O ex-presidente Lula, candidato a voltar ao cargo nas eleições de 2022, é um homem rigorosamente bipolar quando se trata de corrupção. Numa parte do tempo, garante que nunca foi roubado um tostão em seus oito anos de passagem pela presidência. Em seus momentos de maior agitação, diz até que não existe no Brasil “ninguém mais honesto” do que ele - o que realmente não seria pouca coisa. Como essa afirmação costuma ser recebida com risadas gerais, Lula, em outra parte do tempo, diz que “foi traído” pelos companheiros, que levou uma punhalada “nas costas” e que não sabia nada da roubalheira espetacular que aconteceu em seus dois mandatos – foi, simplesmente, a maior de toda a história mundial da ladroagem, mas ele nunca chegou a perceber nada.
Em sua última manifestação pública de campanha, Lula acionou a “fase 2”. No primeiro momento, fez, sem que lhe tivessem perguntado nada a respeito, uma revelação interessante: contou que em sua estadia na presidência foi avisado com 12 horas de antecedência de uma operação de busca da Polícia Federal na casa de um irmão. Pelo que deu para entender, ele quis dizer que não interferiu no trabalho policial, mesmo sabendo das coisas. Pelo que dá para uma criança de 10 anos concluir, doze horas são tempo suficiente para o mais distraído dos irmãos preparar a melhor recepção possível para a polícia. Em seguida, fez um desafio ao radialista que o entrevistava: “Você sabe tudo o que acontece na sua casa? Você sabe o que o seu filho está fazendo”? Então: ele, Lula, também não poderia saber tudo o que acontece num governo com “1 milhão de pessoas”.
Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra, é claro. É impossível para o radialista, ou para qualquer dos 8 bilhões de seres vivos no mundo, saber tudo o que acontece em suas casas – a menos que fiquem 24 por dia trancados, ou que não tenham casa nenhuma. Com a autoridade pública, sobretudo a que pediu para ser eleita, é o contrário: o sujeito tem, sim senhor, a obrigação de saber que diabo estão fazendo em seu nome e em seu governo, o tempo todo. O sujeito é o presidente da República ou é um otário? No primeiro caso, o combate aos atos de corrupção é imediato e eficaz – faz, basicamente, que se roube pouco. No segundo caso, essa atitude de “não dá para saber” leva à maior roubalheira da história.
Com a autoridade pública, sobretudo a que pediu para ser eleita, é o contrário: o sujeito tem, sim senhor, a obrigação de saber que diabo estão fazendo em seu nome e em seu governo, o tempo todo
Os governos Lula têm a maior prova da prática de corrupção que se pode esperar de uma investigação criminal: os corruptores e os corruptos confessaram de livre e espontânea vontade os crimes que cometeram, em acordos oficiais com a procuradoria. Mais: devolveram o dinheiro roubado, ou pelo menos parte dele, no valor de bilhões de reais. Por que um sujeito haveria de devolver dinheiro se não roubou nada? Só para agradar o juiz e o promotor? Para isso Lula nunca deu uma explicação, em nenhum dos seus dois polos.
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