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Signo, significado e referente
| Foto: BioPic Photos/Pixabay

Em algum momento da evolução, o ser humano percebeu sua enorme capacidade de emitir sons e fazer variá-los. Imagino que houve um momento quando o homem começou a brincar com o som que saía de sua boca e formou as oito vogais: a, ã, é, ê, i, ô, ó, u, para depois usar os movimentos da língua, dos lábios e das narinas e produzir as consoantes.

Dali em diante, a extensa combinação de sons, sílabas, palavras e frases deu ao ser humano essa estrondosa habilidade de comunicação verbal, formação de raciocínios, técnicas de argumentação e expressão de sentimentos. Nosso alfabeto contém 27 letras que, combinadas, permitem milhões de sons e expressões. Um dicionário da língua portuguesa tem mais de 300 mil verbetes e milhões de sinônimos, antônimos, adjetivos, advérbios e acepções.

No processo de falar, dialogar e se comunicar, o ser humano faz uso dos “signos”, entre eles as palavras, sozinhas ou conectadas com outras. Signo é um elemento vocal, sonoro, fotográfico ou simbólico, percebido pelos sentidos: fala, olfato, visão, audição e tato. Tudo o que pode ser captado pelo ser humano e percebido constitui o conjunto de signos.

É comum pessoas debaterem apenas no mundo dos signos e dos significados sem o referente. E aí o debate fica pobre

A mente recebe o signo e o interpreta para dar-lhe um significado, que é uma explicação por palavras sobre atributos essenciais e acidentais da coisa referida (o referente). Porém, isso não é tudo. A comunicação, com seus signos e significados, refere-se a algo do mundo real, a um referente, que pode ser um objeto concreto, um objeto abstrato, as sensações e as emoções.

É comum pessoas debaterem apenas no mundo dos signos e dos significados sem o referente. E aí o debate fica pobre. Por exemplo, se eu pronuncio a palavra “cavalo”, essa palavra (signo) tem um significado; se meu interlocutor não o conhece, ele pode descobri-lo pesquisando as palavras num dicionário e compreendendo a junção delas em frases, orações e períodos. Até aqui, podemos saber o significado de “cavalo” e descrever o animal referido, mas ainda não temos o referente.

Assim, a comunicação ainda não está completa, pois, além de não termos examinado o referente, mesmo quando ele, o cavalo, seja colocado diante de nós, o máximo que vemos e percebemos dele é seu aspecto exterior. Os elementos e aspectos internos que existem além da pele externa do animal não estão visíveis. Os órgãos do cavalo, o tamanho, a composição e as funções biológicas dos órgãos não são percebidos apenas porque estamos vendo o animal.

O referente (cavalo) é mais complexo em sua plenitude. Talvez, se visse a dissecação de um cavalo, você se surpreenderia com tudo que há dentro dele, seus órgãos e como tudo funciona. Ainda assim, como observador você está longe de conhecer o objeto observado em toda sua inteireza, a começar pelo fato de que você verá, no animal, aquilo que é igual em todos os cavalos: seus atributos essenciais, mas não seus atributos acidentais (específicos dele).

Os objetos têm atributos essenciais e atributos acidentais. Por exemplo, você não é capaz de dizer se o cavalo sabe nadar, qual a sensibilidade dele ao frio, não sabe se ele está com fome e por aí vai. Se vou analisar um cavalo e vejo que ele está em cima de um prédio ou dentro de um caminhão, essa posição dele no espaço é acidental, não permanente.

Muitas discussões são meras polêmicas sobre signos e significados que não dizem nada sobre o referente. Na política é comum esse tipo de debate, em que o referente não é nada daquilo que foi citado pelas partes, mas é outra coisa diferente, descoberta quando o referente é examinado presencialmente em seus atributos essenciais e atributos acidentais.

Muitas discussões são meras polêmicas sobre signos e significados que não dizem nada sobre o referente

Esses aspectos todos, que podem parecer uma chatice para muita gente, são os elementos teóricos e complexos resultantes dessa característica maravilhosa do ser humano: a fala e a comunicação que somos capazes de fazer com ela. A genialidade humana pegou tudo isso, criou símbolos e construiu a possibilidade de comunicação sem o uso de sons: a escrita.

Nesse ponto reside um dos maiores feitos do animal humano, que precisou de milhões de anos para conseguir a evolução fisiológica e mental capaz de nos dar recursos e atributos emanados de nosso corpo e nosso cérebro – e também do espírito, para quem acredita em alma e na existência de um espírito imortal.

Esses aspectos, longe de esgotar o problema, mostram o quanto devemos aumentar nossa humildade intelectual à medida que crescemos nos estudos e no conhecimento. Só os ignorantes não têm dúvidas.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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