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J.R. Guzzo

J.R. Guzzo

Comissão parlamentar

CPI é sinônimo de farsa, chantagem e perda de tempo

Senador Omar Aziz (PSD-AM) deve presidir a CPI da Covid com apoio da base governista.
Futuro presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM) colocou nas costas do governo a "culpa" pela entrada do coronavírus no Brasil. Mas qual país conseguiu impedir isso? (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad)

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Comissões parlamentares de inquérito, de qualquer nível e para qualquer finalidade, são possivelmente o maior clássico em matéria de fraude que a vida pública brasileira criou nos últimos 500 anos. Ao contrário do boi, nada se aproveita de uma CPI.

Jamais as investigações de deputados e senadores investigam realmente alguma coisa e, com certeza, jamais descobrem o que os seus criadores e participantes prometem descobrir. Na melhor das hipóteses, são pura perda de tempo e desperdício acintoso de dinheiro público. Na pior, e mais frequente, são apenas uma ferramenta para se fazer chantagem. Em qualquer dos casos, CPI é sinônimo de farsa, e farsa de terceira categoria. Um drama de circo teria vergonha de oferecer ao distinto público algo tão ruim.

Mesmo com esse histórico, a CPI inventada agora para “apurar responsabilidades” na administração da Covid promete ser um exagero em matéria de hipocrisia, desonestidade e mentira pura e simples. Não há absolutamente nada de concreto e objetivo a apurar – salvo, é óbvio, a única coisa que realmente deveria ser apurada: a roubalheira desesperada à qual estados e municípios se dedicam há mais de um ano, desde que receberam do STF a autonomia total para cuidar da epidemia e, por força da situação de emergência, ganharam o direito de fazer compras sem licitação.

Mas essa investigação, justamente, os parlamentares que agem no submundo do Congresso não querem fazer. Ladroagem e incompetência, só se for federal; a corrupção que de fato existe, a estadual e municipal, tem de continuar protegida.

Nada representa tão bem o espírito da coisa quanto as ameaças feitas por um dos pretendentes mais agitados à presidência da CPI. É uma obra prima. O homem, representante do Amazonas, afirmou em público — e foi levado altamente a sério por muito jornalista — que o governo federal “não fez nada para evitar a entrada do vírus no Brasil”. Acredite se quiser: foi isso mesmo o que ele disse, e é em cima dessa razão que ele quer processar o governo, certamente por genocídio.

Como assim, “não impediu”? E qual dos 200 países do mundo conseguiu impedir? Estados Unidos? Inglaterra? Austrália? A Europa supercivilizada? A África? O que ele sugere como explicação para os 3 milhões de mortes que a Covid causou no mundo até agora?

A estupidez, como se sabe desde sempre na política brasileira, é livre. O curioso é a ligeireza que os colegas do deputado e o resto do “Brasil que pensa” dedicam a surtos como esse – hoje em dia está valendo tudo, decididamente. Para coroar o seu desempenho, o candidato a chefe dessa nova farsa disse que não cederia a “pressões” para incluir os estados e municípios na CPI. É claro que não: seu estado, o Amazonas, é um daqueles em que mais se roubou por conta da epidemia.

Manaus descobriu-se de repente sem balões de oxigênio — pela simples razão de que os governos locais, que têm a responsabilidade direta pelo sistema hospitalar público, só foram se lembrar do problema quando as pessoas estavam morrendo por falta de ar. Mas o deputado não aceita “pressões”. CPI, só nos outros.

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