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J.R. Guzzo

J.R. Guzzo

Para governo, o grande desafio da calamidade no RS é melhorar imagem de Lula

Presidente Lula com Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, na quinta (2).
Presidente Lula com Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, na quinta (2). (Foto: Foto: Ricardo Stuckert / PR)

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Nada poderia ser mais desolador para o Rio Grande do Sul e o seu povo do que a coreografia montada pelos governos diante da tragédia trazida pelas cheias. É mais um dos grandes momentos na história da simulação de atividade no Brasil – o esporte mais praticado pelas autoridades públicas deste país para fingirem intensa operosidade, eficácia e consciência quando, na verdade, não estão fazendo nada.

O presidente da República se desloca pessoalmente para o teatro de guerra. Tira foto olhando pela janela do helicóptero para o desastre que se vê abaixo. Veste um colete de quem está na linha de frente das operações de socorro, como se fosse entrar na água dali a um minuto para salvar alguém. Leva treze ministros com ele para sua visita ao estado, não menos que treze, mais os presidentes da Câmara e do Senado, para o papel de papagaio de pirata em coletiva de imprensa. Leva junto, até mesmo, um incompreensível Edson Fachin – pelo jeito, agora, também o STF tem de ter o seu representante nesse tipo de coisa. Somados, produziram três vezes zero em matéria de serviço útil. Chegaram mudos e foram embora calados, provavelmente para não voltar mais.

Ninguém está dando a mínima para a calamidade. O que interessa é saber se Lula “ganha” ou “perde”.

Os analistas políticos se admiram da genialidade de Lula em perceber que tinha acontecido uma tragédia e que seria bom para a sua imagem ir, pessoalmente, até o Rio Grande do Sul carregando consigo aquele cardume de peixes graúdos – quanto mais peixe graúdo, na estratégia de comunicação do governo, maior é a aparência de que estão todos trabalhando para salvar a população gaúcha.

É este, na visão geral, o grande desafio que as enchentes trazem para o governo Lula: como fica a sua imagem. Ninguém está dando a mínima para a calamidade. O que interessa é saber se Lula “ganha” ou “perde”. São as ideias fixas de um governo sem povo, de um partido sem apoio e de um presidente que não pode caminhar 50 metros em nenhuma rua do país que preside. Fora do perímetro urbano de Brasília, dos Palácios do Planalto e da Alvorada e dos regabofes da nobiliarquia local, o mundo não existe. Quando ele tem o mau gosto de aparecer, como no caso das enchentes do Rio Grande, a reação automática é pegar o controle remoto e apertar na tecla “desliga” – ou seja, jogar em cima do público a ficção de que está fazendo o seu dever. Não está fazendo nada que preste, e há indícios de que esteja atrapalhando.

A contribuição da ministra do Meio Ambiente, por exemplo, foi dizer que a culpa pelo desastre é de Bolsonaro. O presidente do Senado ofereceu a ajuda do seu “corpo técnico” – vai mandar o encanador da casa para o Rio Grande, talvez? A Receita Federal anuncia que as doações estrangeiras para as vítimas estarão isentas de imposto – que generosidade extrema, não? O Ministério da Justiça está absorvido na caçada aos divulgadores de fake news. O Tribunal de Contas da União teve a ideia de enviar o seu presidente na comitiva monumental de Lula ao local da tragédia; permanece um mistério qual poderia ser a utilidade, mesmo que indireta, da sua presença.

Até quando acerta o governo erra, ou acerta por linhas erradas. A ministra do Planejamento disse que o dinheiro da ajuda federal não chegará “agora”; o dinheiro dos cidadãos e empresas privadas chega todos os dias via pix. É razoável, porque ainda não há clareza para onde mandar a ajuda financeira, para quem e para o quê. Mas ninguém se lembrou de ponderar para a ministra que talvez não fosse a melhor hora para se dizer uma coisa dessas em público? É, como sempre, o clássico passeio ao acaso.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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