O governo do presidente Lula ganhou nesta última terça-feira a maior oportunidade que já teve, desde sua reencarnação mais recente, para ser apresentado à vida real. A demora não foi por culpa dela, a realidade. Os fatos sempre estiveram na frente de Lula, prontos para serem recebidos em audiência, mas a sua existência nunca foi reconhecida – e o resultado é que o presidente passou o último ano e meio vivendo dentro de um mundo imaginário.
O principal desses fatos, para resumir a opera, é que Lula faz um governo horrível. Pelas regras da lógica comum, governo ruim é a mulher de César ao avesso: não apenas é ruim, mas parece ruim. Aí, a menos que haja uma ditadura em que o povo cala a boca e obedece ao ditador, cada vez mais gente vai percebendo a combinação de incompetência, vigarice e desonestidade em massa a que está submetida. É óbvio que uma hora vai dar problema.
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E acaba de dar: num único dia, Lula foi transformado em paçoca ao levar a maior surra que o seu governo já teve até agora no Congresso. O veto que queria manter, como questão de honra, foi exterminado por 314 votos contra 116. (Do Senado, então, é melhor nem falar nada: perdeu de 52 a 11.) O veto que queria derrubar, vindo do governo anterior, foi mantido por 317 votos a 139.
Lula queria anular a lei que restringe a “saidinha”, e que os parlamentares queriam manter. Perdeu. Queria ressuscitar a lei das fake news, que os parlamentares não queriam mais. Perdeu. Se o governo tivesse prestado mais atenção ao mundo dos fatos, não pagaria esse mico geral. A “saidinha” é uma das aberrações legais mais detestadas pela população brasileira, e foi unicamente por isso que o Congresso aprovou a lei que limita a sua aplicação. Bastaria que Lula ficasse quieto, mas não – ele teimou em ficar contra o povo e a favor dos criminosos.
A censura é uma obsessão do governo (a lei vetada tinha prisão de cinco anos para os infratores), mas o brasileiro comum não quer isso, comprovadamente; se quisesse já teria dito, e não diz. Nos dois casos, Lula não quis receber os fatos em audiência, da mesma forma como não admite as realidades de que não gosta. O resultado foi o desastre dos vetos.
O governo poderia pensar um pouco no que acaba de acontecer e perguntar a si próprio: “Será que não estamos fazendo alguma coisa errada?”. Mas apesar da grande chance que acaba de receber para corrigir seus erros, ou pelo menos alguns deles, o instinto do regime é continuar usando o erro para errar mais. Insistem em repetir que o problema não é a ruindade fundamental do governo, mas a falta de “comunicação”; quer dizer, nós somos ótimos, mas não estamos sabendo explicar isso ao público. Põe a culpa no “bolsonarismo” e na “articulação da direita”, e não no fato de que não têm força nenhuma no Congresso.
Acham que ficar traficando o orçamento com deputado e senador é ter influência; só serve para aumentar o apetite da “base de apoio”, que sabe perfeitamente bem que o governo não pode fazer nada de prático a respeito. Jogam a culpa dos fracassos na nulidade do “líder do governo” e do ministro encarregado de tratar com o Congresso – como se eles tivessem alguma possibilidade de mudar as decisões de uma Câmara onde a oposição tem mais de 350 votos num total de 513.
O governo Lula não entende, pelo que mostram os seus atos, que está em minoria incurável no Congresso – e se está em minoria, não pode impor a todos a agenda que quer para o país. Os parlamentares aceitam muita coisa que o governo quer: Cristiano Zanin e Flávio Dino no Supremo, “arcabouço fiscal”, liberação de verbas e tudo o que se sabe. Mas só aceitam aquilo que querem aceitar; é inútil insistir que façam alguma coisa que realmente não querem.
Lula e o seu sistema dão dinheiro para o Congresso e se sentem no direito, por causa disso, de exigir que o Brasil das suas preferências pessoais seja aprovado pelos congressistas. Não funciona. Querem mais terras para os índios. Querem “educação sexual” nas escolas. Querem o aborto, a linguagem neutra e a censura na internet. Querem a volta do imposto sindical. Querem reduzir a população das penitenciárias. Querem se aliar aos terroristas do Hamas e romper relações com Israel. Querem ficar contra os Estados Unidos e a favor do Irã. Os brasileiros não querem nenhuma dessas coisas, e outras mais. O Congresso também não quer. Raramente, a não ser em defesa de interesses estritamente materiais, se anima a ficar contra os desejos evidentes da população.
Lula, a esquerda e as classes intelectuais acham que o defeito básico do Brasil é o povo brasileiro. É, na maioria, uma gente de direita, conservadora, feia, que vai no templo evangélico, acredita em família e se veste de verde-amarelo quando sai às ruas. É gente que não se interessa por sindicato. É gente que não aparece nos comícios de Lula. É gente que não tem capacidade para entender as virtudes do socialismo. É isso, queira-se ou não, que a maioria do Congresso reflete – por pior que seja, continua sendo a instituição em que as pessoas têm mais chance de serem ouvidas. Não dá para trocar de povo. Não dá para fechar o Congresso, ou não deu até agora. O governo Lula parece não pensar nisso.
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