Acabou o “voto impresso”, pelo menos no futuro próximo e enquanto o Supremo Tribunal Federal não permitir que se toque no assunto, mas, tanto quanto se saiba, as eleições de 2022 continuam de pé. Como o eleitor terá de votar, então, para estar quites com os desejos do STF e com o “sim senhor” que os ministros receberam, mais uma vez, da Câmara dos Deputados? Aparentemente, deveria ser tudo igual à última vez: voto eletrônico puro, simples e idêntico ao do Butão e de Bangladesh, como querem o ministro Barroso e seus colegas. Talvez não seja.
Votada a proposta de mudança — que obteve maioria de 229 a 218 votos no plenário da Câmara, mas ficou abaixo dos 308 necessários para a aprovação — começou uma conversa a respeito de se fazer “alguma coisa” para tentar apaziguar um pouco os ânimos de quem queria dar mais segurança ao sistema de votação.
É coisa dos políticos; os ministros podem ou não concordar com as propostas que serão levadas a eles pelos “conciliadores” e permitir uma mudançazinha aqui, outra ali, e disso não passa. A esperança é diminuir o clima de descrédito que se criou quanto à honestidade da apuração. Quem sabe, mexendo um pouco, o eleitor acaba desconfiando menos — ou, o que é mais provável, esqueça do assunto, até porque não pode fazer nada a respeito? A ver.
O apoio ao voto eletrônico tipo Barroso-STF, na verdade e no fim das contas, acabou ficando muito abaixo das expectativas que havia em torno dele; esperava-se, em clima de festa cívica, uma “derrota acachapante” para a turma do voto “impresso”. Na hora de contar os votos deu o oposto. Houve 229 votos a favor da mudança, um número que a mídia, os analistas políticos e as mesas redondas não esperavam — e, agora, a cacicada dos partidos está tentando fazer algum gesto para demonstrar que registrou o golpe.
Fala-se, assim, em tentativas de aumentar o número de urnas que têm os seus votos verificados, num sistema de amostragem feita ao acaso — hoje são apenas 100, num total de 400 mil.
Foi cogitado algum tipo de reforço nos testes prévios contra fraudes que o TSE realiza nos anos de eleição. Sugere-se aumentar os prazos de trabalho para os exercícios de fiscalização feitos por equipes de técnicos e auditores independentes. A ideia, nessas e em outras coisas, é mostrar que a Justiça Eleitoral está atenta às possibilidades de roubo no jogo.
Para o governo, que tanto falou na exigência de eleições limpas e acusou a ocorrência de fraude na apuração das últimas eleições, chegou a hora da verdade — ou seja, a hora de trocar discurso por trabalho duro. É indispensável, o mais cedo possível, concentrar todo o formidável aparato tecnológico a serviço do governo no acompanhamento de cada centímetro da caminhada a ser feita pelo sistema até o dia da eleição — e estar pronto para verificar a limpeza da apuração.
Ninguém, no Brasil, tem tanta capacitação digital para fazer esse serviço quanto os centros de tecnologia mais avançados do Estado brasileiro, incluindo os das Forças Armadas. É hora de colocar esta máquina em funcionamento.
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