Nenhum governo na história da República, pelo menos é o que tentam mostrar há dois anos a Polícia Federal e o ministro Alexandre de Moraes, quis, pensou ou tentou dar tantos golpes de Estado quanto o de Jair Bolsonaro e seus ajudantes-de-ordens. Nenhum, ao mesmo tempo, conseguiu golpear tão pouca coisa de prático. O último a ser divulgado ao público pela PF e pelo ministro, que talvez se confunda com os anteriores, é descrito pela imprensa como a “Operação Punhal Verde-Amarelo”. Fiel ao método de sempre, não deu em nada.
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Uma das lembranças possíveis é um dos velhos filmes de Robert de Niro e Al Pacino nos anos 70 – The Gang That Couldn’t Shoot Straight, um quadrilha da Máfia que só conseguia atirar em si mesma. Os golpistas de Bolsonaro, basicamente, não conseguem dar o golpe. Em sua última edição, segundo as notificações que a polícia entrega e os jornalistas reproduzem como fato científico, um bando de subalternos que se apresenta como a “rataria”, conversa entre si sobre o golpe, fala no celular, faz prints de computador, discute assassinatos e, no fim, não faz nada de concreto.
O golpe do Punhal Verde Amarelo ainda resiste em grupos que continuam a combater nas primeiras páginas de alguns jornais, mas já não há o ânimo das primeiras horas
Tudo o que conseguiram foi ser presos, abafar a última crise de Janja e se verem enfiados em mais um dos inquéritos do ministro Moraes – um em que ele cita o próprio nome mais de 40 vezes. O ministro, nesta versão, continua sendo a figura central para os golpistas. Em relatos anteriores, ele era enforcado na Praça dos Três Poderes, ou fuzilado na estrada de Brasília para Goiânia. Continua sendo morto, mas desta vez os “Kids Pretos” do Exército iriam envenenar Lula, por métodos que não foram descritos. Mais extraordinário que tudo, iriam matar também o vice Geraldo Alckmin.
Há um pouco de tudo. Um dos “Kids Pretos” golpistas, a certa altura, se entusiasma com o número de adesões: “Já temos uns vinte”. Outro reclama que nas reuniões que querem fazer no Palácio do Planalto para acertar os detalhes do golpe aparece gente que atrapalha e fica dizendo que “não pode”. Um dos conspiradores não consegue ir a uma reunião porque o táxi atrasa. Outro diz que “quatro linhas é o c.” A verba para o golpe, segundo a própria PF, é de R$ 100.000.
Depois da excitação inicial, como no caso do Unabomber de Brasília, a coisa deu uma murchada. O terrorista que ia “atacar” o STF participava de uma “conspiração golpista” e não tinha, de jeito nenhum, “agido sozinho”, foi definido por Janja como o “bestão” que se suicidou com fogos de artifício – e aí o ministro e a PF ficaram a pé. O golpe do Punhal Verde Amarelo ainda resiste em grupos que continuam a combater nas primeiras páginas de alguns jornais, mas já não há o ânimo das primeiras horas.
Um dos problemas é que não deu para estabelecer um vínculo entre os Kids Pretos e o envenenamento de Lula com Bolsonaro – e sem Bolsonaro a história perde 90% da graça. Outro é que o MP, se Moraes deixar que o MP participe do processo, vai ter de suar a camisa para transformar em prova e denúncia a salada que saiu até agora da polícia.
Aguarda-se, agora, a descoberta do próximo golpe. Tem chão pela frente. Ainda faltam dois anos para a eleição de 2026.
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