A grande maioria dos políticos brasileiros, seja na Câmara dos Deputados, no Senado Federal ou em qualquer outra esfera da vida pública, raramente perde a oportunidade de privatizar cada vez mais a máquina do Estado e o uso dos impostos em favor das castas que são realmente as donas do Brasil — a começar pelos servidores públicos e, entre esses, pelos que ocupam os galhos de cima da árvore. É só olhar as decisões que tomam. A cada uma delas, a cada dia, se comprova que o cidadão brasileiro é quem serve aos servidores, e não o contrário; os servidores, sempre, são os servidos. O país está oficialmente condenado a trabalhar para eles.
É óbvio que o cidadão que mais paga por isso é a massa imensa de pobres que compõe a maior parte da população do país — qualquer conta paga em partes iguais por todos vai pesar mais, matematicamente, no bolso dos que têm menos. Acaba de acontecer de novo.
Mal haviam aprovado a aberração da nova “Lei Eleitoral” — pela qual, entre outros crimes legalizados, deram a si próprios o direito de comprar até imóveis com o dinheiro do “Fundo Partidário” — os deputados federais mataram a pauladas o projeto de reforma administrativa com a qual se tentava diminuir, da maneira mais moderada possível, uma pequena parte dos privilégios, da proteção e dos absurdos, tudo pago pelos impostos extorquidos diariamente da população, que beneficiam há décadas o funcionalismo público.
Não há nada nas decisões tomadas pelos deputados, absolutamente nada, que sirva a algum interesse do homem comum. Tudo, em cada detalhe, foi feito para servir ao servidor e deixar ainda mais claro que o Brasil tem dois tipos diferentes de cidadãos. Um deles, o funcionário de Estado, tem mais direitos que o restante da população. Pior: a minoria mais bem paga tem mais direitos ainda, o que torna a sociedade brasileira um caso extremo de desigualdade promovida oficialmente pela lei e pelo Estado.
A reforma administrativa, entre modestíssimas mudanças, propunha que daqui para diante os novos servidores públicos, a serem contratados por concursos que ainda nem foram feitos, não tivessem o privilégio irracional da estabilidade do emprego, algo que não existe e jamais existiu para os demais 220 milhões de brasileiros. Nem se pensou, é claro, em mexer nos atuais funcionários, que continuarão tendo todas e cada uma das vantagens das quais desfrutam no momento; era só para quem entrasse daqui para frente.
Da mesma forma, se procurava defender o pagador de impostos de outros disparates que hoje beneficiam as castas do serviço público — não se tiraria um milímetro de nada do que o funcionalismo atual já tem, apenas os novos passariam a ser tratados como o brasileiro comum. Nada feito. É proibido não só mexer no presente; é proibido, também, melhorar o futuro. Os deputados decidiram que o privilégio, a injustiça e a diferença de classe têm de continuar exatamente como são hoje, para sempre.
Os políticos que mandam na sociedade brasileira podem estar dispostos a tudo — aceitam até que um deputado federal em pleno exercício do seu mandato esteja preso por força de um inquérito totalmente ilegal do STF. Mas não permitem que se toque em nada que possa afetar a privatização do Estado brasileiro — que se torna, cada vez mais, a propriedade privada das minorias que vivem às custas da população.
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