profissional como empregado, profissional autônomo ou empreendedor.
As receitas fáceis e simplistas sempre me incomodaram, no mínimo porque o ser humano é um animal complexo, diferente e único, logo, não acredito em receita única e válida para todas as pessoas. Também sempre me incomodou o conhecido discurso sobre a gestão de pessoas nas empresas, dizendo coisas como: “Nosso maior ativo é nosso capital humano” ou “em nossa empresa, somos uma família”. Isso me soa como demagogia.
Penso que esse discurso, ademais de ser falso, é também desnecessário, pois, tratar bem os empregados, respeitá-los, oferecer bom ambiente de trabalho e cumprir as normas legais é atitude obrigatória de qualquer gestão civilizada. Vale mencionar que as ações gerenciais no mundo do emprego seguem leis econômicas e estão submetidas aos imperativos da competição e da eficiência, acima do discurso de que empresa é família.
Empresa deve ser instituição honesta e humana, mas não é família. Diante de uma crise (como a que estamos ainda metidos devido à pandemia), as empresas simplesmente demitem e o fazem no pior momento da vida das pessoas. Há um conflito dramático, pois, se não agirem com racionalidade e priorizando a sobrevivência financeira da organização, o resultado é a falência, e aí não se salva emprego nenhum. Habitualmente, ironizo dizendo que, na crise, família não demite o filho, divide o bife. Empresa demite.
Mas, voltando às receitas simplistas para o sucesso, refiro-me a um livro que me caiu nas mãos naquele ano de 2009, chamado “Derrubando Mitos”, de Phil Rosenzweig, ex-executivo empresarial que se tornara consultor e professor na cidade de Lausanne, na Suíça. Dele, extraí uma frase apropriada. “O sucesso nos negócios é algo de natureza indefinida”, disse o autor.
Esse livro, apesar de publicado há 14 anos, mantém-se atual e merece ser lido por quem queira melhorar seu entendimento do assunto e, principalmente, por quem pensa ter descoberto a receita de sucesso nos negócios e na carreira. Muitos são os consultores, escritores, executivos e palestrantes que dizem conhecer a receita do sucesso. Mas, ainda que digam coisas úteis e válidas, não há fórmulas mágicas nem receitas gerais para explicar por que algumas empresas ou pessoas têm sucesso e outras fracassam.
Habitualmente, ironizo dizendo que, na crise, família não demite o filho, divide o bife. Empresa demite
Senti-me confortado lendo o livro, porque penso que há vários caminhos que levam ao sucesso, como há vários que levam ao fracasso. E como dizia Aristóteles, “o homem é o homem e suas circunstâncias”. Ignorar a influência do momento, do contexto e do acaso no destino do sucesso ou do fracasso é simplificar a coisa.
Existem princípios aplicáveis no alto desempenho empresarial ou pessoal. Porém, cada organização e cada profissional acabam fracassando ou tendo êxito com vários ingredientes próprios. O caminho que leva ao paraíso é cheio de ramificações, atalhos e ocorrências favoráveis, que surgem, por vezes, independentemente da vontade ou da ação dos líderes.
O livro “Derrubando Mitos” afirma que a receita única do sucesso ou do fracasso não existe. Pode ser agradável ler e ouvir gurus e palestrantes dando receitas prontas, que trazem conselhos válidos, mas não são suficientes para levar ao sucesso em um mundo complexo. Em geral, a receita tem de ser personalizada, segundo as peculiaridades do caso, as características pessoais do agente e as circunstâncias do ambiente interno e externo. Vale a pena pensar sobre isso.
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