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O presidente Jair Bolsonaro, nesses últimos tempos, deve ter se habituado a esperar os fins de semana com a ansiedade alegre de quem espera uma festa. Domingos, ou sábados, dependendo do lugar, têm sido dia de carreata para pedir o “impeachment” – e o fato é, que até agora, a única coisa que cada carreata dessas conseguiu provar é que ninguém está querendo impeachment nenhum, ou tão pouca gente diz que quer, mas tão pouca gente, que acaba dando mais ou menos na mesma.
Supõe-se que o presidente da República tenha mais o que fazer do que ficar vendo vídeos de celular ou selfies das demonstrações. Mas se olhar para o que lhe mandam verá que as carretas têm pouco carro, pouca gente e nenhuma semelhança com nada que possa ser descrito como presença de “massas” na rua. Resultado: a cada fim de semana, é como se ele comemorasse mais uma pesquisa de aprovação dos institutos de sempre.
Sempre é possível que, um dia, as carreatas que pedem o impeachment coloquem até 500.000 pessoas na rua, e todas a pé, como ocorreu nos tempos que antecederam o despejo de Dilma Rousseff do Palácio do Planalto. Aí sim, vai ser possível dizer que o povo está em revolta e que o mandato do presidente entrou em liquidação extrajudicial. Mas é preciso andar depressa com isso. Nesse ritmo, o presidente vai acabar seu primeiro período legal antes que a esquerda consiga juntar um mínimo de gente na praça pública.
Em Brasília, neste último fim de semana, os esforços pelo impeachment (agora, por causa da vacinação, depois de 60 pedidos oficiais que não deram em nada), foram especialmente cômicos. No mesmo momento em que alguns carros faziam o protesto, a poucos metros de distância, na Câmara e no Senado, os únicos que podem decidir o impeachment na vida real – deputados e senadores – estavam fazendo exatamente o contrário: acertavam os últimos detalhes para eleger os nomes preferidos pelo governo para a presidência do Congresso.
É duro, nesta vida, o sujeito apostar suas fichas em figuras como o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que “reinventou” a si próprio como líder “antifascista” e que ultimamente tinha se tornado a grande esperança dos inimigos de Bolsonaro. Quando a grande esperança é esse tipo de figura, qualquer projeto vai para o saco. No fim, depois de acreditar que dariam um golpe e ele seria reeleito presidente da Câmara - projeto que deu em três vezes zero - o homem não conseguiu os votos nem do seu próprio partido para o candidato da “oposição”.
No Senado a esperança de quem quer ver o presidente fora do Planalto foi uma “candidatura avulsa”. Até crianças com dez anos de idade sabem que, em política, todas as vezes em que aparecem juntas as palavras “candidatura” e “avulsa” podem chamar o padre para dar a extrema unção. Não há carreata no mundo, desse jeito, que consiga resolver o problema.