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Poucas coisas são tão difíceis no Brasil de hoje quanto obter alguma decisão justa, ou pelo menos razoável, por parte do Supremo Tribunal Federal. É uma calamidade, assim, que nesses raríssimos momentos em que o STF emite um modesto sinal de luz no meio da sua própria treva, apareça um monte de gente caindo de pau em cima – e a decisão correta, então, passa a ser imediatamente atacada como um crime de lesa-pátria pelo consórcio que age todos os dias para manter em estado de coma a sociedade brasileira.
O ministro Kassio Nunes Marques, dias atrás, liberou parcialmente os templos brasileiros para a celebração de cultos religiosos – naturalmente, uma liberação limitada e sujeita à observação de todas as exigências de “segurança sanitária” que foram sendo criadas nestes tempos de covid. Foi como se o ministro tivesse liberado o assassinato em massa dos recém-nascidos. Um partido-anão, desses que vivem às custas do “fundo partidário” e de outras trapaças legais, “autoridades locais” cada vez mais enraivecidas com seu fracasso na gestão de uma epidemia que já matou 320 mil pessoas, e pelo menos um ministro do próprio STF entraram em mais uma crise de nervos – e querem, agora, anular a decisão do ministro Kassio.
Tudo o que ele fez foi permitir que as pessoas possam, com todos os cuidados do “distanciamento social”, ir um pouco à missa, assistir um batizado ou participar da oração nas igrejas evangélicas. Nem isso? Não, nem isso. O partido-anão, que tem dirigentes que já foram comunistas e hoje não são nada, as “autoridades locais” e o resto acham que botar o pé numa igreja, no país totalitário que querem criar com a desculpa de combater a covid, é uma ameaça social que tem de ser reprimida com todos os rigores da força do Estado.
A ofensiva contra a decisão é o pior ataque já feito desde o início da quarentena contra um dos mais sagrados direitos fundamentais do ser humano, vigente no Brasil desde o imperador Dom Pedro II – a liberdade de religião, uma garantia universal, elementar e indiscutível em qualquer sociedade minimamente democrática.
Os militantes da covid falam, a respeito deste tema e de qualquer outro, que querem “salvar vidas”. Mentira. A cada dia fica cada vez mais claro que usam a epidemia para impor, através da promoção do pânico, um regime político sem direitos individuais e liberdades públicas, no qual o livre arbítrio do cidadão é abolido e o Estado ganha o poder de decidir como cada pessoa tem de viver – em nome da “vida” e do “bem comum.”
A covid transformou-se hoje numa ferramenta política. Muitos dos que exigem todos os dias as medidas mais extremas para paralisar o país estão pouco ligando, na verdade, para os efeitos reais da tragédia – falam em “salvar vidas”, mas o que querem na prática é satisfazer os seus próprios desejos. Estão convencidos de que a epidemia é a melhor oportunidade que jamais tiveram para conseguir ganhos políticos pessoais, que se expressam na imposição de ideologias e no controle da máquina do Estado. Não vão parar com a vacina.
Querem um “novo normal”. Querem um país onde grupinhos de médicos e de burocratas decidem se o sujeito pode ajoelhar num banco de igreja. Querem o poder de fechar shopping centers. Querem proibir a venda de carvão, o trabalho dos barbeiros e a degustação de esfihas. Querem ter o monopólio dos alvarás, das licenças e do resto do papelório através do qual se fecha ou se abre um negócio. Querem “requisitar” bens “móveis e imóveis”. Querem autuar, multar, prender, algemar e espancar pessoas que não cometeram crime nenhum – aliás, fazem isso todos os dias, no país inteiro. Querem um Ministério Público calado e uma imprensa obediente aos protocolos que impõem – e por aí afora. O resto é pura conversa.