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J.R. Guzzo

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Geopolítica

Queda da ditadura síria prova que Irã perdeu relevância no Oriente Médio

Um apoiador da oposição síria rasga um retrato de Bashar al-Assad enquanto celebra a tomada rebelde de Damasco. (Foto: ANDREJ CUKIC/EFE/EPA)

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Os quinze minutos de fama a que a Síria terá direito no noticiário servirão pelo menos para uma coisa: deixar claro, mais uma vez, o quanto o público pagante perde de seu tempo quando presta atenção às análises dos comentaristas internacionais - como as sobre o Irã. Se você ocasionalmente faz isso, com certeza tem lido e ouvido sobre o imenso poder militar do Irã; aliás, ninguém leva essa verdade definitiva mais a sério do que o governo Lula e o Itamaraty do ministro de fato Celso Amorim. Segundo os analistas e o governo, o regime dos aiatolás e dos assassinatos de mulheres que não usam o véu muçulmano é uma potência monumental no Oriente Médio. Tremam de medo, Donald Trump, Israel e o mundo capitalista: o Irã pode mandar todos vocês para o espaço.

A derrubada da ditadura extrema da Síria, com direito à fuga do ditador para a Rússia, saque da Embaixada do Irã e fuga miserável dos militares iranianos de “elite” que sustentavam a tirania, prova o quanto as lendas dos analisas eram apenas isso – lendas, ou, para quem preferir, mentiras de A à Z. O Irã, a potência dos aiatolás, como se vê mais uma vez, não consegue sustentar nem o ditador da Síria; na hora em que bandos de rebeldes um pouco mais competentes apertaram o regime, o Exército do Irã simplesmente fugiu do campo de batalha e largou seu aliado entregue às baratas.

Nunca ouviu uma sílaba a respeito dos 600.000 mortos, na maioria civis, da guerra civil de 20 anos na Síria, inclusive por gases tóxicos e outras armas químicas. Os especialistas em política externa têm a sua própria sintaxe, e a moral comum não faz parte dela

A potência nuclear dos analistas de política internacional já havia patrocinado o assassinato em massa de civis israelenses nos ataques feitos pelos terroristas “palestinos” no ano passado e ganhado, em compensação, as represálias que acabaram com a Faixa de Gaza. Disparou pelo menos dois ataques descritos pela mídia como “devastadores” contra Israel – só que não conseguiu acertar um único alvo com os seus mísseis de altíssimo poder destrutivo, abatidos em voo pelas defesas israelenses ou lançados em cima do nada. O Irã não foi capaz, nem mesmo, de garantir a segurança do seu próprio presidente, morto num acidente de helicóptero por falta de manutenção.

Os aiatolás também não conseguiram salvar os terroristas de outro dos seus clientes, o Hezbollah do Líbano, da destruição militar que lhes foi imposta nos últimos meses por Israel. Em suma: são uma tremenda força de resistência ao imperialismo americano nas mesas redondas da televisão, mas na hora de combater, que é bom, o que se tem é uma tristeza. Falam, falam e falam. Mas levam um pau em Gaza. Levam um pau no Líbano. Agora levam um pau na Síria. Seu problema, no fundo, talvez nem seja Israel. Do jeito que vão, podem se dar por muito satisfeitos se não forem derrubados pelos próprios iranianos – os únicos inimigos, até hoje, dos quais têm conseguido ganhar.

A Rússia, pelos resultados práticos que obtém nos campos de combate, não é muito melhor que o Irã. Há mais de dois anos invadiu a Ucrânia, um país menor que Minas Gerais e com um PIB equivalente a 20% do que tem o Brasil – e até agora não conseguiu ganhar. Na Síria foi o mesmo vexame. Há vinte anos ao lado do Irã, era a Rússia quem sustentava a ditadura agora escorraçada. Assim que a coisa ficou preta, sumiu do mapa. O máximo que se dispôs a fazer foi dar asilo ao ditador detonado. Não consegue ganhar nada – mas tem sido, e deve continuar sendo, a grande esperança de Lula, dos especialistas internacionais e do “processo civilizatório” no combate ao fascismo, à extrema direita e a tudo o que está errado no mundo.

Há pelo menos um ano você vê todos eles falarem sem parar no “genocídio” que Israel estaria cometendo contra os palestinos. Nunca ouviu uma sílaba a respeito dos 600.000 mortos, na maioria civis, da guerra civil de 20 anos na Síria, inclusive por gases tóxicos e outras armas químicas. Os especialistas em política externa têm a sua própria sintaxe, e a moral comum não faz parte dela. 

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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