O presidente Jair Bolsonaro pode eliminar da vida política brasileira todos os possíveis e imaginários sucessores para o seu cargo, dentro do próprio governo ou da oposição, menos um: aquele que vai, realmente, ficar com a cadeira, a sala e a caneta de presidente no dia em que, mais cedo ou mais tarde, ele sair do Palácio do Planalto.
Não adianta nada, portanto, ficar brigando 24 horas por dia com adversários ou com suas sombras, na ilusão de que, tirando o gás de qualquer rival que julgue ter ao seu lado ou pela frente, ele ficará sozinho e soberano na corrida. Não vai ficar.
Pode até se livrar durante os próximos dois anos dos que estão no governo e que, de acordo com as suas suspeitas, queiram competir com ele nas eleições presidenciais de 2022. Pode ganhar a sua própria sucessão – mas depois disso é o fim da linha.
Vale a pena, nessas condições, viver num estado permanente de hostilidade com todos os que estão próximos – sobretudo se estão obtendo algum sucesso de imagem junto ao público – só para puxar o tapete de um possível sucessor? Tudo o que Bolsonaro está conseguindo com isso é instabilidade para o seu próprio governo.
Já brigou feio com o ex-ministro Sergio Moro, vive brigando com o ministro Paulo Guedes e agora briga a cada 15 minutos com o seu vice, o general Mourão; tudo o que o homem diz, mesmo as coisas mais sensatas do mundo, leva bordoada na hora. Deu para falar o tempo inteiro que “o presidente aqui sou eu”, etc.
Se alguém faz alguma observação vagamente crítica, sua resposta é: “Então vota no Haddad”. Ministro que quer sossego fica o mais longe possível de Bolsonaro, e tem medo de receber qualquer elogio; diz no ato que “o mérito é todo do presidente”, e tenta se proteger dos seus acessos perenes de ciúme.
Não é fácil confiar num chefe assim – principalmente se, além da oposição, de seus próprios ministros e de seus aliados, ele acha uma boa ideia chamar para a briga, também, os Estados Unidos da América. Pode até ganhar uns coraçõezinhos a mais no Twitter. Mas é bom sair logo dessa vida. Bolsonaro, se prestar um pouco mais de atenção em si próprio, vai ver que está ficando aquilo que o povo chama de “antipático”. Isso, em geral, é uma praga.
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